“Para nós investidores profissionais, ler bem a realidade económica e não sermos surpreendidos pelas autoridades monetárias, são porventura os factores-chave de sucesso”. Esta é a perspetiva de José Bertão, Analyst da F&C Investments. Por seu turno, Pedro Pintassilgo, para o novo ano espera que “do ponto de vista económico a Zona Euro não inicie um período deflacionista, e se intensifique a actividade produtiva quer nos EUA quer na Zona Euro face a 2014”.
Zona Euro: baixas taxas de juro são insuficientes
Desta forma, Pedro Pintassilgo considera que a eficácia da política monetária “tem sido mais evidente no Reino Unido e nos Estados Unidos onde ao imediato saneamento do sistema bancário e à rápida descida das taxas de juro para níveis próximos de zero se juntaram medidas de compras sistemáticas de dívida soberana em mercado secundário”. No Japão, por seu lado, apesar do forte estímulo monetário, “o elevado endividamento das empresas e o lento reconhecimento das imparidades por parte do sistema financeiro têm obviado a uma recuperação sustentada da procura interna”. Ainda sobre a Zona Euro, Pedro Pintassilgo, que considera que as baixas taxas de juro têm sido insuficientes para estimular a atividade económica, acredita que o processo de consolidação orçamental na região, “tem retirado rendimento disponível aos agentes económicos privados, e em consequência predisposição para o consumo”. Entende que na região da moeda única, “sem reformas estruturais, alívio das políticas de austeridade e tomada de medidas mais robustas na frente monetária as taxas de juro próximas de zero serão manifestamente insuficientes”.
BCE e Fed: “estirpes” diferentes
Crescimento económico, é na perspetiva de José Bertão, o denominador comum para 2015, esperando-se mais intenso na China e nos EUA, e, claro, “mais modesto no Japão e na Zona Euro”. Quanto às duas principais economias do mundo ocidental, EUA e Zona Euro, “importa realçar para esta última a maior incerteza e/ou volatilidade na actividade económica, logo também na sua estimativa”. Explica que entre “ambas existem diferenças que se detectam ao nível da condução da política monetária, onde a Reserva Federal dos EUA tem objectivos explícitos de emprego e inflação, enquanto o BCE tem um mandato para a estabilidade de preços”.
Por seu lado, relativamente à China, preveem um crescimento económico médio em 2015 de cerca de 7%. “Do ponto de vista de cooperação institucional entre o Banco da República Popular da China e o seu governo central, percebe-se uma articulação operacional vincada pelo que os mecanismos de compensação entre medidas monetárias e iniciativas orçamentais, continuarão a manter a economia em estabilidade e a corrigir desequilíbrios emergentes”, explica.
Euro mais barato seria favorável
Relativamente ao mercado cambial, José Bertão refere que é previsível “a manutenção dos atuais níveis de estabilidade entre o dólar e euro da mesma forma que a moeda chinesa continuará numa banda de flutuação em torno dos 6 yuans por dólar”. Apesar de um euro mais barato ser “uma expectativa desejável”, mas “porventura só possível num contexto de crise institucional ou económica, ambas não desejáveis”. O Japão, diz, é possível que não prossiga a depreciação do iene, “pois a China não poderá tolerar significativos ganhos de quota de mercado do seu rival asiático nos principais mercados de exportação”.
Menor investimento em dívida soberana de certos países europeus
Com as autoridades monetárias a implementarem políticas ativas de redução de juros de forma a fazerem regressar mais agentes económicos a uma situação de solvência, para a F&C, “faz sentido em termos relativos investir menos em dívida soberana de países da Zona Euro que, naqueles que são mais robustos financeiramente, como é o caso da Alemanha, chegam a praticar-se taxas de rendimento negativas até emissões com prazo residual de 5 anos”. Explica que “o apoio das autoridades monetárias, especialmente a Reserva Federal, o Banco do Japão e Banco Central Europeu, se bem que este em menor grau, mediante diversos programas de intervenção monetária, têm a virtude de conter os prémios de risco que os emitentes pagam sobre aquele rendimento que um emitente percebido sem risco, paga”.
Menos ações, mais América do Norte e Japão
Neste sentido, na F&C diz preferirem os produtos “que incorporam um prémio de risco que tem tendência para reduzir-se e, assim, aumentar o valor de mercado do mesmo”. Já as ações não têm “a sedução dos produtos com spread pois incorporam indirectamente as iniciativas das autoridades monetárias e estão mais dependentes da evolução da economia”. Por isso estão neutrais nesta classe de ativos. Em termos geográficos a preferência vai para a Zona Euro e para o Japão. Na lista de situações que exigem mais cuidados no novo ano, incluem-se “os atrasos ou hesitações das autoridades monetárias em praticar o que os mercados financeiros já descontaram”, o “agravamento substancial na relação de forças geopolíticas na Europa em consequência especialmente da Ucrânia” ou o “aumento da volatilidade e correcções dos preços dos activos financeiros, derivados de resultados eleitorais desfavoráveis na Grécia e em Espanha”.