Um estudo produzido pelo Banco de Portugal conclui que os instrumentos financeiros negociáveis representavam apenas 9% do total de ativos financeiros detidos pelas famílias portuguesas no terceiro trimestre de 2018. As UPs dos fundos de investimento eram o investimento preferencial, equivalente a metade das carteiras das famílias.
Driven by Data é o título de uma série de publicações do Banco de Portugal onde se divulgam artigos técnicos e estudos preparados e apresentados em fóruns internacionais pelos membros do departamento de estatística do banco central nacional. Na edição mais recente, é divulgado um pequeno estudo com o título What are we holding? – Households’ investments in negotiable financial instruments. Neste estudo, os autores concluem que os instrumentos financeiros negociáveis, nomeadamente títulos de dívida (F3), ações listadas (F511) e unidades de participação de fundos de investimento (F52; inclui fundos imobiliários), representavam apenas 9% do total de ativos financeiros detidos pelas famílias portuguesas no terceiro trimestre de 2018. As UPs dos fundos de investimento eram o investimento preferencial, equivalente a metade das carteiras das famílias. Adicionalmente, concluem que de 2008 a 2017, a estrutura da carteira das famílias portuguesas seguiu o padrão da área do euro, com um aumento nas participações em fundos de investimento e uma diminuição na exposição a títulos de dívida.
Ao detalhe
No final do terceiro trimestre de 2018 e segundo o estudo divulgado, o investimento das famílias portuguesas em instrumentos financeiros negociáveis totalizou 37,0 mil milhões de euros, o que representava 9% do total de ativos financeiros. Moeda e depósitos eram o principal ativo financeiro, com 45% do total. Considerando o Gráfico 1, os autores dão conta que as famílias portuguesas fizeram mudanças relevantes na sua estratégia de investimento. Entre 2013 e 2015, esse setor económico mostrou transações negativas em títulos de dívida, principalmente as emitidas por bancos. “Esse desinvestimento foi parcialmente compensado nos anos seguintes, através do investimento em dívida pública. É possível observar, durante todo o período, um investimento positivo em UPs de fundos de investimentos não residentes e um investimento positivo e significativo em fundos de investimentos residentes, em 2013 e a partir de 2017”, comentam.

Fica também claro no estudo que quando comparados com outros países da área do euro, as famílias portuguesas têm uma preferência menor por investir em instrumentos negociáveis, como mostra o Gráfico 2 (10,4% do total de ativos financeiros em Portugal, em comparação com 16,9% na área do euro em 2017). “A exposição das famílias portuguesas a instrumentos financeiros negociáveis diminuiu de 12,3% em 2008 para 10,4% em 2017, um padrão também apresentado pela área do euro em que essa redução foi de 18,7% para 16,9%. Existe uma redução relevante na importância dos títulos de dívida (de 5,5% para 4,2%) para Portugal. Na área do euro, há também uma notável redução na importância dos títulos de dívida (de 8,2% para 2,8%), parcialmente compensado por um aumento no peso das UPs dos fundos de investimento (de 7,5% para 9,6%). Houve também um aumento nas ações listadas (de 2,9% para 4,4%), o que não foi seguido pelas famílias portuguesas”.

Apesar das mudanças mencionadas, a posição no ranking de Portugal em relação a outros países permanece. Numa referência a outro estudo, anteriormente citado pela FundsPeople, os autores deste estudo comentam que se observar que as preferências para investir nestes instrumentos dependem das condições demográficas e económicas das famílias. “Segundo (Costa, 2016), famílias mais jovens e famílias com maior rendimento e riqueza mostram maior preferência por investir em instrumentos negociáveis. Esta relação económica também é verdadeira para a área do euro, apesar da idade avançada das famílias (BCE, 2016) que investem nestes instrumentos, quando comparadas com o caso português”.