“Acabou-se o rally das obrigações. Há que fazer a preparação para a normalização”. Assim começou Bob Michele, diretor de investimentos e responsável de obrigações globais, divisas e matérias primas da J.P. Morgan AM, a sua intervenção num seminário sobre fundos de obrigações flexíveis. Nesse mundo “mais convencional” haverá mais inflação e mais crescimento e a Fed terá que atuar em consonância, mas com cuidado para não ser demasiado disruptiva para os mercados.
Nos EUA, a combinação de uma a economia a crescer e um nível de desemprego abaixo dos 5%, as políticas de estímulo fiscal através de investimentos e as reformas estruturais, deverão produzir mais crescimento e mais inflação. Visto que o desemprego está em níveis baixos, o que se espera é que haja uma melhoria dos salários, algo que Trump necessita para que os republicanos mantenham a maioria em ambas as câmaras no ano de 2018.
Há aspetos da chamada “Trumponomics”, como os cortes de impostos, os investimentos em infraestruturas e a redução de requisitos regulatórios que podem ter um efeito positivo tanto no crescimento como na evolução dos mercados. Outros, como o enfoque na reindustrialização, a eliminação do Obamacare ou o imposto fronteiriço terão o efeito contrário. Esse imposto poderá favorecer um fortalecimento do dólar que impactará o crescimento e poderá fazer parte do trabalho da Fed.
Para Michele, mais do que a época de Reagan, o antecedente histórico mais adequado para pensar na evolução da economia sob Trump, é o governo de Eisenhower. Com maioria republicana em ambas as câmaras, um grande programa de investimento em infraestruturas e sob o tema “menos governo nas empresas e mais empresas no governo”, as coincidências parecem evidentes. Baseando-se na evolução da política monetária no período 1955- 1968, Michele considera que o caminho da normalização para taxas de curto prazo a 4% poderá levar entre cerca de 5 e 10 anos.
Nesse caminho, “a Fed deverá começar a subir em março até alcançar cerca de 2% o que ainda será um nível bastante acomodatício já que representa uma taxa real de 0%. Alcançados os 2% deverá esperar-se para ver como evoluem as pressões reflacionistas”, assinala Michele. Desta forma, a Fed terá que gerir com cuidado a redução da dívida no seu balanço para não alterar de forma extrema os mercados.
Essa combinação de maior crescimento e mais inflação representa no campo da gestão das obrigações cortar a sensibilidade da duração e aumentar a aposta pelo crédito, sobretudo pelo estreitamento dos spreads, cobrindo na medida do possível o impacto na subida das taxas. Desta forma, a dívida emergente em moeda local pode dar lugar a oportunidades, sobretudo à luz do duro castigo que muitas divisas emergentes têm sofrido nos últimos anos. Na Europa, as obrigações corporativas têm bons fundamentais, embora tenha que se ser precavido perante a evolução dos diversos eventos eleitorais.
Nessa mesma linha de pensamento, Travis Spence, responsável para Europa e Médio Oriente das carteiras de clientes em obrigações globais, divisas e matérias primas da J.P. Morgan AM, realçou a pertinência de apostar numa gestão flexível das obrigações. Um dos fundos mais flexíveis da casa é o JP Morgan Global Bond Opportunities Fund. Trata-se de um fundo de retorno total, com um enfoque oportunístico e um objetivo de volatilidade entre 5% e 10%.
Para Spence, “ainda se pode ganhar dinheiro nas obrigações, mas a forma de aceder aos mercados mudou. Há que ser muito mais flexível, encontrar as melhores ideias e sobretudo evitar as piores”. A chave é encontrar essas melhores ideias entre 15 categorias de dívida em cerca de 50 países e ser o suficientemente dinâmico em função da evolução dos mercados.