Desde que foram identificados como uma nova geração, os Millennials foram analisados sob múltiplas perspetivas por parte da indústria financeira, com o intuito de compreender os seus padrões de consumo e de que forma estão dispostos a poupar e investir. Retratou-se uma geração que, provavelmente, vive pior que os seus pais, valoriza mais acumular experiências do que bens e que demora mais tempo a conseguir trabalho e a constituir família. Pois bem, e se essas avaliações estiverem erradas? Esta é a tese defendida pelo Inquérito Global a Investidores Individuais realizado anualmente pela Natixis AM.
O inquérito focou-se em investidores individuais com um património igual ou superior a 100.000 dólares. A amostra é composta por 8.300 investidores de 26 países, dos quais 2.434 são millennials (isto é, indivíduos nascidos entre 1980 e 2000). Um dos resultados iniciais é de que os millennials são o segmento com rendimento superior: 44% revelou rendimentos anuais na ordem dos 50.000 a 150.000 dólares, enquanto que 45% afirmou deter ativos investidos entre os 100.000 e os 400.000 dólares (excluído as suas casas). Abaixo explicamos de forma detalhada as restantes descobertas mais importantes deste estudo.
#1 Os millennials precisam de orientação
Os autores do estudo explicam que, face ao esteriótipo de hipsters que se associou aos membros desta geração, “mais preocupados por encontrar o melhor café de comércio justo do que com o futuro”, na realidade estão muito mais focados na realização dos seus objetivos do que os membros das restantes gerações. 64% afirmou ter objetivos financeiros claros, enquanto que 59% revelou dispor de um plano financeiro e que estão predispostos a cumpri-lo. Estes são aspetos valorizados positivamente pela Natixis IM, que afirma que “não dispor de um plano pode ser um dos cinco piores erros que os investidores podem cometer”.
No entanto, o estudo também detetou que este segmento da população apresenta um horizonte de investimento de curto prazo: 64% da amostra indicou que investiam com um prazo de cinco anos ou menos, e 87% afirmou que investia com um prazo de dez anos. “Isto é, provavelmente, um reflexo do estado atual da sua vida, no qual eventos antecipados, como o matrimónio ou o iniciar de uma família, ou até compras significativas, como um carro novo ou uma casa, podem ter um horizonte temporal bastante curto”, indicam na gestora.
Apesar deste curto horizonte temporal, os millennials estão de olho nas suas necessidades a longo prazo: mais de dois terços dos inquiridos contribuem para um plano de reforma, um dado em linha com o de outras gerações, embora poupem menos: apenas 10,9% do rendimento anual, face aos 12,1% da Geração X e dos 13,5% dos babyboomers.
Além disto, os participantes do inquérito afirmaram necessitar de orientação profissional na concepção e execução do seu plano financeiro: 50% dos inquiridos indicaram que necessitam de ajuda para compreender o risco e a planificação fiscal, enquanto que 28% afirmou necessitar de ajuda com conceitos mais básicos, como elaborar orçamentos ou gerir dívidas.
#2 Os millennials são mais conservadores do que parece
“Os millennials deste inquérito estão divididos entre o seu desejo de gerar rentabilidade nos seus investimentos e a sua capacidade para assumir o risco”, destacam os autores do estudo. A consequência desta dicotomia é uma atitude mais conservadora, ainda que também existam outras explicações adicionais, como o receio de uma velhice incerta: apenas 64% dos inquiridos afirmam sentir-se financeiramente seguros.
Paralelamente, 61% dos millennials afirmam sentir-se confortáveis assumindo riscos. “A preocupação é que precisarão de se sentir bastante cómodos com o risco se quiserem obter um retorno anual de 9,2% face à inflação, que dizem ser necessário para alcançar os seus objetivos a longo prazo”, afirmam os gestores do estudo. Para conseguir esse rendimento, terão que investir mais em ações e volatilidade do mercado, “factores para os quais os millennials podem não estar preparados”.
Para complicar mais a situação, 75% afirmou que, se fossem forçados a escolher, elegeriam a segurança face à rentabilidade. Cerca de 65% afirmou que a volatilidade prejudica a sua capacidade para alcançar objetivos a longo prazo. Portanto, os autores do estudo concluem que “os millennials têm grandes esperanças nos retornos dos seus investimentos, mas, na realidade, muitos não estão emocionalmente preparados para assumir o risco necessário para cumprir com os seus objetivos a longo prazo”.
#3 Os millennials têm um dilema com a sua planificação financeira
Em média, os membros desta geração planeiam reformar-se aos 61 anos e viver 24 anos desde então. Segundo o inquérito, 66% estão já a poupar para a aposentação; os autores do estudo acreditam que possam ser guiados “pela crença de que necessitarão de ser autossuficientes no financiamento da sua reforma”. Na verdade, apenas 60% dos millennials acredita que terá acesso a uma pensão do governo, e 75% pensa que a responsabilidade pelo financiamento para a reforma recairá, primordialmente, sobre o indivíduo. Adicionalmente, seis em cada dez inquiridos acreditam que parte da sua pensão procederá de uma herança, enquanto que 51% receia de que vá precisar de ajuda económica dos seus filhos para se poder reformar.
O estudo deteta, também, algumas incoerências: 73% dos millennials já tem em mente quanto dinheiro precisarão para se reformar, mas apenas 64% já tomou medidas para determinar que rendimento precisará realmente, enquanto que só 58% já calculou quais serão as suas despesas.
#4 Os millennials confiam mais nas pessoas que nos seus telemóveis
Perante o estereótipo relativamente à preferência por serviços digitais e recomendações de utilizadores para tomar decisões, o estudo demonstra o contrário: ainda que apenas 56% dos millennials tenha declarado um sólido conhecimento financeiro, 87% demonstrou confiança em si próprio para tomar decisões. Surpreendentemente, 86% declarou confiar tanto em profissionais financeiros como em si mesmo, e, adicionalmente, 36% demonstrou confiança total. De facto, o estudo determina que os millennials confiam muito mais nos assessores financeiros do que nas suas famílias, amigos próximos e companheiros de trabalho (71%) e que nos meios de comunicação financeira (58%).
Em contraste, apenas 39% afirmou confiar nas redes sociais como o Twitter ou o Yahoo Finance, e inclusive 23% declarou desconfiar das redes sociais na tomada de decisões financeiras. Destaca-se também que apenas 44% dos membros desta geração preferem consultoria digital face à realizada cara a cara. 18% declarou combinar assessoria digital e pessoal na tomada das suas decisões.
#5 Os millennials têm claro aquilo que esperam dos gestores ativos
O estudo concluiu que os millennials têm muitas percepções erradas relativamente à gestão passiva. Por exemplo, 65% afirmou que o investimento indexado possui menos risco, enquanto que 62% acredita que o investimento passivo proporciona acesso a melhores oportunidades de investimento.
“Uma das razões pelas quais os millennials têm estes pontos de vista é porque pensam que alguns gestores ativos não têm cumprido com as suas promessas”, acrescentam os autores. Assim, 70% considera que os gestores cobram comissões altas por produtos que simplesmente replicam o índice. Apesar desta percepção, o estudo demonstra que 68% dos inquiridos esperam que o seu fundo de investimento tenha uma carteira diferente do índice de referência, enquanto que 69% preferem que um especialista procure as melhores oportunidades de investimento por eles.