Hoje é a vez da Europa, amanhã vai calhar à China

Maarten_Jan_Bakkum
Cedida

A forte correção registada nos mercados financeiros nas primeiras semanas de outubro está relacionada principalmente com motivos de preocupação com a Europa. Os investidores estão a  dar-se conta de uma desaceleração do crescimento na Zona Euro, enquanto os riscos de deflação aumentam e a classe política parece ter perdido o controlo. A França, por exemplo, continua a desafiar o resto dos Estados Membros da Zona Euro com um défice público demasiado alto e uma ausência de reformas.

Tendo em conta que os atuais medos vêm da Europa, os mercados emergentes continuam a atravessar uma fase de correção que até ao momento é de relativa tranquilidade. Na verdade, todos os mercados emergentes caíram, mas menos comparando com a Europa. Isto deveu-se, em parte, ao facto de nos últimos anos já se terem corrigido grande parte das expectativas pouco realistas acerca do crescimento nos países emergentes.

Para além disso, as mudanças na Zona Euro podem proporcionar uma vantagem face aos mercados emergentes. Nos últimos anos massificou-se o nervosismo acerca do caráter sustentável das entradas de capital nos mercados emergentes, no meio de um contexto de uma maior flexibilização das condições monetárias nos EUA. Devido aos problemas na Europa, o BCE viu-se agora obrigado a aplicar uma expansão quantitativa, e a Fed tem que renunciar, de maneira passageira, às primeiras subidas das taxas de juro. Isto são notícias positivas para os mercados emergentes, que apresentam uma forte dependência do capital estrangeiro.

Deste modo, apesar do decepcionante crescimento na Europa ser um problema para os países que exportam muito para o Velho Continente, para os mercados emergentes é um factor positivo, já que estes necessitam de capital estrangeiro para financiar o crescimento do crédito e os atuais défices por conta corrente. As taxas de juro mais baixas na Europa e nos EUA vão obviamente ajudar a aliviar a pressão em muitos dos países emergentes. Em geral, isto deverá ter uma repercussão positiva num futuro próximo. Os fortes fluxos de capital nos mercados de dívida dos países emergentes deverão trazer consigo uma apreciação das moedas e uma recuperação dos mercados bolsistas.

Ainda assim, há um grande problema que continua a justificar cautela com os mercados emergentes: a China. Aquele que era o principal motor de crescimento dos países emergentes está a fraquejar. Por isso, os riscos crescem. O mercado habitacional entrou em queda livre e fez com que o crescimento económico e o sistema financeiro fossem sujeitos a uma elevada pressão. A China enfrenta saídas de capital desde o início do ano, e em cima da mesa está um novo desafio para os decisores políticos, que devem incentivar os investidores a serem mais prudentes.

No meio do atual clima de nervosismo nos mercados financeiros, o centro de atenção pode passar da Europa para a China. Se isso acontecer, os mercados emergentes vão ficar vulneráveis. Essa vulnerabilidade tem-se comprovado ao longo dos últimos anos, quando por exemplo se conhecem notícias acerca de um crescimento decrescente na China ou de tensões bancárias no país.