Luis Sancho (BBVA AM): “Na Zona Euro iremos contar com um crescimento anémico”

Luís Sancho BBVA
Vitor Duarte

O ano de 2020 não deverá ser muito diferente de 2019 em termos de crescimento económico, que continuará a crescer a um ritmo lento. Contudo, ao contrário do que sucedeu em 2019, o ano de 2020 poderá desenrolar-se num entorno de maior previsibilidade. Os Bancos Centrais continuarão a suportar a economia mantendo as taxas de juros baixas por um período alagado de tempo. Na esfera política os desenlaces do Brexit, da 1ª fase de acordo comercial entre os EUA e China e uma maior concordância nos temas relacionados com as questões ambientais, sociais e de boa governação corporativa (ESG) poderão contribuir para um entorno mais tranquilo.

Nos EUA com o desaparecimento dos estímulos fiscais e tomando em consideração que a guerra comercial não deixará de provocar alguns danos é expectável que a economia norte-americana possa crescer abaixo do seu potencial. Ainda assim a robustez do consumo privado continuará suportada fruto de um mercado laboral forte com crescimentos salariais à volta de 3%.

Na Zona Euro também iremos contar com um crescimento anémico, (aproximadamente 1%), com a procura externa, mais uma vez, a condicionar severamente os níveis de crescimento. Os fortes apelos do BCE para uma política fiscal mais expansionista terão que fazer eco em Berlim para mitigar os efeitos do forte abrandamento da componente industrial.

Na China, deverá acontecer uma moderação adicional ao crescimento que dependendo da severidade do impacto da guerra comercial poderá abrandar os níveis de crescimento para valores abaixo de 6%. Questões políticas como as de Hong Kong também poderão tirar o foco às autoridades chinesas em dinamizar o seu novo modelo de economia.

Da América Latina poderão surgir as surpresas positivas. Mais uma vez, e beneficiando de uma Reserva Federal em tom acomodatício os países emergentes poderão encetar reformas estruturais importantes para desbloquear o seu potencial de crescimento. Porventura, o Brasil será o país mais bem posicionado para tirar proveito deste enquadramento visto que já conseguiu alguns avanços nestas matérias como foi o caso da reforma da Segurança Social.

Ainda não foi desta que a anunciada recessão vai chegar, o abrandamento económico irá ser uma realidade mas o compromisso dos Bancos Centrais, e uma maior ambição em desenvolver políticas fiscais orientadas para um planeta mais sustentável manterá o rumo do crescimento.

A dívida soberana dos países core num contexto de maior visibilidade poderá conduzir a alguma normalização dos yields embora os mesmos não devam ter capacidade para subir muito mais além dos níveis atuais. Ainda assim, perspetivas de crescimento mais favoráveis para 2021 poderão contribuir para o aceleramento deste processo.

O crédito deverá ser uma classe de ativos que se poderá considerar cara em 2020, mas que continuará a contar com o suporte dos Bancos Centrais, em especial na Europa. Ainda assim, cupões mais altos nos EUA deverão atrair mais a atenção dos investidores. Os spreads de crédito poderão alargar ligeiramente de acordo com os níveis de crescimento esperados. A dívida emergente será, porventura, o segmento onde existirá maior valor com as emissões em dólares a apresentarem diferenciais médios à volta de 300pb face aos treasuries.

 Um quadro político mais definido, com o presidente Trump a entrar em campanha eleitoral e revisões em alta dos lucros das empresas destas geografias poderão tornar esta classe atractiva. Na Europa o impulso do novo paradigma ESG alicerçado em políticas fiscais um pouco mais expansionistas e também o fim do Brexit poderão dar alguma cor ao desempenho do equity europeu. Em termos sectoriais, o fim do corte de taxas de juro na Europa e um enquadramento menos exigente em termos regulatórios poderá fazer com que o setor financeiro, finalmente, seja a surpresa positiva no mercado accionista europeu.

Acreditamos que 2020 seja um ano bastante indicado para fundos mistos. Continuamos com uma visão construtiva em ativos de risco ainda que não exista uma aposta clara por classe de ativos. Neste contexto o fundo BBVA Multi-Asset Moderate será uma opção a ter em conta  porque permite uma boa diversificação entre diferentes classes de ativos  e diferentes geografias.