“O fim da Era de dinheiro barato significa que vamos ver retornos mais diferenciados. As empresas vão mover-se de forma idiossincrática”, assinala John Bilton, responsável da equipa Multi-asset Solutions da J.P. Morgan AM.
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“Nunca subestimem a capacidade do consumidor americano em gastar dinheiro que não tem em coisas de que não precisa”. É uma metáfora humorística através da qual John Bilton pretende ilustrar o fenómeno que foi o ano de 2023. Há apenas 12 meses, o consenso do mercado era completamente oposto ao atual. A recessão parecia dada como adquirida, tendo em conta que a inflação continuava em níveis muito altos e os bancos centrais tinham de continuar a subir agressivamente as taxas. Contudo, o panorama para os ativos de risco em geral complicava-se para 2023. No entanto, contra todos os prognósticos, esse cenário negativo não se materializou.
O que aconteceu? “A economia global demonstrou ser mais resistente do que se pensava”, reconhece o responsável da equipa Multi-asset Solutions da J.P. Morgan AM. Ainda que os estímulos fiscais nos EUA, como a Lei CHIPS e a Lei da Redução da Inflação (IRA), tenham contribuído para assegurar a sua economia, Bilton defende que a verdadeira força veio do consumo interno. O resultado foi um ano forte para as ações, especialmente a partir do último trimestre.
Assim, quanto às lições retiradas de 2023, destaca vários fenómenos interessantes. O primeiro, o facto de a economia global parecer menos sensível às variações das taxas de juro, e o segundo, o ciclo económico ter-se dessincronizado a nível global, pelo que, ainda que possa ocorrer uma desaceleração económica em várias regiões, o facto de não surgirem ao mesmo tempo pode evitar a clássica recessão profunda e global. “Além disso, os excessos típicos de uma recessão não estão presentes”, defende o especialista.
Carteiras mais inteligentes para 2024
Para o próximo ano, o especialista defende que se “siga o dinheiro”. Olhando para o futuro, Bilton deteta quatro grandes temáticas que vão afetar os mercados:
- Um economia em transição. As políticas industriais voltam a estar em cima da mesa dos governos, como já vimos com a implementação da Lei CHIPS nos EUA ou o Plano NextGen na Europa.
- As alterações climáticas. A transição energética continua. “A cada ano, 4,5% do PIB vai destinar-se ao investimento nas infraestruturas do futuro. São quantidades enormes de dinheiro comprometido que não vai ser revertido”, insiste.
- Transição política. “Quando se puxa a alavanca fiscal, significa que a política monetária já não é tão necessária. Os investidores vão ter de mudar de mentalidade depois de uma década em que os bancos centrais determinavam o ritmo”, explica Bilton.
- Evolução tecnológica. A potencial melhoria na produtividade que a Inteligência Artificial e a automatização vão trazer vai afetar todos os setores da economia nesta nova etapa. Já não estamos apenas perante uma revolução industrial, mas também no setor de serviços.
Perante estas mudanças nas correntes, John Bilton acredita que o investidor tem de construir carteiras mais inteligentes. A boa notícia é que o ponto de partida é bom. “Os retornos esperados para uma carteira 60/40 são até superiores aos do ano passado”, sublinha.
E o que entende Bilton por carteiras mais inteligentes? Por um lado, expandir o leque de oportunidades. “Ter uma visão verdadeiramente global quanto às classes de ativos. Olhar para a frente e não para trás. Há quanto tempo é que não pensamos no Japão?”, propõe o especialista. Por outro lado, acrescentar valor com a gestão ativa. “O fim da Era do dinheiro barato significa que vamos ver retornos mais diferenciados. As empresas vão mover-se de forma idiossincrática”, assinala o especialista.
Onde estão as oportunidades em 2024
“Olhando para trás, 2023 foi um ano complicado para os investidores, mas por razões diferentes das que esperávamos. Com os níveis médios de liquidez tão altos, significa que muitos se perderam na recuperação dos mercados”, lamenta. E Iain Stealey, diretor de Investimentos da equipa de Obrigações, concorda com a sua reflexão: “Os vencedores do ano passado foram os investidores que estavam dentro do mercado”.
Stealey já alertava há 12 meses: as obrigações voltaram. E a sua mensagem para 2024 é a mesma: as obrigações continuam de volta. “Há que recordar que nos movemos num contexto muito diferente do ano passado. Em janeiro de 2023, a inflação ainda estava em 9%. Atualmente, encontramo-nos abaixo de 3%. Agora, os bancos centrais não falam de subidas de taxas, mas sim de descidas. É uma melhoria significativa das condições”, afirma. Assim, se tivesse de destacar uma das oportunidades interessantes que identifica atualmente, o gestor opta por dar foco às obrigações governamentais. “As obrigações espanholas são as nossas obrigações governamentais favoritas nestes momentos. Têm uma valorização mais atrativa do que as alemãs, a inflação nos países do sul da Europa foi mais bem controlada e há apetite pelo segmento”, argumenta.
Malcom Smith, responsável da equipa de Ações, também partilha o tom otimista, mas também defende que não é uma boa altura para fazer grandes apostas quanto a vieses de estilo. Além disso, Smith identifica várias ideias no mercado atual. Desde as valorizações atrativas das small caps, passando pelo Japão e pela Europa, mas também lhe parece bastante interessante o momentum positivo na banca europeia. “Os investidores continuam a pensar que os bancos europeus estão como em 2008, e isso não é verdade”, defende.