O grau no qual se viu a confiança dos investidores em 2018 reflete-se com maior nitidez no PER do que no S&P 500 em si. A relação preço/lucro (PER) é um indicador popular, embora não perfeito, que mostra a valorização relativa das ações; ou seja, se uma ação está cara ou barata. Embora existam outras alternativas mais modernas e equilibradas, este continua a ser um dos indicadores favoritos dos investidores. Segundo explicam da DWS, 2018 foi um ano marcante para as ações norte-americanas e para a média do seu PER.
“Calculado sobre a base dos lucros dos últimos doze meses, o PER caiu, do seu máximo de 23 em janeiro, para pouco mais de 17. Embora a redução de impostos tenha desempenhado um papel no máximo de janeiro – os preços aumentaram em previsão de maiores ganhos líquidos, que apenas se materializaram no final do primeiro trimestre – a perda de confiança foi considerável. Até se pode observar que os investidores estão a pagar um múltiplo significativamente menor por ganhos atualmente do que em setembro de 2016, ou seja, antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos”, afirma. (Fonte do gráfico: Bloomberg Finance L.P., DWS Investment GmbH a 28/12/2018. Calculado na base dos ganhos dos últimos 12 meses).
A questão é que o PER está agora praticamente em linha com a média das últimas décadas. “Esta não é razão para dar saltos de alegria e também não significa muito para as perspetivas do mercado a curto prazo. Infelizmente esta valorização diz muito pouco sobre o futuro comportamento do preço das ações. Apenas quando o horizonte expandir significativamente é que o PER se tornará mais significativo”, assegura Thomas Bucher, estratega de ações na gestora alemã.
A J.P. Morgan AM fez uma análise e tem a resposta. A primeira coisa que fizeram na gestora americana foi recolher a série histórica total do mercado de ações americano, analisando em cada um dos pontos do PER (eixo horizontal) qual foi a rentabilidade oferecida pelo mercado a um ano. Ou seja: em todos os meses de 1988, o que fizeram foi estudar qual foi o retorno oferecido pelo S&P 500 nos doze meses seguintes (por exemplo, identificar a que PER cotava a bolsa norte-americana em janeiro de 1988 e anotar qual foi o retorno gerado pelo mercado até janeiro de 1989; identificar o PER da Bolsa de Nova Iorque em fevereiro de 1988 e apontar a sua rentabilidade até fevereiro de 1989, etc).
“O que se pode concluir daquela análise é que há muita dispersão. Houve momentos nos quais se pôde comprar a um PER de 14 vezes e no ano seguinte o mercado tinha perdido cerca de 40%. Da mesma forma, também houve anos nos quais se pôde comprar a um PER de 14 vezes e o mercado gerou uma rentabilidade de 50% nos doze meses seguintes. Isto significa que o PER não serve para prever rentabilidades no curto prazo. Os mercados podem cair a doze meses se o PER não estiver em níveis excessivos”, explica Manuel Arroyo, diretor de Estratégia da J.P. Morgan AM para Portugal e Espanha. No entanto, da mesma forma que o PER não fornece muita informação em termos de rentabilidade esperada face a um ano, a um período mais longo é um fator importante em termos do retorno que o mercado pode gerar. Isto é o mais importante do estudo.
“Se em vez de se analisar as rentabilidades geradas pelo mercado a doze meses, se se analisar a dez anos, pode-se observar que existe uma relação muito clara entre o PER ao que se compra e a rentabilidade anualizada oferecida pelo mercado na década seguinte. Assim, por exemplo, se tivesse comprado nos últimos 30 anos a um PER de 11 vezes, a rentabilidade anualizada dos dez anos seguintes estaria entre cerca de 15% e cerca de 20%. À medida que se compra com PER mais elevados, essas rentabilidades tendem a cair. Assim, quando comprar com um PER de mais de 20 vezes, historicamente as rentabilidades geradas a dez anos são negativas. Neste momento estamos num PER de 17 vezes, o qual historicamente deu, face a dez anos, uma rentabilidade anualizada de entre os 5% e os 10%”, revela Arroyo.
“É difícil oferecer conselhos de investimento neste clima, especialmente no curto prazo mas também no longo prazo. Emitir qualquer recomendação baseada nestes valores não constitui um conselho objetivo. Afinal de contas, como Aristóteles afirmou, o ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete”, assinala Igor de Maack. O que este gestor da DNCA, filial da Natixis IM tem claro, é que os vendedores mandam. “Há muitos poucos compradores no mercado. Os tais compradores não são tão atrevidos como seria necessário para entrar quando o investimento da curva das yields fosse cada vez mais óbvio”.
Tais investimentos são muitas das vezes (embora nem sempre) um mau indício para o ciclo económico. “Por agora, os mercados antecipam uma desaceleração, mas a noção de uma recessão também mostra a sua pior cara entre os mais pessimistas. Num contexto de baixa liquidez, todas as estratégias ganhadoras dos últimos dez anos vão ser novamente questionadas. A inflação dos ativos está a baixar e os governos começam a dar-se conta de que não conseguiram deixar para trás esta inflação nos ativos para avançar para o poder de compra dos cidadãos”, conclui o especialista.