É como se o único que importasse fosse a relação entre os EUA e a China”, questiona Juan Nevado, gestor da equipa de multiativos da M&G. O profissional opta por ser oportunista no meio de uma bruma de pessimismo.
O paradoxo de 2019: num ano tão bom para as bolsas, os investidores não usufruíram da sua rentabilidade. Nestes seis meses que deixamos para trás os índices subiram enquanto o dinheiro fugiu dos fundos de investimento de ações. “Estamos numa bolha de pessimismo”, resume Juan Nevado, gestor da M&G. A Funds People reuniu-se com o profissional antes da reunião do G-20. Uma data muito esperada pelos mercados à qual Nevado dá importância. Em pleno verão, o responsável do M&G (Lux) Dynamic Allocation e do M&G (Lux) Conservative Allocation aposta numa mensagem de otimismo.
Até agora o nervosismo apoderou-se do investidor. “É quase como se a única coisa que importasse atualmente fosse a relação entre os Estados Unidos e a China”, questiona. Assim parece e assim é. No último inquérito a gestores da BofAML, mais de metade dos inquiridos assegurou que a guerra comercial é o principal risco que veem. “Mas não podemos basear uma estratégia só no que vai fazer Donald Trump”, reprova.
Perante a impossibilidade de conhecer o futuro, Nevado optar por gerir como o que sabe, com o que dizem os fundamentais. E a realidade que vê é que as coisas não estão tão mal quanto preveem os mercados. “O crescimento abrandou. Mas de 4% para 3%”, refere. Vê os investidores preocupados com uma possível recessão. “As pessoas tendem a extrapolar o que se passou em 2008, mas os factos simplesmente não o refletem”, insiste. A Europa está a crescer a 1,2% em termos reais. Os salários estão a subir 2,5%. “Onde está a recessão? É um contexto de crescimento baixo, não de uma crise”. E o mesmo vê nos Estados Unidos. Como se pode observar no gráfico seguinte, de momento as empresas não estão a sofrer nos seus lucros:
“Isto abre oportunidades para quem assume risco enquanto outros são pessimistas”, defende Nevado. Não é uma fé cega. Simplesmente convida a olhar mais além dos títulos do momento. Os bancos centrais estão a ser mais acomodatícios e os governos também. Países como a China estão a implementar apoio fiscal. Na Europa, a Itália baixou os impostos. “Isto é bom para os ativos de risco”, recorda.
Face aos agoirentos de estancamento secular, o especialista prefere falar de estabilidade secular. E se assim for o caso, então as ações negoceiam com um importante prémio de risco. “Sempre e quando evitarmos uma recessão, as ações estão muito baratas”, insiste. E defende que se alcançará. “É no melhor interesse da China e de Trump”.
Como é que está a mexer a sua carteira
O gestor destaca os investidores quase obcecados. “É uma reação emocional. É preciso fixar-se nos preços dos ativos. Da minha parte penso em apostar nos sinais que as valorizações baratas estão a dar”, sentencia. Assim o está a refletir a carteira do M&G (Lux) Dynamic Allocation. Resume as suas principais apostas em dois focos: índices de bolsa “baratos” e mercados emergentes, tanto ações como obrigações em divisa local e forte.
A bolsa espanhola está entre as suas sobreponderações. “Porque iria preferir obrigações espanholas com uma yield que nem sequer bate a inflação?, questiona. Em linha com a sua consideração favorável do Ibex-35 está a sua pequena aposta (6,5%) em bancos europeus. Pode parecer demasiado contrária vendo que os bancos centrais não vão subir as taxas tão cedo. Perante isto, Nevado tem um argumento simples: “Tudo tem um preço”.
As ações pesam atualmente 47,3% da carteira. A Europa pesa 16%; a Ásia (excluindo o Japão) 11%; o Japão 10%; e o Reino Unido 2,5%.
Em obrigações, a exposição líquida é de 8,84% que está sobretudo nos emergentes. De facto, têm uma importante subponderação em bunds em toda a sua curva. A sua ideia de mais peso está no México. Um argumento duplo tanto pela yield da emissão como pelo potencial da divisa.