O mundo tem vivido com medo de que rebente outra bolha especulativa a nível global, desde que rebentou a bolha hipotecária em 2007. Os especialistas da Legg Mason Global AM consideram que “o final de uma bolha não é algo agradável, mas pode ser especialmente doloroso para os investidores de estratégias passivas, que replicam grandes índices de ações”. A razão deste aviso tem a ver com a composição desses índices, que se retroalimentam com os ativos de maior risco da bolha, ao aumentar a ponderação dos sectores de crescimento mais rápido.
A história tem um papel relevante nesta análise. O estudo das ponderações dos sectores mais populares no ponto mais alto das bolhas, revela um protagonismo excessivo dos ativo e regiões com maior risco. Um exemplo concreto: no final de 1989 (na ante-câmara da “década perdida”), o Japão representava cerca de 63% do índice MSCI EAFE, um indicador que tem a missão de representar a todos os mercados de ações desenvolvidos da Europa, Australásia e Extremo Oriente.
“Quando as bolhas sectoriais colapsam em períodos de tempo mais curtos, as sobreponderações também podem afectar os índices de grandes mercados”, afirmam da entidade. Dão outro exemplo: depois de ter estalado a bolha tecnológica, o peso do sector da tecnologia – um dos dez sectores representados – no S&P 500, reduziu-se para mais de metade, de 33,5% para 15,4%, ao acumular uma perda de 73,8%. “Consegue-se ver o mesmo efeito durante a crise financeira global, quando o sector financiero colapsou cerca de 80%”, acrescentam da Legg Mason (ver tabela).
Sobreponderação no seu Índice % | Perda Acumulada % | ||||
Evento | Período | Sector/Região | Máximo | Final | Sector |
"Década perdida do Japão" | 31/12/1989- 31/12/1998 | MSCI Japan | 62,6 | 20,2 | -58 |
Bolha Tecnológica | 29/02/2000- 28/02/2003 | S&P 500 IT | 33,3 | 15,4 | -73,5 |
Crise Financeira Global | 31/12/2006- 28/02/2009 | S&P 500 Financials | 22,4 | 9,9 | -79,6 |
Quebra dos preços da energia | 30/06/2008- 30/09/2015 | S&P 500 Energy | 15,9 | 6,7 | -30,8 |
Fonte: Legg Mason |
Que lições deve o investidor extrair da gestão passiva? “São só pequenos exemplos do tipo de distorções refletidas nos índices passivos, ponderados por capitalização, cuja construção os obriga a sobreponderar sectores que se tornam mais populars entre os investidores”, explicam os especialistas da entidade. Estes consideram que, se se acrescenta a este fenómeno “a bem documentada tendência de os investidores se moverem em massa para as ‘supostas oportunidades quentes’, o dano para os retornos pode ser substancial”.
Dito isto, para os especialistas, o assunto chave não é o uso de esta classe de ETF, per si, mas sim “que a utilização dos investimentos passivos convencionais, baseados em índices, como o centro de uma estratégia de investimento equilibrada, pode produzir volatilidade inesperada e não desejada numa carteira supostamente conservadora, justamente num momento em que os investidores podem estar à procura de refúgio”.