As sete perguntas que tenho de fazer a um gestor de retorno absoluto para evitar outro caso GAM

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Tomas alexender, Flickr, Creative Commons

Após o que aconteceu com os fundos de retorno absoluto da GAM, muitos investidores começaram a fazer perguntas sobre o modo como os gestores de retorno absoluto que centram o seu universo de investimento no mercado de obrigações gerem os seus produtos. Na Funds People perguntámos a Andrés Sánchez Balcázar, um profissional muito experiente na indústria, sobre esta questão. Balcázar é codiretor de dívida global na Pictet AM e gestor de uma estratégia de retorno absoluto: o Pictet Absolute Return Fixed Income, fundo classificado com o selo Blockbuster pela Funds People. Integrou a equipa de obrigações da Pictet AM em 2011. Foi gestor senior na Western AM, onde trabalhou como responsável de carteiras de obrigações globais, europeias e de retorno absoluto. Também foi gestor de carteiras globais e europeias na Merrill Lynch IM. Anteriormente, esteve no Banco da República da Colômbia, onde se encarregava da análise macroeconómica dos EUA, Europa e Japão. CFA, está licenciado em Economia pela Universidade dos Andes e pós-graduado e mestre em Gestão pela HEC Paris. Balcázar explica as sete perguntas que, segundo ele, um investidor deve fazer a um gestor de retorno absoluto para saber se a sua estratégia é sólida ou não.

1. A primeira é óbvia e refere-se à liquidez. “Algumas estratégias de obrigações tentam aproveitar oportunidades em setores de maior rentabilidade para vencimento, geralmente de menor liquidez. Mas, em estratégias de rentabilidade absoluta, o objetivo de gerar rentabilidade estável deve fazer-se mediante uma vasta gama de setores e todos os mercados e ativos, equilibrando as posições mais agressivas e defensivas mais líquidas. Além disso, tem de se controlar a liquidez, tendo em conta que a desintermediação está a decorrer e presume-se que devamos ser capazes de manter uma posição de longo prazo, sendo compradores na fragilidade e vendedores em mercados fortes. Mas, reger-se demasiado pelo momento pode implicar pagar um prémio muito alto pela liquidez, pelo que tem de se saber onde está a liquidez e controlar o rico de contraparte – pode ser necessário ter alguém no dia-a-dia para esse risco”, destaca Balcázar.

2. Quais são os cenários económicos que afetariam negativamente a carteira?

“Pessoalmente, desconfio muito de alguém que me diga que a maioria dos cenários económicos estão cobertos. Isso implica que sem correr riscos estão a gerar um retorno positivo. É impossível precaver todos os cenários”, afirma.

3. Pedir os dados históricos da origem dos seus retornos nos últimos três anos por tipo de ativo. “Aí, o investidor irá começar a ver quais são as tendências da estratégia em particular”, explica Balcázar.

4. Solicitar uma matriz de correlações em relação aos diferentes segmentos de mercado para comprovar se essa matriz de correlação mostra uma tendência em particular e se o gestor está na posição de explicar a tal tendência. “Pode ser que tenha uma alocação muito grande a um setor em particular. A lógica do porquê de esta correlação ser tão alta é importante. Tem de haver uma justificação, desde o ponto de vista de expectativas ou valorização para um setor em particular. Aquilo que se tem de tentar perceber é como o processo de investimento é robusto”, indica o especialista.

5. Perguntar ao gestor como controla o seu tail risk na distribuição. “A forma ativa na qual gere o seu tail risk é muito importante. Se o gestor diz que o observa quando chega ou que não teve impacto significativo do tail risk no fundo, não está em condições de explicar o risco da sua carteira”.

6. A sexta questão que se tem de fazer a um gestor de retorno absoluto quando o investidor está à frente dele – segundo Balcázar – é uma pergunta que tem rasteira, mas que funciona sempre: variou o seu processo de investimento nos últimos quatro anos com a mudança das circunstâncias económicas? “Se responder que sim é um mau sinal, porque o que lhe diz é que está num processo de tentativa e erro para ver o que funciona e o que não funciona, o que faz com que seja mais provável o facto de o gestor não estar em condições de saber qual é realmente o seu risco”.

7. Finalmente, Balcázar acha importante realizar um teste qualitativo da estratégia e que a carteira reaja como o gestor diz que vai reagir. “Quando lhe pergunta como a carteira se comportaria num cenário económico “X” e a carteira reage como ele esperava, é bom sinal, uma vez que demonstra que é consciente de qual é a direccionalidade e sensibilidade da sua carteira”. Segundo ele, não tem de se insistir muito no rácio de informação, uma vez que é uma medida que utiliza uma volatilidade histórica com um rendimento histórico. Para que o rácio de informação ou o de sharpe seja realmente válido, é necessário que a estratégia tenha um track record de 10 a 15 anos. “De qualquer das formas é um bom indicador se o fundo obtém rentabilidade de forma mais eficiente em termos de risco em comparação com uma estratégia típica passiva”.

Em contrapartida, considera que o rácio entre máximo drawdown e drawdown empírico ou realizado é importante porque dá uma boa medida de quão boas são as previsões do gestor do seu risco. “Também estará interessando em medir quanto tempo o gestor demora para recuperar uma perda. Geralmente quer evitar que o gestor esteja a agir na mesma direção do que o mercado, vendendo e comprando, porque nesse caso o tempo que vai demorar a recuperar de uma má posição vai ser muito mais longo e a estratégia terá um custo maior”, conclui.