Francisco Louro (BlueCrow Capital): “As ações foram a componente que mais influenciou o desempenho do Discovery Fund”

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Francisco Louro. Créditos: Vítor Duarte

O Discovery Fund, administrado pela Lynx Asset Managers e com a Bluecrow Capital como entidade advisor foi o fundo multiativos nacional mais rentável em 2023, apresentando um retorno de 29,04%. Francisco Louro, diretor da Bluecrow Capital, falou com a FundsPeople e contou, entre outras coisas, os principais fatores que influenciaram o desempenho positivo do fundo. 

“O principal objetivo do fundo, ou mesmo obsessão, é a apreciação do capital através do investimento no longo prazo, da maioria dos ativos sob gestão, em ações de empresas com negócios de altíssima qualidade que operam globalmente”, começa por afirmar o profissional, realçando que o fundo pode também investir noutro tipo de ativos que reduzam a exposição à volatilidade de mercado.

O Discovery Fund começou o ano com uma exposição de cerca de 83% a ações, um dos níveis mais elevados da sua história. Este foi um ano de recuperação para esta classe de ativos, em que o índice mundial de ações MSCI World, em euros, subiu mais de 17%, “consequentemente as nossas ações tiveram um desempenho extremamente positivo”, afirma. Das denominadas Sete Magníficas, a Meta obteve a segunda mais alta rentabilidade, de 194%, em 2023. “Esta foi e continua a ser a maior posição do fundo”, afirma Francisco Louro. 

Mas o fundo não beneficiou apenas do setor tecnológico: “A Copart, a maior leiloeira online de automóveis usados e de retomas do mundo, e a quarta maior posição do fundo, obteve um retorno de cerca de 61%”, acrescenta o profissional. Desta forma, as ações foram a componente que mais influenciou o desempenho do Discovery Fund, “mas o destaque em relação aos índices deve-se à qualidade dos negócios em que o fundo investe”, afirma, acrescentando ainda que ​​a confiança na filosofia e no processo de investimento, “levou a que o fundo não só não cedesse ao pânico de 2022, como reforçasse o investimento em muitas das empresas que acabaram por contribuir para este resultado”.

O impacto do contexto macroeconómico e dos mercados

Para Francisco Louro, o contexto macroeconómico em nada influência as decisões de investimento do fundo. “Não é mais do que isso mesmo, um mero contexto”, assegura. O Discovery Fund adota uma abordagem de investimento bottom-up, ou seja, “as decisões de investimento são tomadas somente analisando os negócios subjacentes, independentemente do ciclo macroeconómico em que nos encontramos”, explica o profissional. Como consequência, as alocações setorial e geográfica do fundo são resultado das oportunidades individuais que encontram

O comportamento de pânico dos mercados em 2022 influenciou os preços das ações das empresas em que o fundo procura investir. Estes ficaram mais baixos, o que levou o fundo a reforçar muitas das posições existentes e a abrir novas posições em ações de empresas que estavam sob observação. “A Meta Platforms, por exemplo, uma empresa que fatura mais de 100 mil milhões de dólares anualmente, com margens brutas de cerca de 80%, caiu cerca de 61%, em 2022. Chegou a transacionar com um múltiplo de Preço/EBITDA de 5x, um nível que considerámos extremamente barato para uma empresa desta qualidade”, diz Francisco Louro, admitindo mesmo: “O erro foi o fundo não ter reforçado mais esta posição!”

O que diferencia o Discovery Fund

Para Francisco Louro, a “alta exposição a ações” e a “qualidade das mesmas” foi o que levou o Discovery Fund a ser o mais rentável da sua categoria. Desta forma, e visto que este fundo investe a maioria do seu capital em ações, é provável que num ano em que as ações, no geral, tenham um comportamento negativo, o fundo, explica o profissional, “não venha a estar tão bem posicionado neste ranking”. 

A principal expetativa para este novo ano da entidade advisor do fundo é que “os negócios em que o fundo investe continuem a crescer; a ser altamente rentáveis; a manter as vantagens competitivas; a ter os seus balanços saudáveis e a ter equipas de gestão responsáveis e focadas no longo prazo”. Por outro lado, consideram que as oportunidades em 2024 são menos abundantes, uma vez que “os preços das ações dos negócios com as características mencionadas estão, neste momento, menos atrativos” depois de um 2023 de fortes subidas. “O território de caça está ligeiramente mais reduzido!”, conclui Francisco Louro.