Os responsáveis de estratégias de mercados na J.P. Morgan AM analisam as lições que o passado nos deu sobre o possível impacto que as restrições comerciais poderão ter sobre a economia.
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O tema do comércio tornou-se numa constante nos meios de comunicação, o que fez com que os investidores se questionassem qual a situação atual em relação às taxas e o seu possível impacto na economia. O comércio livre é importante para o crescimento, tanto a curto como a longo prazo, uma vez que os atos que limitam o comércio poderão ser obstáculos para a expansão mundial, provocando disrupções na produção, aumentando os custos para as empresas e os preços para os consumidores, limitando o mecanismo de transmissão positiva entre economias e, em última instância, reduzindo a produtividade. Contudo, o alcance das restrições comerciais também é importante – para começar, é importante distinguir as taxas aprovadas das que ainda estão a ser pensadas.
Até à data impuseram taxas às importações de madeira, máquinas de lavar, painéis solares e aço e alumínio (com exceções para determinados países), que no total somam 54.000 milhões de dólares de importações norte-americanas, o que equivale a 2% de todas as importações dos EUA ou a 0,3% do PIB do país. Em resposta a estas ações, os seus parceiros comerciais implementaram taxas a 22.000 milhões de dólares de exportações norte-americanas, o que equivale a 1% de todas as exportações dos EUA. “A implementação de taxas é um pouco inquietante, mas os valores são ainda muito pequenos e não deveriam alterar de forma significativa a trajetória do crescimento e da inflação do país”, explicam David Lebovitz, Gabriela Santos e Hannah Anderson, responsáveis de estratégias de mercados na J.P. Morgan AM.
Contudo, o que ainda não sabemos é até que ponto esta situação se irá agravar. Segundo estes especialistas, o pior cenário possível implicará taxas sobre as importações de 450.000 milhões de dólares da China e 275.000 milhões de automóveis e peças de automóveis. “Neste cenário, poderemos ver cerca de 27% das importações dos EUA sujeitas a novas taxas, o que equivale a 4% do PIB do país. Determinar o impacto direto sobre a inflação e crescimento é complicado, uma vez que implica várias suposições sobre a medida em que a subida de preços irá se repercutir no consumidor e como isto afetará as decisões sobre os gastos. É ainda mais difícil calcular os possíveis efeitos indiretos de uma diminuição da confiança e das disrupções na cadeia de fornecimento”.
Possíveis impacto e lições do passado
De acordo com as estimativas da J.P. Morgan AM, o impacto sobre o crescimento será mais vincado para a China do que para os EUA, uma vez que os 450.000 milhões de importações chinesas que poderão ser tributadas representam 3,2% do PIB chinês. Por outro lado, os EUA exportaram aproximadamente 130.000 milhões de bens para a China no ano passado, o que representa cerca de 1% do PIB dos EUA. “Por isso, do ponto de vista do crescimento, as taxas irão prejudicar mais a China do que os EUA. Posto isto, os chineses poderão utilizar outros métodos diferentes das taxas (como limitar as operações comerciais dos EUA na China) para contra-atacar. No entanto, a China não é a única jogadora neste jogo e o total das represálias poderá compensar possivelmente o recente incentivo financeiro, afetar a confiança de empresas e consumidores, e é mais negativo do que o previsto para o crescimento económico”.
Muitos perguntam se o passado pode dar alguma pista para a situação atual. Para a equipa da J.P. Morgan AM as taxas da Smoot-Hawley da década de 1930 parecem-lhes o melhor caso de comparação. Apesar dos economistas continuarem a debater se a Lei Smoot-Hawley agravou a Grande Depressão, o que é claro é que a implementação destas taxas num momento crítico para a economia global provocou indignação e represálias internacionais, e indubitavelmente fragilizou o sistema económico mundial. Dado que o comércio representa agora uma parte mais importante, tanto da economia dos EUA como da economia mundial do que na década de 1930, um novo agravamento poderá ser muito perigoso para uma economia mundial que finalmente, está a sofrer os últimos efeitos da deterioração da crise financeira.
“Apesar de ainda nos encontrarmos num ponto em que se podem fazer comparações diretas com as taxas da Smoot-Hawley, a materialização de uma verdadeira guerra comercial levará a economia mundial por uma trajetória bastante desagradável nos próximos anos. Por outro lado, há uma forma de resolver estas tensões de forma amigável. Quando os EUA impuseram taxas sobre o aço no início da década de 2000, as taxas da UE estabelecidas com um objetivo político impulsionaram os EUA a retirar as tais taxas antes do previsto. Em última análise, os investidores têm de estar conscientes de que as taxas não irão resolver o desequilíbrio de pagamentos externos; o déficit comercial equivale ao déficit do setor privado mais o déficit do orçamento do governo e, uma vez que o déficit orçamental irá aumentar nos próximos anos, a situação é claramente mais complexa do que parece”, afirmam.
Implicações para o investimento
Apesar de as tensões comerciais continuarem a representar um risco para o crescimento e de serem uma fonte de volatilidade nos mercados de capitais, para os responsáveis de estratégia de mercados da J.P. Morgan AM parece demasiado cedo para mudar a sua opinião otimista acerca da economia norte-americana e mundial. “As taxas aprovadas até à data tiveram um alcance limitado e, consequentemente, o crescimento dos lucros deverá continuar a ser sólido em todo o mundo, permitindo que os ativos de risco continuem a subir. Dito isto, é pouco provável que os títulos relacionados com o comércio desapareçam, o que significa que será uma subida cheia de oscilações; consequentemente, os investidores deverão manter uma alocação equilibrada e evitar um excesso de avidez por rendimentos ou rentabilidade na conjuntura atual”, concluem.