Risco de reinvestimento: o que é e como pode afetar o investimento em obrigações

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Créditos: Christian Dubovan (Unsplash)

O regresso das rentabilidades aos mercados de obrigações que provocou a subida de taxas de juro levada a cabo pelos bancos centrais disparou o interesse pelo investimento direto em obrigações e depósitos. No entanto, o contexto atual, com os bancos centrais em modo de pausa nas suas subidas de taxas, pode mudar radicalmente a atratividade que, até agora, estas emissões têm apresentado. E a razão é o risco de reinvestimento.

O que é o risco de reinvestimento?

O chamado risco de reinvestimento é o que o detentor de um título de obrigações assume, como consequência do efeito que a evolução das taxas de juro pode ter no reinvestimento dos fluxos derivados do investimento. Este risco ocorre sempre devido aos fluxos de caixa gerados, bem como pelo reembolso do principal ou pelo preço de mercado do ativo, caso o horizonte temporal do investimento não coincida com a data de vencimento deste.

No blog da Abanca explicam-no com um exemplo. “Se um investidor possui uma obrigação que rende 4% ao ano e, no momento do seu vencimento, as taxas de juro no mercado diminuíram 2%, agora, o dinheiro reinvestido ganhará uma menor taxa de juro do que antes”, afirmam.

Por que é importante agora?

No último ano, todas as reuniões dos bancos centrais acabaram com uma subida das taxas de juro. Isto significava que a previsão do investidor era sempre a de obter uma melhor taxa juro pela sua obrigação com cada vencimento. No entanto, o abrandamento económico e a queda da inflação permitiram aos bancos centrais situar-se agora num terreno de wait and see, e até o mercado prevê que vai haver descidas das taxas de juro a partir do segundo semestre. “O risco de reinvestimento é uma realidade num contexto em que tanto o Banco Central Europeu (BCE) como a Reserva Federal (Fed) concluíram o seu ciclo de subidas”, explica Kevin Thozet, membro do Comité de Investimentos da Carmignac. E isto afeta sobretudo os prazos mais curtos.

“Se nos centrarmos nas obrigações a curto prazo, e refiro-me a contas à ordem, depósitos e emissões de obrigações até a um máximo de dois anos de vencimento, surge-nos uma reflexão importante. Os investidores que optem por não fazer nada e decidam manter-se na parte curta da curva vão enfrentar um elevado risco de reinvestimento. A que taxa poderá renovar o seu investimento de curto prazo no espaço de uns meses? A nossa recomendação é procurar um carry atrativo e assegurá-lo o máximo de tempo possível”, explica David Levy da Diverinvest.

Como pode ser evitado ou, pelo menos, reduzido

Nestes últimos meses, a corrida a que se tem assistido ao investimento em depósitos ou em títulos de curto prazo também teve o seu impacto na indústria de fundos. De facto, as gestoras têm vendido, em massa, fundos de obrigações com vencimento definido e também de rentabilidade objetivo que investem especificamente neste tipo de emissões. A diferença está no facto de estes produtos não investirem apenas numa emissão ou obrigação, mas também em várias e vários prazos, o que pode mitigar esse risco de reinvestimento. “Os cupões e o capital que se recebe ao vencer uma obrigação devem ser reinvestidos em fases posteriores à vida do fundo, potencialmente a níveis de yields mais baixas. Para ajudar a reduzir o risco de reinvestimento, um gestor pode limitar a proporção de obrigações resgatáveis na carteira e investir em obrigações com vencimentos estritamente alinhados com o prazo do fundo”, explica James Briggs, gestor de carteiras na Janus Henderson. Ganha-se diversificação e reduz-se o risco.