Embora a experiência com a RDR no Reino Unido seja tomada como uma proxy do que poderá implicar a MiFID II, Peter Grimmet (M&G Investments) acredita que as diferenças existentes entre as duas normativas poderão traduzir-se em cenários distintos.
A poucos meses da sua implementação – quer seja em 2017 ou em 2018 – são muitos os que afirmam que a MiFID II irá transformar a indústria europeia da distribuição de fundos, embora não esteja claro se esta mudança será positiva ou negativa. Para abordar este tema, o III Forum Inversis de Inovação e Liderança reuniu recentemente, em Madrid, reconhecidos especialistas que analisaram questões como os desafios que enfrentam as entidades perante MiFID II; os desafios e as restrições que esta diretiva coloca às bancas privadas; ou as consequências imprevistas da introdução da RDR (Retail Distribution Review) no Reino Unido.
De facto, a experiência no Reino Unido – e, em menor medida, na Holanda – pode usar-se como uma proxy do que poderia acontecer noutros países europeus. No entanto, Peter Grimmet (na foto), responsável de desenvolvimento regulatório na M&G Investments, acredita que o que se viveu no Reino Unido não porquê se repetir noutros países. São dois, os motivos para tal: a peculiaridades do mercado britânico, onde a presença de consultores independentes é muito mais pronunciada do que noutras jurisdições e as diferenças entre a RDR e a MiFID II.
“Enquanto a RDR proíbe o pagamento de retrocessões entre os novos produtos distribuídos no Reino Unido por consultores e plataformas, e em abril irá alargar essa proibição aos produtos distribuídos antes da introdução desse normas, a MiFID II não proíbe o pagamento de retrocessões aos consultores não independentes, por isso esses consultores poderiam eliminar a palavra ‘independentes’ da sua denominação e continuar a cobrar retrocessões. Assim é possível que a MiFID II não tenha nenhum impacto no mercado europeu de distribuição de fundos”; afirma o especialista durante a sua intervenção no evento.
“Outro ponto de discórdia é o facto da MiFID II apenas abranger alguns produtos, deixando de fora os seguros e os planos de pensões, e portanto, podem continuar a pagar retrocessões”, acrescenta. “Esta situação poderá levar os consultores a recomendarem mais vezes este tipo de produtos”.
No que diz respeito à ameaça que pode envolver a nova regulação para a arquitetura aberta, Grimmett reconhece que os grandes bancos internacionais mostram um renovado interesse por vender os seus próprios produtos, uma tendência que, na sua opinião, não responde apenas às mudanças regulatórias mas tambémm ao facto destas “grandes entidades preferirem aplicar um único modelo de negócio mundial, em vez de múltiplos modelos em diferentes países”.
“A minha conclusão é que o impacto da MiFID II irá realmente depender dos mercados em que opera cada entidade e da forma de implementação da diretiva a nível local”. Neste sentido, Grimmett faz referência a um gráfico apresentado por Diana Mackay, CEO da MackayWilliams, durante o congresso sobre distribuição organizado pela ALFI no passado mês de outubro. Esse gráfico mostrava que os grandes vencedores da implementaçãoo da MiFID II são os consultores de património e, em menor escala, os fundos de fundos e as seguradoras. No outro extremo, os bancos serão os mais prejudicados, seguido dos consultores independentes (excepto no Reino Unido). O impacto para os ‘supermercados de fundos’ que distribuem diretamente para clientes de retalho (D2C) será praticamente neutral.
Profissionalização do serviço de consultoria
Pan Andreas, sócio-diretor da Henderson Global Investors, fez finca-pé num dos requisitos introduzidos pela RDR e que é também um dos objetivos da MiFID II: a melhoria da formação profissional dos consultores com a exigência de algumas certificações mínimas obrigatórias. “Quando se introduziu esta medida, a previsão seria de que o número de consultores iria reduzir-se de forma drástica”, explica Pan Andreas que continua dizendo que “isso não aconteceu: a maioria dos consultores obtiveram a certificação mínima obrigatória e muitos foram mais longe e conseguiram obter certificações ainda mais avançadas”.
“Isso não só melhorou o seu nível de profissionalização como também a percepção pública: os clientes e o público em geral começaram a entender o valor dessas certificações e a valorizá-las. De facto, numa pesquisa recente é revelado que os clientes valorizam mais o nível de certificação do seu consultor do que o seu estatuto como consultador independente ou não independente.