São cada vez mais sonantes e suscitam muita curiosidade. À FundsPeople, Mário Pires explica em mais detalhe o que são as obrigações catástrofe, a quem interessam e as principais particularidades.
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Cat Bonds: um instrumento financeiro de nicho que integra a categoria de Insurance-Linked Securities e tem este nome por estar ligado a desastres naturais como terramotos, furacões, tsunamis, entre outros. É um instrumento de dívida cujo risco da seguradora emitente da obrigação é transferido para o investidor. Quer isto dizer que o capital investido poderá ser chamado a intervir na eventualidade do desastre natural subjacente ocorrer.
À conversa com a FundsPeople, Mário Pires, diretor do mercado Institucional português da Schroders, começa por referir que o desinteresse por este tipo de produtos até 2020 prendeu-se, essencialmente, com o baixo nível de taxas de juro. Ora, sendo estes instrumentos de risco de certa forma “binário”, os investidores achavam que “não eram suficientemente recompensados”, algo que se alterou face ao comportamento das taxas de juro nos últimos anos. “Em 2010 o mercado de cat bonds valia 13 mil milhões e hoje, passados mais de 20 anos, vale 43”, conta.
Quando falamos em obrigações, há vários conceitos subjacentes em que pensamos imediatamente: duração e risco de crédito. O que é atípico é que, conforme explica Mário Pires, estes instrumentos têm uma exposição a ambos quase nula, “isto porque, por um lado, as companhias da rede de seguros emitem estas obrigações num SPV, Special Purpose Vehicle, que está completamente isolado do risco das companhias de seguro”, por outro, “são títulos de taxa variável e emitidos a 3 anos, o que elimina o risco de duração”. Portanto, o único risco mais evidente será o risco de catástrofe que implica cobrir financeiramente caso o evento ocorra e, naturalmente, o risco medido pela volatilidade.
Uma das outras particularidades desta classe de ativos, tem que ver com um fator de sazonalidade. A típica prática portuguesa de “casa roubada, trancas à porta” também se aplica neste contexto, mas numa outra perspetiva. A procura por estas obrigações aumenta após cada evento ou na época menos propícia à ocorrência de desastres naturais. Numa espécie de jogo de sorte e azar, os investidores arriscam também com base em probabilidades.
O impacto das mudanças climáticas
Logicamente, atendendo às atuais circunstâncias, nem os emitentes, nem os investidores, ficam alheios às mudanças climáticas nem aos seus efeitos adversos, na medida em que parecem aumentar a frequência de alguns desastres naturais. Como tal, do ponto de vista do investidor, as mudanças climáticas podem ter um impacto positivo no que diz respeito aos prémios de risco. Mário Pires dá até o exemplo recente do furacão Ian, em 2022, “que foi responsável por perdas significativas. Houve uma cat bond que foi chamada a pagar e verificou-se uma situação de default. A partir daí, os preços, ou seja, o prémio de risco aumentou”. Portanto, quantos mais eventos houver, em função das mudanças climáticas, maior será o spread. “Em 2017, tínhamos uma taxa de cupão no mercado de 4% e neste momento está nos 13%”, realça o profissional da Schroders.
Público-alvo
Sendo visivelmente um mercado de nicho, quem são os seus principais investidores? “Companhias de seguros que não tenham esse risco”, começa por dizer o diretor da Schroders. Por exemplo, e explica, “vemos aqui em Portugal, em Espanha ou na Europa, companhias de seguros que não são grandes multinacionais a não cobrirem esses riscos. Portanto, as cat bonds acabam por funcionar como um efeito diversificador do seu risco”. Também para fundos de pensões, que procuram retornos descorrelacionados, e para clientes de banca privada, “particularmente os investidores mais sofisticados que têm capacidade para entender esta classe de ativos”.
Dentro dos fundos classificados com Rating FundsPeople 2024, há apenas um com rating em Portugal que investe nesta classe de ativos e que pertence, precisamente, à Schroders, o Schroder GAIA Cat Bond. Este produto obtém a classificação através do pilar blockbuster, um dos três que integram o modelo, não só em território nacional como em Espanha. Foi até o fundo de alternativos recomendado pela entidade gestora para 2024, já que “o objetivo é realizar investimentos cujo valor não dependa do ciclo económico, mas sim do acontecimento de fenómenos naturais e da gravidade dos mesmos”.