Forjar a porta da democratização dos alternativos: a perspetiva de vários profissionais

conferencia anual schroders
Pedro Mello e Castro, Tiago Roquette Geraldes, Jorge Sousa Teixeira, Mário Garcia Ribeiro e Mário Pires. Créditos: Schroders

A Schroders organizou recentemente mais uma edição da sua conferência anual em Lisboa, e nela houve espaço para falar sobre vários temas que marcam a forma como se investe atualmente. 

A emergência da Inteligência Artificial generativa e o seu impacto nas ações, ou o novo amanhecer para o crédito global, foram dois desses temas. Mas aquele que mereceu uma mesa de debate na qual profissionais portugueses deram os seus insights foi outro: os alternativos ilíquidos e a sua democratização. Moderada por Mário Pires, responsável do Negócio em Portugal da Schroders, a discussão contou com Pedro Mello e Castro, responsável de Poupança e Investimento do Banco Santander Portugal, Tiago Roquette Geraldes, diretor de Capital de Risco da IM Gestão de Ativos, Jorge Sousa Teixeira, CEO da BPI Gestão de Ativos, e Mário Garcia Ribeiro, diretor de Investimentos na Schroders Capital. 

Vários impulsos, mas o desempenho é fulcral 

Para Pedro Mello e Castro, que conhece bem o perfil do cliente de banca privada, tornar acessível a vários tipos de clientes os produtos alternativos é um tema muito oportuno. Ciente de que a penetração desta classe de ativos é já mais elevada nos clientes institucionais, a democratização ainda é parca noutro segmento, o dos particulares. E como chegar a esses clientes? Na sua perspetiva, são vários os fatores que podem acelerar esse ponto de contacto, sendo o primeiro deles a oferta. “A oferta tem que ser orientada necessariamente para clientes não profissionais, que é um universo muitíssimo relevante. Tem que ser uma oferta relativamente abrangente do ponto de vista de estratégias, mas também de diversificação geográfica. Nesta fase têm de ser, na nossa perspetiva, verdadeiros porta-aviões”, começou por elencar. 

A questão operacional e o desempenho foram outros dois pontos destacados. O responsável acredita que deverá haver uma “automatização de todo o processo de compra destes produtos, nomeadamente quando estes têm capital calls”. No entanto, é a performance que considera como mais relevante, pois investir nos mercados públicos continua a compensar. “O índice S&P 500, por exemplo, entregou 12% ao ano nos últimos dez anos e, portanto, tem que ser inequívoco o valor acrescentado que os alternativos entregam”. 

Para Pedro Mello e Castro, o principal risco associado à democratização destes ativos é o misseling. Posto isto, Tiago Roquette Geraldes, da IM Gestão de Ativos, acredita que há que fazer “o trabalho de explicar porque é que as propostas que existem em cima da mesa são realistas”, já que, de facto, estamos a falar de uma classe de ativos onde os “riscos são um bocadinho mais intensos”. 

Tom positivo na narrativa

Os resultados dos private equity e a própria história que têm para contar também ajudam. Para o profissional da entidade gestora portuguesa, Tiago Roquette Geraldes, tem-se assistido “a uma grande consistência ao longo do tempo nos grandes private equity em termos de retorno, que teve que ser demonstrada ao longo dos anos”. Ajudaram a isso as várias bases de dados disponíveis, relata, pois “começou a ser mais fácil olhar para esta classe de ativos e descobrir as suas performances”. O profissional da IM Gestão de Ativos aponta mesmo que esta classe de ativos já se abriu a alguns clientes de banca privada, sendo a narrativa destes instrumentos mais clara. “Estamos numa altura em que, provavelmente, grande parte dos investidores particulares finalmente absorvem a informação sobre esta classe de uma forma positiva”, diz mesmo. 

A evidência é grande sobre o facto de estar apenas investido nos mercados líquidos deixar de fora boas oportunidades. Jorge Sousa Teixeira, da BPI GA, começou a sua intervenção por enfatizá-lo, reconhecendo que as ações ou as obrigações não permitem chegar a todo o potencial de crescimento gerado por uma economia, que na sua maioria é composta por empresas do foro privado. No seu entender, a própria indústria de private equity e real estate teve as suas mudanças, deixando para trás o foco que tinha em leverage, para ganhar uma “uma nova capacidade de geração de valor, pela eficiência operacional e pela alteração da estrutura de governance”. E a verdade é que, como relembra, o próprio mercado tradicional também comporta riscos. “Com a minha carteira tradicional posso não conseguir gerar o suficiente para manter o poder de compra num ambiente em que a inflação está em 2,5 ou 3%. Fica evidente, talvez, que não chega estar nestes mercados listados”, referiu. 

Mário Gárcia Ribeiro, da Schroders Capital, partilhou a visão de quem conhece bem os meandros desta classe e, como o próprio diz, “aquilo que correu bem e menos bem”. Como no caminho da democratização a confiança também é um fator importante, o profissional fez questão de frisar que “as equipas de gestão investem o próprio dinheiro nos fundos de private equity”, sendo este procedimento “um requisito dos próprios fundos para haver alinhamento de interesses e não se tratar apenas de management incentive package”. Uma caraterística que o próprio apelida de “única, comparando com outras classes de ativos”. Para Mário Garcia Ribeiro, o processo crescente de profissionalização dos fundos de private equity acabará por “tornar as economias mais eficientes”, algo que acontece já nos EUA, onde a pedagogia feita sobre o assunto é antiga. Na Europa, por sua vez, há caminho a fazer, mas os últimos 20 anos trouxeram avanços. “Acho que tem evoluído muito, de forma positiva”, remata.