Na procura por liquidez em ativos privados, surge cada vez mais o mercado secundário

Karim Lenguel, Thibault Richon, Raphael Haselberger.
Karim Lenguel, Thibault Richon, Raphael Haselberger. Créditos: CFA Society Portugal

No evento promovido pela CFA Society Portugal foram discutidas as oportunidades e tendências atuais nos vários segmentos do mercado privado. A mesa redonda foi moderada por Miguel Rêgo, responsável global de Análise FundsPeople, começou-se por alertar para o crescimento dos mercados privados nos últimos anos e para a perspetiva de ainda maior crescimento. “É evidente o crescimento dos mercados privados nos últimos anos, em particular em alturas de maior volatilidade nas restantes classes de ativos. Adicionalmente, um estudo recente aponta que mais de metade dos gestores das seguradoras globais pretendem aumentar a sua exposição a investimentos privados nos próximos 12 meses”, revela. Com o cenário traçado, o orador levanta a questão: “Qual a maior tendência ou oportunidade presente atualmente nos mercados privados?

Raphael Haselberger, especialista de produto sénior da Allianz Global Investors, não tardou em dar uma resposta: “O destaque agora está no mercado secundário. Como sabemos, nos mercados privados não existe um mercado líquido organizado onde podemos simplesmente vender as nossas posições. Os investidores têm que vender no mercado secundário, a outros participantes quando precisam, ou querem, liquidar a posição antes da maturidade. Nós, como investidores, muitas vezes posicionamo-nos aqui, para oferecer liquidez e comprar produtos a desconto, aproveitando a urgência de quem está pressionado a vender. Podemos conseguir descontos de 10, 15% em ativos em que até já estávamos previamente investidos”, explica detalhadamente o especialista de produto.

Também Thibault Richon, diretor da SWEN Capital Partners (Ofi Invest), partilha da opinião do colega: “Os mercados secundários estão a ganhar profundidade e a tornar-se mais maduros. Há cada vez mais profissionais a olhar para eles como opção”. Contudo, o mercado secundário em infraestruturas não está tão desenvolvido como o de private equity; este ainda tem algumas vicissitudes. “Os preços são menos voláteis, uma vez que o investimento é feito com um horizonte temporal superior, é raro encontrar descontos de 10% em portefólios de qualidade, geridos por equipas reconhecidas. Por vezes até podemos comprar portefólios com um prémio, devido à qualidade da equipa de gestão que o construiu”, explica Thibault Richon

Karim Leguel, diretor de Vendas do Mercado Privado da Fidelity International, apontou um motivo adicional para o crescimento dos mercados secundários, mas alerta para a ciclicidade deste interesse.Apesar de ser uma tendência, este movimento é principalmente impulsionado pela queda dos mercados mais líquidos. Isto deve-se à necessidade de os investidores venderem dívida privada, muito menos volátil, quando as restantes classes caem, para não incumprir nos limites máximos de exposição à mesma”, aponta pertinentemente o profissional da Fidelity International, referindo-se ao efeito denominador em mercados voláteis como os atuais.

Não prometemos liquidez diária

Thibaut Richon lamenta que um dos “principais estigmas de investir em infraestruturas seja o longo prazo associado ao investimento”. Contudo, num tom esperançoso alerta: “Os mercados secundários vêm colmatar esta falha, claro que estes mercados continuam longe de garantir liquidez diária, mas é agora possível vender posições num espaço de meses e a um preço justo”.

Seguindo o mesmo mote, Karim Leguel destaca a “busca pela democratização dos mercados privados”. Hoje em dia todos os tipos de investidores querem ter acesso aos mercados privados. “Esta necessidade resulta na distribuição de instrumentos com mais informação e transparência. Estas características beneficiam diretamente o mercado secundário que promove a liquidez desejada por muitos investidores”, explica o diretor de vendas. Em suma, Karim Leguel afirma: “Os mercados secundários não garantem liquidez diária, no entanto, conseguem aproximar os interesses dos investidores da realidade do mercado”.