TRIBUNA de Carlos Bastardo.
O enquadramento atual permite antever que após o período de férias, altura em que muitos problemas deixam temporariamente de ser problemas, a situação não vai ser fácil.
A guerra causada pela Rússia de Putin não parece ter fim à vista, o que fez aumentar a inflação que já estava a subir antes de fevereiro. E a inflação parece querer permanecer nos próximos meses em valores muito pouco habituais.
Uma elevada inflação sem acompanhamento de uma subida salarial consentânea dita a perda de rendimento disponível, com impacto negativo no consumo e no aumento do endividamento caso se pretenda manter o mesmo padrão de consumo (cartões de crédito). E com isso, vem a desaceleração do crescimento económico numa primeira fase e eventualmente recessão em algumas economias. A subida das taxas de juro é outra consequência como está a acontecer.
A inflação tenderá a baixar devido a um soft-landing ou a uma recessão, mas tal ainda levará uns meses. Já vemos o preço das commodities a baixar dos máximos, entre os quais o preço das commodities energéticas, o que certamente fará baixar a inflação dos atuais níveis dos 8% a 10% (junho). Se tal vier a acontecer, poderá levar os bancos centrais a não serem tão agressivos na subida das taxas de juro.
A desaceleração do crescimento económico pode ter implicações ao nível da performance das empresas. Estamos neste momento a viver a época de resultados do segundo trimestre e para já é positiva, embora estejamos no início especialmente na Europa.
Toda a incerteza que se vive tem levado a uma queda dos ativos de risco. Até 21/7, o índice S&P 500 (EUA) estava com uma performance negativa em 2022 de 16% e o índice Stoxx 600 (Europa) estava a perder 13%. Mas já estiveram a perder mais, tendo o S&P 500 estado em 3636,87 pontos em 17/6 (mínimo do ano e dos últimos 12 meses), tendo recuperado para os 3.998,95 pontos em 21/7.
Os bancos centrais, especialmente o BCE, vão ter um grande dilema nos próximos 12 meses. Será que o FED vai rever os seus objetivos em função da desaceleração económica ou vai manter como prioridade o combate à inflação? E o BCE que só agora iniciou o ciclo de subida das taxas de juro com 0,5% (não acontecia há mais de 20 anos), vai ser tão rápido como o FED ou vai ser mais cauteloso, uma vez que há países como Portugal que não fizeram o trabalho de casa quando o ciclo económico foi positivo antes da pandemia e estão com a dívida em máximos? Se a prioridade do BCE é a estabilidade de preços, penso que poderá subir mais 1% a 1,5% as taxas de juro até final de 2023. Mas tudo vai depender da evolução económica. Para já o BCE não espera recessão em 2022 e 2023.
Esta é outra vertente que nos vai obrigar a ter atenção nos meses após as férias. Qual vai ser o comportamento dos bancos centrais? Nos últimos meses de 2021 e nos primeiros meses 4 a 5 meses de 2022, andaram behind the curve, pois consideraram que a inflação era um problema de poucos meses. Agora, poderão ter a tentação de aplicar retroativos no ritmo de subida das taxas de juro e comprometer seriamente o crescimento económico e a situação financeira e de risco de alguns países.
Tal como referi antes, a inflação vai ser a variável determinante na atuação dos bancos centrais. Se esta começar a descer para níveis de 4% a 5% até final do ano, poderão moderar a subida das taxas de juro em 2023. Caso a economia desacelere mais do que o previsto e entremos numa recessão, até poderão terminar o ciclo de subida das taxas de juro em 2023 ou até ter que inverter o ciclo.
Começamos a ver a nível global países em agonia, alguns pedindo proteção dos credores. Será que esta situação vai estar circunscrita a poucos casos ou irá alastrar?
Como podem ver, a incerteza é enorme, pelo que, o melhor mesmo é descansarmos nas férias, pois o regresso não vai ser fácil!
Boas férias para todos.