Com um estilo de análise bottom up vincado, o gestor do fundo Schroders Euro Equity Fund confessa-se um stock-picker convicto.
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Funds People (FP) - Acredita que hoje em dia é possível gerir um fundo europeu numa perspectiva top down tendo em conta o atual contexto europeu?
Martin Skanberg (M) - Quando comecei a estudar economia, certamente que a maioria dos livros iriam dizer que o mercado reflete tudo o que acontece na perfeição. Eu discordo muito dessa perspetiva. Acredito que se te permitires mudar o estilo de investimento pode aproveitar-se melhores oportunidades, como, no momento atual, fazer a seleção de algumas ações mais baratas. As valorizações determinam os retornos futuros e conduzem ao preço das ações. O crescimento é importante na medida em que leva aos rendimentos mas quanto a mim menos determinante. O importante é a flexibilidade e a combinação destes dois estilos de forma à obtenção de boas performances. Os mercados de valor na Europa têm sido Itália e Espanha. No entanto, olhando para a Itália atualmente, o país já não se considera um mercado de valor. Hoje em dia existe um novo um novo conjunto de mercados com um grau superior de atratividade e valor. O Reino Unido, apesar de ainda não estar muito afirmado, potencialmente é um desses países já que se está a tornar mais “barato”, a par da Holanda, e em menor grau de França. Fora da União Europeia, a Suíça ainda continua “cara” mas tem vindo a ficar mais acessível. O que estou a tentar dizer é que a noção de valor (dos mercados) não é algo estático. E é isto que nós fazemos: entramos em diversos valuation pockets e olhamos para ações específicas; mas isso pode fazer-se ao nível do país, ou ao nível de sectores. Nós especificamente aproveitamos mais o valor das empresas, porque entendemos ser onde temos mais conhecimento.
FP – Em termos de alocação de ativos atualmente as suas prioridades em termos de sectores são as tecnologias e as telecoms ...
M – Nós somos stock-pickers e não estamos alocados a nenhum sector em específico de um só país. Muitas das valorizações mais atrativas podem ser encontradas nos sectores mais desafiantes.
FP - ... e provavelmente esses sectores mais desafiantes são onde vocês fazem a maior escolha de ações atualmente?
M – Numa pequena parcela, sim e isto é parte de ser contrário. Nós gostamos de ter a certeza que quando compramos algo, mesmo que seja uma grande empresa, que o seu preço corresponde ao seu valor intrínseco. Na prática, isto faz parte da nossa tese de investimento em que identificamos oportunidades observando empresas subvalorizadas no mercado, questionamo-nos o "porquê agora" e pelo menos chegamos à conclusão de quais as ações que estão suficientemente atrativas na nossa perspectiva, o que, saliento, não é determinante para a compra da ação, mas sim para a definição do seu eventual peso na carteira.
FP - Da perspectiva de um gestor de fundos como vê a movimentação de umas empresas para outras?
M – Tenho alguma sorte porque trabalho com doze analistas que competem entre si para ter os seus relatórios de análise e essa competição é o mais importante: uma competição por capital. Dado que Euro Equity Fund está totalmente investido e é preciso um ciclo natural de rotação da carteira, quando queremos, por exemplo comprar quinze nomes, vendemos cerca de 50 e isto permite-nos manter a nossa tendência de ser contra-corrente no lado das avaliações e garantir a diversificação. No entanto, isto é das tarefas mais difíceis de um gestor de fundos pois é confortável mantermo-nos no sucesso do passado na esperança de o conseguir replicar no futuro. Obviamente que tem que ser feita a passagem e nós conseguimos através de uma equipa grande, embora não seja uma democracia. Eu tenho a última palavra. (risos)
FP – Intitula-se por isso de stock-picker convicto...
M - Não fazemos grandes abordagens macroeconómicas, nem usamos o old fashioned plain vanilla. Sou de facto stock-picker convicto. Em termos de estilos, desde 2010, há um peso do estilo valor embora tenha caído ligeiramente nos últimos meses. O estilo crescimento também esteve presente, de forma menos expressiva. Acima de tudo, tentamos fazer uma reciclagem constante de forma a não ignorar boas oportunidades.
FP - Disse no início do ano que estava a fazer uma subponderação da Alemanha no fundo. O que mudou desde essa altura até agora?
M – Mais uma vez digo que não fazemos a alocação tendo em conta países, mas sim empresas. Atualmente temos uma subponderação relativa da Alemanha de 6%, e também de Espanha 7%, por exemplo Itália está neutral embora também ligeiramente abaixo. No que refere à Alemanha, não nenhuma razão em especial para estarmos defensivos ou até pessimistas. O país está altamente bem posicionado para beneficiar da recuperação. Isto é uma das razões pelas quais nos focamos no sector do consumo doméstico, em que destaco emissoras de televisão. A RTL, por exemplo, que tem 40% de share de audiência é uma dessas empresas. Durante os últimos anos tem-se perdido muita da capacidade de gerar lucros destas empresas de produção. Mas estes ganhos representam mais media e mais publicidade e, por isso, representam boas oportunidades.
FP – Quais os principais critérios que utiliza para selecionar os grandes nomes do seu fundo?
M – A avaliação é o que determina os retornos futuros. Certamente que não vamos querer comprar o melhor modelo que está na Suíça da indústria alimentar, por exemplo, com os preços mais altos, com a marca mais bem gerida, os melhores resultados, etc. Nós sabemos como encontrar este tipo de empresas, mas o que nos interessa é perceber qual o seu valor implícito. Para determinar isso é importante a experiência coletiva da nossa equipa e gestora, mas também perceber o que é que determinada avaliação do mercado está a dizer sobre o crescimento de vendas de uma empresa, margens operacionais ou de retornos... Um exemplo: o GEA Group que temos em carteira, é uma empresa de maquinaria de alimentação, com uma grande representação na indústria dos laticínios, etc. Mas não é só por causa disso que temos o título em carteira. Nós comprámos porque a sua valorização posterior estava a implicar 4% de margem, e acreditávamos que devia ser 12% - tiramos proveito de uma maneira diferente de ver as coisas. O que importa perguntar sempre é: “porquê agora”?