Taxas mais altas, durante mais tempo. E então?

Patrick Vogel
Patrick Vogel. Créditos: Cedida (Schroders)

Taxas mais altas, durante mais tempo. É o cenário base atualmente consensual, mas será necessariamente o mais provável? Esta é a pergunta que Patrick Vogel faz aos seus clientes. O gestor do Schroders ISF EURO Corporate Bond, um dos fundos de obrigações corporativas com mais ativos no mercado ibérico, traz uma mensagem muito similar em termos de otimismo sobre as perspetivas para o crédito, mas distinta no que diz respeito ao cenário macroeconómico.

Faz um ano que a maioria das grandes economias estavam numa fase tardia do ciclo, com um crescimento abaixo da média e um momentum negativo. Hoje, o crescimento continua lento, mas Vogel vê uma melhoria do momentum. “Claro que é por já não poder ficar pior”, afirma. Na sua opinião, a grande questão atual é o facto de o impulso ter de se realizar para que as economias globais voltem ao rumo de crescimento.

Juntam-se aos fracos dados de novos pedidos e do setor de serviços as condições financeiras duras na Europa. Dado que a taxa de crescimento tendencial da Europa é muito baixa, a taxa de juro neutra também o é, e, atualmente, encontramo-nos muito acima desse nível. “As taxas de juro estão demasiado altas na Europa neste momento”, afirma Vogel. “O quanto está disposta uma empresa a pagar para poder financiar o seu crescimento? E não é apenas uma pressão sobre os indivíduos e as empresas. O gestor acredita que as taxas de juro altas vão desempenhar um papel importante nos debates sobre os orçamentos dos governos.

Também encontramos sinais de pressão nas margens empresariais que já começam a cair. É uma das grandes convicções de Vogel, a de que vamos assistir ao aumento do desemprego à medida que as empresas precisarem de reduzir os seus custos. E o que implica tudo isto para a inflação? “No final do dia, é a pergunta que temos de fazer a nós próprios”, reconhece. Neste ponto, o gestor ainda se mostra prudente antes de lançar uma previsão firme, mas se tivesse de adivinhar o cenário, Vogel acredita que a inflação no setor de serviços vai cair mais cedo do que mais tarde, caso se confirme esse aumento de desemprego.

Precisará realmente o crédito de que a economia melhore?

Dito isso, Vogel acrescenta uma segunda questão ao cliente, quase a mais relevante para o investidor em obrigações: precisará realmente o crédito de que a economia melhore? Porque, a seu parecer, tanto os spreads de crédito como os yields das obrigações corporativas estão a níveis atrativos. E a isso acrescenta uma segunda camada, uma vantagem para um gestor ativo como ele: a dispersão no mercado. “Se fizer o trabalho difícil, sou capaz de encontrar obrigações a 6% sem renunciar a qualidade creditícia”, afirma.

Ser veterano no setor é uma vantagem. Vogel viveu, ao longo da sua carreira profissional, crises histórias como a das telecomunicações em 2000, a do setor automóvel em 2005, a dos bancos em 2008… A lista é grande, mas a lição é a mesma: os excessos no mercado nunca desvanecem, mas alternam, sim, entre indústrias. E todos esses cenários pareciam prever o fim para cada setor e, no entanto, sobrevivem sempre. “Recordo a crise de 2012. Pude comprar obrigações da Iberdrola a 500 pontos-base de spread e hoje é das utilities com melhor qualidade creditícia do mercado”, aponta.

Agora soam os tambores do pânico em setores como o imobiliário europeu perante as fortes subidas de taxas. “Claro que o setor precisa de se desalavancar, mas há empresas que vão sobreviver e sair mais fortes”, insiste. E é precisamente nesses nichos e momentos de preocupação generalizada do mundo em que Vogel vai à pesca. “Consegui encontrar obrigações a 8% em imobiliárias com uma carteira de ativos sólida”, relata.
Por isso, respondendo à sua própria pergunta, precisará realmente o crédito de que a economia melhore?, o gestor aventura-se a responder: não. Pelo menos, não para um fundo puramente bottom-up e de alta convicção como é o Schroders ISF EURO Corporate Bond. Será que as taxas vão continuar altas ou vão baixar em 2024? “O certo é que não sei nem quero saber. O meu trabalho é gerar rentabilidade. Há dois anos que não tinha carry, e, agora, o crédito está a oferecer yields com uma almofada suficiente para qualquer um dos dois cenários”, afirma.