A receita para replicar o comportamento de uma carteira de hedge funds com liquidez e transparência

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Mathias Mamou-Mani. Fonte: Cedida

Individualmente, cada estratégia de um hedge fund é única e especial, ou pelo menos assim parece. A verdade é que na grande maioria das vezes não sabemos qual é a receita que leva a que fundos como o Renaissance, de Jim Simons, ou o Millennium Fund, obtenham os resultados que obtêm. Também é verdade que há muitos hedge funds cujos resultados são mais destrutivos que construtivos. À medida que se vai aumentando a quantidade deste tipo de estratégias alternativas numa carteira, as idiossincrasias vão-se diluindo e sobressai um beta que profissionais bem treinados podem conseguir replicar. Um desses profissionais é Mathias Mamou-Mani um dos fundadores da DBi (do anterior nome Dynamic Beta e entidade representada pela iMGP na Península Ibérica) e um dos pioneiros na replicação de hedge funds. 

“Quando eu e o meu sócio, Andrew Beer, começámos esta atividade em 2008 deparáramo-nos com um mercado carregado de equívocos relativamente a estratégias de hedge funds. As pessoas acreditavam que era quase magia, a forma como faziam dinheiro”, introduz o profissional, em conversa com a FundsPeople. A verdade é que, como explica, veio-se a perceber que muito do que acontecia numa carteira de hedge funds era uma alocação de ativos simples e dinâmica. “Percebeu-se que era possível replicar a performance investindo apenas em classes de ativos tradicionais, como as de ações ou treasuries norte-americanos, sem magia, sem stock picking e sem a dependência de apostas concentradas longas ou curtas numa ação em específico”, diz. 

Claro que a réplica de um fundo em particular é impossível, como explica, mas se olharmos para estes como um grupo, é possível identificar temas e esses temas podem ser replicados com apostas tão simples como uma no índice S&P contra mercados emergentes, posições curtas em taxas, posições longas no dólar… executados através de um conjunto muito limitado de contratos de futuros, extremamente líquidos. “Com trades tão simples como estes é possível obter 90% da performance do mercado, com a grande vantagem da mesma ser obtida antes de comissões”, conta Mamou-Mani. 

Um ingrediente importante: comissões… baixas

Evidentemente, as comissões são um ponto-chave na batalha da réplica versus mundo dos hedge funds, porque é bem sabido o quão altas são para quem investe nestes últimos. “Com 90% da performance e fees reduzidas é possível superar o mercado. É possível providenciar alfa, simplesmente cobrando menos pela gestão”, diz Mathias Mamou-Mani. Com o preço como único input no modelo, a equipa da DBi faz uma análise estatística sobre os diferentes tipos de hedge funds que compõem o grupo de 70 que replicam. “Fazemos isto uma vez por mês para algumas das estratégias, mas diariamente para outras como os CTA, que mudam de estratégia mais rapidamente”, explica. 

Segundo explica o profissional, este tipo de abordagem foi algo que levantou muitas dúvidas quando começou a ser posta em prática, mas que agora se tornou normal. “Há investidores que investem em fundos como o Millennium e simultaneamente neste tipo de estratégia. Este hedge fund é ótimo, mas não é transparente, tem um período de investimento mínimo exigido de cinco anos, elevadas comissões e limitações de capacidade. A réplica, por seu lado, é transparente, não tem riscos de contraparte, tem fees reduzidos e o dinheiro está disponível amanhã. Mesmo investidores mais hardcore em hedge funds utilizam este tipo de ferramentas para uma alocação core, libertando recursos para executar apostas de nicho em fundos mais pequenos e com outro potencial de alfa”, explica Mamou-Mani.

Muito embora na Europa a estratégia seja disponibilizada em formato de fundo UCITS, a prova definitiva de que a estratégia é simples, líquida e que funciona, é que a DBi a executa através de um ETF nos Estados Unidos, “algo completamente impossível no investimento direto em hedge funds”. Este ETF, aliás, e como explica Mamou-Mani, tornou-se o maior ETF alternativo líquido do mundo. “Basicamente, a DBi criou a uma nova classe de ativos”, exclama.