Yield dos treasury bonds nos 5% e não só!

Carlos Bastardo
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

COLABORAÇÃO de Carlos Bastardo.

Em julho de 2020, a yield das obrigações a 10 anos americanas (os conhecidos treasury bonds ou simplesmente T Bonds) estava nos 0,50% e em outubro de 2023 está muito perto dos 5%. Um crescimento de 10 vezes em apenas 3 anos e um trimestre.

Esta subida da yield foi mais vincada a partir de finais de 2021, quando a inflação já estava elevada nos EUA.

Se analisarmos agora a evolução da taxa de juro dos empréstimos hipotecários a 30 anos nos EUA (30-Year Fied Rate Mortgage Average), verificamos que estão em máximos dos últimos 20 anos (embora poucos meses antes de outubro de 2000, mais precisamente em 19/05/2000, estava nos 8,64%). Atualmente (19/10) a taxa de juro está nos 7,63%, quando em 18/02/2021 estava nos 2,81%.

São subidas impressionantes que naturalmente têm efeitos negativos na economia: mais encargos financeiros para as empresas e para as famílias americanas.  

A próxima reunião da Reserva Federal Americana (FED) ocorre nos dias 31/10 e 1/11. Se até à semana passada, antes da divulgação da inflação nos EUA, a probabilidade de uma nova subida da FED Funds era baixa (cerca de 15%), com os dados do CPI e do core-CPI, a percentagem dos analistas que consideram ser possível uma nova subida aumentou. Jerome Powel em recentes declarações, expressou alguma surpresa pela resiliência da economia americana e do mercado de emprego.

A questão fulcral nos próximos meses é vermos a inflação continuar a descer. Apesar de o presidente do FED ter referido que grande parte do trabalho está feito, o recente fator de risco geopolítico (conflito Israel / Hamas) pode ter como consequência maior volatilidade na evolução do preço do petróleo e, por consequência, no preço dos combustíveis.

Caso estejamos perante o pico do ciclo de subida das taxas de juro nos EUA e as expetativas desse cenário sejam incorporadas pelos investidores, teremos como reflexo uma evolução descendente das taxas de juro forward e das yields das obrigações proximamente.

Por outro lado, vamos ter de estar atentos à evolução do incumprimento do crédito hipotecário ao nível das famílias americanas e o impacto da subida do custo da dívida financeira nas empresas, a par dos efeitos negativos na economia (consumo).  

Na Europa, apesar de as taxas de juro serem mais baixas que nos EUA, é de salientar que o custo financeiro para as empresas europeias está no nível mais elevado dos últimos 15 anos e que os bancos europeus estão a endurecer os requisitos para a concessão de crédito, nomeadamente ao nível do spread de risco de crédito e dos colaterais a apresentar.

E dado que as empresas portuguesas e europeias são em geral mais dependentes do crédito bancário, ao passo que nos EUA existe mais a cultura de levantar fundos no mercado de capitais, é provável que os efeitos negativos da subida do custo do dinheiro sejam maiores na Europa.

Caso as dificuldades em obter financiamento a custos financeiros aceitáveis aumentem, as empresas poderão sempre recorrer a outras alternativas de financiamento, como por exemplo as operações de sale-leaseback. Esta alternativa, nestes tempos de volatilidade (incerteza), pode constituir uma excelente opção para as empresas encaixarem dinheiro e para os investidores adquirirem os imóveis, mantendo a empresa como arrendatário com base em contratos de arrendamento de m/l prazo.

Para além desta alternativa de financiamento, existem outras possíveis, que normalmente são abordadas nas disciplinas de financiamento de curto e de m/l prazo que leciono no Pós-Graduação em Controlo de Gestão e Finanças Empresariais no ISEG.