Ativos privados, gestão ativa e ESG: a receita dos selecionadores para o momento atual

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Créditos: Kelly Sikkema (Unsplash)

Os selecionadores de fundos profissionais esperam ter de lidar com um ambiente de mercado difícil este ano. 2022 será marcado pela inflação em máximos de 30 anos, pela retirada de estímulos por parte dos bancos centrais e pelas expetativas irrealistas de rentabilidade dos clientes. Estas são as conclusões que emergem do mais recente inquérito a selecionadores preparado pela Natixis Investment Managers a nível global.

Perante as questões sobre a economia global, metade dos selecionadores de fundos diz estar preocupado com as perturbações na cadeia de abastecimento. Outros 45% apontam as políticas de bancos centrais menos expansionistas como o principal risco económico. As recentes perturbações causadas pela variante Ómicron da COVID-19, como a escassez de mão-de-obra em postos de trabalho na linha da frente, levaram 40% dos selecionadores de fundos a apontar para as variantes COVID-19 como a outra maior fonte de preocupação para a economia este ano.

“A retirada dos estímulos dos bancos centrais e a procura reprimida de serviços de lazer e de viagens por conta da COVID-19 estão a causar grandes mudanças no mercado, que os selecionadores de fundos esperam que continuem ao longo de 2022”, resume Sophie del Campo, diretora-geral da Natixis IM para a Península Ibérica, América Latina e Estados Unidos Offshore.

Efeito nas carteiras

E como está a influenciar o seu posicionamento? De acordo com o estudo, os selecionadores de fundos preparam-se para fazer movimentos táticos, mas não de grande envergadura, com vista a equilibrar o potencial de risco/retorno das carteiras.

Em resposta, as empresas de investimento procuram alocações estratégicas e diversificadas em ativos privados, gestão ativa e ESG. Precisamente na região ibérica, isto está em consonância com um interesse crescente que os investidores manifestam, tanto a nível particular como institucional, por ativos privados líquidos e ilíquidos.

Outra classe de ativo de interesse para investidores ibéricos é a das megatendências a longo prazo, acima de volatilidades mais imediatas. Por último, destacam também o foco nos investimentos de impacto que, com o desembolso esperado dos fundos Next Generation da UE, estão a gerar grandes expetativas para os setores expostos à transição sustentável e à digitalização da economia”.

Os ativos privados primam nas apostas de classe de ativos

Numa altura em que as taxas de juro estão perto de mínimos recorde, os selecionadores de fundos têm apostado nos mercados privados na sua procura de fontes alternativas de retorno. Os resultados do inquérito mostram um aumento das alocações a investimentos geradores de rendimentos nos mercados privados nos setores das infraestruturas (45%), dívida privada (35%) e imobiliário (30%).

O capital de risco também esculpiu um nicho para si próprio entre as alocações de tipo alternativo. Nove em cada dez selecionadores que possuem esta classe de ativos vão procurar explorar o potencial de obter rentabilidades superiores com uma correlação inferior aos valores tradicionais, mantendo (47%) ou aumentando (45%) a sua posição neste tipo de investimento.

As estratégias de obrigações serão objeto de um escrutínio acrescido. 39% dos selecionadores de fundos dizem que antecipam a redução das suas alocações a dívida pública, sensível às taxas.  No entanto, 50% dos que investem em green bonds indicam que pretendem aumentar as suas posições em 2022, uma vez que a mudança para estratégias focadas nos critérios do ESG continua a manter-se.    

Por setor, 54% dos selecionadores de fundos estimam que a energia se destaque este ano, seguida de perto pelas finanças (51%) e pelos cuidados de saúde (47%). A perspetiva geral da tecnologia também é positiva. 43% antecipa que este setor registará uma maior rentabilidade. Embora haja alguma preocupação com uma possível mudança de tendência nas grandes empresas tecnológicas, 65% acredita que este setor continuará a crescer em 2022. 

Gerir as expetativas dos clientes

As carteiras modelo estão a revelar-se um fator chave para as empresas na gestão das expetativas dos seus clientes e na exposição ao risco. Assim, 82% acredita que os modelos permitem fornecer aos seus clientes uma experiência de investimento mais consistente, enquanto 85% acredita que os modelos fornecem uma abordagem otimizada. Quatro em cada cinco inquiridos indicam que a sua empresa já oferece carteiras modelo.

Além disso, as carteiras modelo aumentam a eficiência. Sete em cada dez selecionadores indica que fornecem um grau adicional de diligência. Desta forma, os consultores podem passar mais tempo a ajudar os seus clientes a cumprir os seus objetivos a longo prazo.

Os selecionadores de fundos salientam que é também necessário desenvolver modelos especializados em carteiras temáticas de investimento (38%), investimentos alternativos (34%), gestão fiscal (26%) e rendimentos (25%), o que implica que os modelos oferecem uma forma consistente e eficiente de atender a um vasto leque de necessidades fundamentais dos clientes.