No seu artigo mensal, Carlos Bastardo reflete sobre o crescimento do turismo em Portugal e as consequências no mercado imobiliário.
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Quase que me atrevo a dizer que o turismo é o nosso petróleo. De facto, o fluxo turístico tem implicações em diferentes setores de atividade e não apenas naquilo que é mais visível que são as dormidas e as comidas.
Desde 2014 e mais particularmente em 2016 e em 2017, o turismo aumentou o seu peso nas exportações e na formação do PIB. Em 2016 as receitas aumentaram face ao ano anterior cerca de 11%, totalizando 12,6 mil milhões de euros. Este valor representou 48% do valor das exportações de serviços e 16,7% do valor das exportações nacionais em 2016. O emprego no setor do turismo aumentou 14,2% em 2016 (os postos de trabalho diretos ascendiam a 372 mil e os indiretos a 905 mil no final do ano passado).
Os setores de atividade que beneficiam com o crescimento do turismo, para além da hotelaria e restauração, são a construção (recuperação de edifícios para hotelaria, para arrendamento de curta duração e para aquisição por parte de cidadãos estrangeiros), os materiais de construção (cimento, ferro, tintas, cerâmica, madeira, materiais de iluminação…), a cultura (museus, espetáculos, festivais…), os impostos (com o aumento da receita de IVA, IRS e IMI), os produtos alimentares (por via do aumento do consumo), o aluguer de automóveis e o imobiliário, entre outros.
O turismo faz mexer múltiplas atividades que se situam a jusante e a montante do setor, daí a sua grande importância.
Relativamente ao imobiliário turístico, abriram nos últimos dois a três anos muitos hotéis e resorts em Lisboa, Porto, Algarve e noutros locais do país (65 apenas em 2016 a que equivale cerca de 2.800 quartos) e estão previstas mais aberturas até 2020. Logicamente que o setor do turismo é cíclico e no próximo ciclo negativo, até poderão fechar alguns hotéis. Contudo, mesmo que tal venha a ocorrer, pelo menos teremos os imóveis recuperados e que poderão ser readaptados / transformados para outros fins (habitação ou escritórios).
Lembram-se da baixa pombalina há seis/sete anos atrás? Tinha dinamismo? A partir de certas horas era recomendável a sua frequência? Já viram a quantidade de imóveis recuperados nos últimos anos nas várias encostas de Lisboa? E no Porto? Este é um aspeto muito positivo para a economia portuguesa e para a imagem do país lá fora.
Claro que também há aspetos negativos. Os preços dos imóveis do segmento residencial subiram significativamente no centro e bairros históricos de Lisboa e do Porto. Há imóveis a serem vendidos no centro de Lisboa entre 8.000 e 12.000 euros por m2. É difícil em termos de oferta (quantidade e preço) encontrar imóveis para arrendar a um valor adequado ao poder de compra do cidadão médio português. As pessoas são “empurradas” para fora do centro das grandes cidades ou até mesmo para fora das cidades.
Por outro lado, a agitação aumentou, em especial nos bairros históricos, com um fluxo de pessoas e de tuk-tuk’s. Claro que a “invasão” de turistas tem um brinde e uma fava. Mas penso que as consequências são mais positivas do que negativas.
Começa a faltar produto em certos segmentos de negócio, como referem a generalidade das grandes mediadoras imobiliárias, uma vez que a construção nos últimos 8 anos praticamente não existiu.
Mas se no segmento residencial, especialmente no centro das grandes cidades, o setor do imobiliário está bastante animado, sendo acompanhado pelo segmento dos escritórios (CBD – Central Business District e zonas prime), já noutros segmentos e localizações, a dinâmica não é tão visível (imóveis para indústria por exemplo), uma vez que a economia não está genericamente pujante.
Ou seja, seria positivo que o investimento e o sucesso de cada vez mais empresas portuguesas se pudesse repercutir no segmento do imobiliário industrial. O número de imóveis devolutos industriais ainda é elevado, especialmente em regiões em que a dinâmica económica foi bastante afetada com a crise e com o resgate do país em 2011 e em que os sinais de recuperação são ainda muito pouco evidentes.
Apesar de hoje ser complicado fazer previsões, penso que em condições normais os próximos 2 anos continuarão a ser positivos para o turismo e indiretamente para o setor imobiliário. A relação entre estes dois setores vai continuar a ser forte.