Jaime Albella (AXA IM): “O risco de perder dinheiro em emergentes e de ver saídas adicionais de capitais é muito baixo”

AXA IM
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Os emergentes são os mercados onde atualmente a AXA Investment Managers vê mais valor. Neste momento é a grande aposta da casa, a classe de ativo onde – segundo Jaime Albella – tem de se estar após a grande correção e as saídas de dinheiro que, tanto os mercados emergentes de ações como os de obrigações, sofreram. “Assistimos a uma grande venda de ativos emergentes. Quando se dão grandes vendas, a volatilidade aparece. A volatilidade é uma medida de risco, mas também de oportunidade. Surgem ineficiências e as oportunidades aparecem. Estas quedas tomamo-las como oportunidades. É o tema do trimestre. Atualmente, o risco de perder dinheiro em emergentes e de assistir a saídas adicionais de capitais é muito baixo”, assegura.

Segundo explica o diretor de vendas senior da AXA, no tradicional pequeno-almoço trimestral organizado com jornalistas, o castigo severo a que os mercados emergentes estão sujeitos, explica-se pela valorização do dólar. “Estes países utilizam a sua divisa local, mas também o dólar, principalmente na parte da dívida, pelo que uma subida da moeda norte-americana tem um impacto direto na sua alavancagem. A correlação entre o dólar e a evolução dos mercados emergentes é negativa. Daí a volatilidade e as quedas que vimos nas ações, high yield, dívida com grau de investimento e divisas emergentes. Como acreditamos que o dólar já reflete o justo valor, o risco de que continue a valorizar é muito baixo. Assim, a volatilidade não deverá voltar por este lado”.

Não é a única razão que faz com que a AXA IM esteja esperançosa sobre estes mercados. Há mais. Entre elas está a robustez macroeconómica destes países. “O spread relativo aos mercados desenvolvidos vai fechando, mas o crescimento vai continuar a ser sólido. A valorização do dólar não vai ter um impacto na parte fundamental do crescimento das economias emergentes. Além disso, os balanços destes países estão mais equilibrados do que há cinco anos, quando havia alguns desequilíbrios muito acentuados. Nessa altura, os emergentes eram muito dependentes do dólar. Agora, essa dependência é infinitamente menor. Os balanços estão muito mais equilibrados. O facto da saúde das economias emergentes estar muito melhor hoje em dia comparativamente com há cinco anos, faz com que o impacto de uma subida do dólar seja menor”.

Colocando no shaker todos os modelos macro e ajustando-os com os fundamentais micro, os modelos de valorização da AXA IM fazem com que vejam muito valor em obrigações emergentes, principalmente na China, México e África do Sul, mas ainda mais em ações. “Foi onde mais dinheiro saiu e onde valorizamos mais. Corrigiu muito e, em termos de valorização, os emergentes cotam cerca de 25% de desconto face ao Ocidente. Cotam mais barato em termos relativos e os lucros crescem praticamente a um ritmo duas vezes mais rápido do que os mercados desenvolvidos. A combinação é muito boa: estão mais baratos, crescem mais e os fundamentais, tanto macro como em crédito, são melhores”.

A última razão que os fazem estar esperançosos é o facto de o risco de bear market ser muito limitado. “Saiu muito dinheiro e esses fluxos de saída foram muito estratégicos, uma vez que 80% desses fluxos vieram do lado dos ETFs. Na nossa opinião, o risco de ver saídas adicionais de capitais é muito baixo. Os mercados emergentes estão muito subponderados nas carteiras globais. É um segmento do mercado que tem uma representação muito baixa nas carteiras dos investidores europeus. Só pesam cerca de 13% face a 87% que os mercados desenvolvidos ponderam. Parece-nos difícil que estes pesos reduzam ainda mais. Nas ações emergentes quase todo o dinheiro estratégico e de curto prazo já saiu, pelo que vemos que vai ser complicado que estes mercados continuem a registar fortes quedas”, conclui Albella.

Esta estratégia exposta pelo especialista é partilhada pelo grupo AXA, pelo que é aplicada em dois terços dos ativos totais que a seguradora gere.