Daniela Savoia (Edmond de Rothschild AM): “A valuation é o argumento-chave para o investimento nos mercados emergentes neste momento”

Gestora de carteiras da equipa de Dívida de Mercados Emergentes, Daniela Savoia, da Edmond de Rothschild AM, em entrevista à FundsPeople, fala dos argumentos a favor do investimento nos mercados emergentes.

Que característica distintiva apresenta a vossa abordagem de investimento às obrigações soberanas de mercados emergentes?

A característica mais distintiva da nossa abordagem de investimento a esta classe de ativos é a flexibilidade e elevada convicção. Do lado da flexibilidade, temos a capacidade de beneficiar de um diversificado leque de oportunidades por todos os segmentos dos mercados emergentes com margem para uma gestão oportunista. Adicionalmente, também temos a flexibilidade de usar derivados para cobrir posições quando aplicável. Ao mesmo tempo, focamo-nos nas mais apelativas convicções de investimento com uma visão de médio a longo prazo enquanto procuramos otimizar o nosso perfil de risco versus retorno.

Quais são os argumentos a favor do investimento na classe de ativos atualmente?

A valuation é o argumento-chave para o investimento nesta classe de ativos neste momento. Os atuais spreads das obrigações high yield dos mercados emergentes estão acima de 830 bps, e só estiveram assim duas vezes no passado (março 2020 e 2008). Historicamente, quando o sub-índice high yield esteve entre 750 e 850 bps, os retornos de spread nos seis meses seguintes estiveram acima de 10% durante 84% do tempo. Adicionalmente, em mais de 70% do tempo, os retornos de spread a 12 meses estiveram acima de 15%. Portanto, enquanto o curto prazo pode continuar volátil, estamos confiantes do potencial de estreitamento num horizonte mais longo. Apoiando a nossa teoria sobre as valuations, vale referir que os fundamentais dos mercados emergentes estão mais fortes do que há 10 anos com a maior parte dos países a mostrar reservas de moeda estrangeira em níveis mais elevados e com os bancos centrais a agir de forma mais proactiva.

Que países podem ser os próximos outperformers e porquê?

No nosso ponto de vista, o estreitamento dos spreads vai ser um motor de desempenho e não as taxas. Assim, nomes que foram fortemente afetados este ano são os que têm maiores probabilidades de recuperar mais rapidamente que o mercado de um modo geral. Vemos três conjuntos diferentes com potencial outperformance: (1) Histórias macro globais: emissões  como as do Senegal, Egipto e Nigéria que estão a oferecer oportunidades muito interessantes depois do sell-off; (2) Países geopoliticamente afetados: este conjunto inclui a maior parte da Europa central e de Leste, incluindo as obrigações da Sérvia, que foram materialmente afetadas pelos recentes desenvolvimentos geopolíticos, mas vão beneficiar de uma estabilização do conflito; (3) Crédito idiossioncrático: Sri Lanka e Zambia devem ter as suas reestruturações concluídas este ano, oferecendo um potencial de retorno muito interessante se assim o decidirem.

Como estão posicionados e como é que esse posicionamento reflete as vossas expetativas para as obrigações soberanas dos mercados emergentes como um todo?

Estamos posicionados para beneficiar de uma eventual recuperação nos spreads high yield enquanto também estamos diversificados em histórias de investimento idiossincráticas como a Zâmbia e o Sri Lanka, tal como histórias geopoliticamente relacionadas como a Ucrânia e a Sérvia. O nosso portefólio está atualmente a cotar com uma yield acima dos 13% já que nos estamos a focar em nome que têm um perfil de retorno/risco mais apelativo. Este posicionamento reflete a nossa visão da relativa atratividade dos spreads high yield vs investment grade e que as obrigações soberanas dos mercados emergentes são mais resilientes atualmente do que no passado.