Stephen Wendel, responsável por Ciências do Comportamento na Morningstar, partilha várias ideias que podem ajudar os investidores a não atuar contra os seus próprios interesses.
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Todo o investidor sabe que “segredo do mercado” é vender quando os ativos estão caros e comprar quando estão baratos. Para isso, não convém andar a entrar e sair do mercado, mas sim adotar uma estratégia de longo prazo e mantê-la. No entanto, a cada novo movimento do mercado, comprovamos que os investidores se deixam levar por emoções tão básicas como a cobiça ou pânico, normalmente com resultados desastrosos.
“Os seres humanos estão desenhados para atuar”, explica Stephen Wendel, responsável por Ciências do Comportamento na Morningstar e um dos oradores da edição deste ano da Morningstar Investment Conference. “Perante um situação de incerteza – uma crise, uma mudança nas nossas vidas, ou o lançamento de um novo fundo – temos medo de não fazer nada, quando na realidade essa costuma ser a melhor opção”. De facto, são numerosos os estudos que demonstram que os investidores que mais rodam as suas carteiras são os que pior se comportam em termos relativos, a longo-prazo.
A isto se acrescenta que a maioria dos investidores, tanto profissionais como retalhistas pecam por excesso de confiança nas suas capacidades – “é impossível estatisticamente que a maioria consiga bater o mercado ou o faça melhor que a média do seu grupo de comparáveis”, sublinha Wendel – e que “nós, os seres humanos, movemo-nos por impulsos básicos e rotinas das quais nem sempre estamos conscientes”.
Que podem então fazer os investidores para não atuar contra os seus próprios interesses? A chave, para o especialista, está em “tentar eliminar o componente humano da equação”. O que não equivale a confiar as decisões a soluções completamente automatizadas como os roboadvisors, esclarece, já que é importante que as pessoas mantenham a capacidade de decisão.
No entanto, o seu primeiro conselho tem a ver com a automatização de certas decisões como, por exemplo, programar uma transferência mensal para o nosso plano de pensões ou, no caso dos consultores, designar algumas opções por defeito, já que está demonstrado que para a maioria é mais fácil aceitar um plano pre-desenhado que escolher ativamente diferentes opções.
O segundo conselho é tomar medidas para impedir, ou pelo menos dificultar, que façamos algo de que nos acabaremos a arrepender. Aqui Wendel faz referência a questões como cláusulas contratuais que proíbam ou penalizam certas práticas, ou que exijam que uma ordem seja reconfirmado ao fim de várias horas, ou dias, antes de ser executada, por exemplo.
O seu terceiro conselho está muito relacionado com a sobrecarga de informação que enfrentamos diariamente. “Se as notícias ou os gurus nos falam constantemente da crise e das oportunidades que nos oferece este ou aquele sector, acabaremos por nos deixar levar pelas emoções. É mais fácil evitar a tentação que resistir à mesma”, pelo que recomenda limitar a informação a que nos expomos, sobretudo a mais sensacionalista.
Em quarto lugar, aconselha revelar a terceiros os nossos planos, sejam os nossos objetivos de investimento ou a estratégia do fundo, com a finalidade de sermos responsáveis pelas nossas decisões perante os olhos de terceiros e que a pressão social nos ajude a não atuar de forma irracional.
Em quinto lugar, Wendel recomenda aprender sobre psicologia básica e sobre as tendências que regem o nosso comportamento, com a finalidade de evitá-las. Por exemplo, se de repente decidimos vender uma posição ou mudar uma estratégia de investimento, é-nos muito fácil encontrar argumentos que suportem essa decisão (tendência para a confirmação). Por isso, o especialista aconselha a centrar a atenção nos argumentos contrários.
Por último, sublinha a importância de nos cuidarmos adequadamente – comer de forma saudável, dormir o suficiente, manter a boa forma físicas– porque o nosso estado físico influi muito mais do que pensamos nas nossas decisões de investimento.
Por isso conclui: “Somos humanos e as nossas decisões respondem a fatores que nem sempre estamos conscientes. Não podemos mudar a natureza das pessoas, mas podemos mudar o contexto, mediante uma estratégia inteligente e uma cuidadosa planificação”.