A avaliação das entidades internacionais ao novo arco parlamentar que resultou da votação de passado domingo.
As eleições espanholas desenharam um novo arco parlamentar. Para muitos gestores, os resultados representaram um alívio, ao se dissipar uma das maiores incertezas que estava a pesar na evolução dos mercados de ações e obrigações espanhóis nos últimos meses. Segundo Tanguy Le Saout, diretor de fixed income europeia da Pioneer Investments: “O resultado da contagem das urnas resultou no pior cenário, uma maioria da coligação do Unidos Podemos e do PSOE, com a capacidade para adotar políticas pouco favoráveis aos mercados. No entanto, a ausência de uma clara maioria limitará os ganhos que poderão registar os mercados espanhóis de obrigações. Não há mudanças significativas nas expectativas das obrigações espanholas ou europeias”, afirma. A rentabilidade da obrigação soberana espanhola a dez anos subiu para 1,95% e o spread para com o bund alemão – com uma yield negativa, atualmente – situa o prémio de risco espanhol acima dos 200 pontos base. O Brexit parece estar a pesar mais no ânimo dos investidores que o resultado eleitoral.
De facto, o referendo britânico também terá influído no ânimo dos votantes. Segundo a Generali Investments, parece que o terramoto que se gerou no Reino Unido depois do Brexit favoreceu os partidos tradicionais, como evidencia o facto de que tanto o PP como o PSOE conseguiram resultados melhores do que o esperado. Obtêm, em conjunto, nove assentos a mais no Parlamento do que o que conseguiram há apenas seis meses. O partido que lidera Mariano Rajoy conseguiu 33% dos votos (4,3 pontos mais do que em dezembro), que lhe atribuem 137 assentos, resultado muito superior ao que previam todas as sondagens. Por seu lado, os socialistas conseguiram 22,7% dos votos, 0,7 pontos mais que nas eleições passadas e equivalente a 85 assentos na Câmara Baixa. “Se bem que o PP é o claro ganhador das eleições, o PSOE mantém-se como o partido número dois, perante umas negociações para formar governo. A aritmética parlamentar faz com que as possíveis alianças sejam limitadas e politicamente difíceis”, asseguram.
Do próprio país, a situação vê-se de uma forma muito semelhante. O que é importante averiguar agora, é qual será a aritmética parlamentar que facilitará a investidura de um presidente do governo que nomeie um novo Executivo. Ignacio Méndez, diretor de análise da Mirabaud Securities em Espanha, reconhece que a situação política continua incerta, mesmo que se tenham reduzido muito as incertezas. “Os resultados das eleições do passado fim de semana reduziram para um mínimo a probabilidade de um governo populista em Espanha e, mesmo que continuem a existir muitos problemas para formar governo, o cenário mais provável será pensar que o PSOE se absterá e deixará governar o PP em minoria. Mas, como vimos nas eleições de dezembro, fazer previsões sobre pactos para a formação de governo na política espanhola é um exercício de alto risco”. Porém, o verdadeiramente importante para as entidades é que Espanha não mudará de rumo. “O mau resultado obtido pelo Unidos Podemos significa que as reformas feitas até agora pelo país não serão revogadas e que a economia espanhola continuará no caminho da recuperação”, indica Jon Day, gestor da Newton (filial da BNY Mellon IM).