Marco Giordano, diretor de Investimentos de Obrigações na Wellington Management, considera que são vários os fatores do contexto macroeconómico em destaque no início deste ano. Cita quatro em concreto.
Que fatores são relevantes para o mercado de obrigações neste momento? Marco Giordano, diretor de Investimentos de Obrigações na Wellington Management, considera que são vários os fatores do contexto económico em destaque no início deste ano. Cita quatro em concreto.
As tensões geopolíticas continuam a aumentar no Médio Oriente
Em dezembro, os rebeldes Houthi, apoiados pelo Irão, atacaram barcos que navegavam pelo Mar Vermelho. Entretanto, o Irão enviou um navio de guerra para o Mar Vermelho no início de janeiro, uma medida destinada a desafiar as forças americanas na principal rota comercial, o que pode enfurecer os militantes Houthi, que interromperam o transporte marítimo na via navegável para protestar contra a invasão israelita de Gaza. “Dado que o Mar Vermelho constitui um ponto de bloqueio no comércio marítimo, várias empresas de transporte interromperam ou desviaram as suas rotas de carga para circum-navegar África em alternativa. Isto está a provocar o aumento das esperas e dos custos de transporte, embora ainda estejamos longe dos preços extremos registados em 2021-2022”.
Reaceleração inesperada
A amplitude da recuperação nos dois últimos meses de 2023 faz-nos questionar se o mercado não terá entrado em piloto automático e adiantado os acontecimentos ao prever uma aterragem suave com agressivas reduções de taxas, que começariam já na primavera. “As primeiras operações de janeiro sugerem que os investidores esperam uma série de resultados muito limitados, que poderão ser contrariados por surpresas positivas no ciclo económico, como a contínua resistência dos consumidores, a força dos mercados laborais e o abrandamento das condições financeiras. Embora seja provável que a desinflação continue, encontramo-nos num contexto incerto, e a euforia das obrigações pode passar repentinamente para o nervosismo se não virmos um regresso ao objetivo de inflação de 2%”.
O endurecimento quantitativo e o debate sobre o seu fim serão provavelmente um tema quente nos próximos meses
Embora o presidente Powell tenha indicado anteriormente que a contração quantitativa poderá continuar depois das reduções de taxas, tem-se especulado sobre se esta deveria terminar, de facto, antes de se dar início às reduções, para garantir a estabilidade do sistema financeiro ao não privar os participantes do mercado de reservas. “Este debate discute-se acaloradamente na Wellington entre as nossas equipas de estratégia macroeconómica e de análise bancária. A transição para uma política acomodatícia, coincidindo com uma possível reativação do crescimento, demonstra que entrámos, realmente, num regime de mercado incómodo e menos previsível, mas não, por isso, menos entusiasmante”.
As eleições e o seu impacto nos mercados
2024 será um ano recorde, com mais de 2.000 milhões de pessoas a irem às urnas nos próximos 12 meses. O México e a Índia terão eleições no segundo trimestre, e o Parlamento Europeu vai votar nos seus 27 países no início de junho. Os EUA e o Reino Unido irão celebrar eleições no mesmo ano pela primeira vez desde 1992.
“No primeiro caso, as eleições serão muito renhidas, enquanto no segundo parece quase seguro que vão pôr fim a 13 anos do Partido Conservador. Estas eleições vão pôr à prova a resistência (ou a falta dela) das instituições democráticas em todo o mundo, mas também vão testar os mercados financeiros em geral e os de obrigações em particular. Os partidos políticos de todo o espetro e, especialmente, os que se opõem ao establishment, estão a mostrar um escasso compromisso com a prudência fiscal, com significativos compromissos de gastos que, provavelmente, terão repercussões nos prémios em maturidades mais longas”, conclui.