A teoria por detrás do low beta: a grande anomalia do mercado

Pim van Vliet. Robeco
Pim van Vliet. Créditos: cedida (Robeco)

Existe uma grande anomalia no setor dos investimentos. Um risco que só os profissionais do setor o consideram como tal, mas que desafia a teoria académica: o tracking error. "A própria palavra diz-nos que estamos a cometer um erro se nos afastarmos do índice de referência", recorda Pim van Vliet. Foi uma das coisas que mais surpreendeu o especialista quando entrou para a Robeco em 2005, depois de ter dedicado anos da sua carreira profissional ao mundo académico. Porque as décadas de estudo do atual responsável de Conservative Equities e estratega-chefe quantitativo na gestora mostram-lhe o contrário: o fator menos explorado na indústria é o low beta/low volatility.

Desta firme convicção na análise académica de Van Vliet e das dezenas de profissionais que compõem a equipa Factor Quant Equity da Robeco nasceu a gama Conservative Equities. Um conjunto de fundos agnósticos face ao índice de referência com o duplo objetivo de proteger e fazer crescer o capital. "É um pouco como voltar à velha escola em termos de estilo de investimento", reconhece o gestor.

E aplicá-lo no mercado atual leva-os a ir contra a maré. Por exemplo, uma estratégia low beta não teria em carteira as Sete Magníficas no ano passado, o que geraria um alto tracking error. “Não é algo que nos deva preocupar demasiado. Ir atrás do mercado é diferente de perder dinheiro. Não é a primeira vez que o mercado se entusiasma demasiado com uma narrativa. A certa altura, tivemos a Nifty Fifty e muitas outras subidas do mercado liderados por algumas ações”, assinala.

Esses contextos de exuberância são os mais difíceis para a equipa gestora do Conservative Equities, mas estão conscientes de que o seu momento de brilhar é nos anos negativos. Por exemplo, no ano passado, as suas estratégias de mercados emergentes ultrapassaram o mercado num ano débil para a classe de ativos. Enquanto o MSCI China A International Index terminou o ano em 16% negativos, o Robeco QI Chinese A-share Conservative Equities gerou uma rentabilidade na sua classe em euros de 5%. Não foi um bom ano, no entanto, para as estratégias de mercados desenvolvidos, que ficaram para trás na sequência do rally concentrado em certos títulos tecnológicos.

No entanto, em 2022, aconteceu o contrário. Da mesma forma que em 2008, os fundos de mercados desenvolvidos da gama, Global, EUA e Europa, aguentaram-se num ano em que não havia onde se esconder. E é precisamente destes anos que Van Vliet se sente mais orgulhoso. “Referimo-nos a isto como ganhar perdendo menos. As estratégias conservadoras têm superado o mercado desde a sua criação”.

A teoria por detrás da gama Conservative Equities da Robeco

Altos retornos com baixa volatilidade. É o título do livro no qual a equipa de Conservative Equities da Robeco expôs a teoria académica que sustenta a sua tese de investimento. Também resume bastante bem a essência do objetivo que procuram alcançar com a gama de fundos. Mas, claro, obter resultados com uma jornada mais suave soa utópico. Por que funciona?

“Tive 20 anos para refletir sobre isso”, reconhece Van Vliet. Por que funciona o low beta? “Porque os seres humanos, por natureza, veem mais atratividade nas ações de beta alto”, defende. “Quando se investe em bolsa é porque se tem uma convicção otimista e, se assim for, se se acreditar que é possível gerar alfa, tentar-se-á procurar empresas com as quais se pode fazer a diferença. 80% dos investidores têm um excesso de confiança nas suas habilidades”, aponta. Mas o mesmo acontece com um selecionador profissional: se estiver pessimista, vai reduzir a exposição às ações; se estiver otimista, vai optar por fundos de beta um ou superior.

É tudo bastante racional dentro da idiossincrasia da indústria. “Ou há profissionais que, pelo seu mandato ou orçamento de risco, não podem assumir um tracking error ou precisam de uma narrativa atrativa que as ações de beta alto lhes oferecem”, afirma.

E é esse ciclo vicioso que leva a que as ações de high beta negociem com um prémio, enquanto as de low beta negociam com desconto. “Essa é a beleza da nossa análise, trata-se de um fenómeno humano que está apenas a exacerbar-se”, conclui o gestor.

Ações investment grade

Van Vliet define a sua equipa como economistas que trabalham sob um processo sistemático. Utilizam filtros compostos por vários fatores. Porque o low beta não é o único indicador. No seu processo, têm em conta o beta a longo e curto prazo, bem como o beta a nível local e global. Combinando os betas, a equipa tem uma ideia melhor da sensibilidade de um título ao mercado. Assim, tomam medidas de volatilidade ou de risco idiossincrático. A essas duas métricas de risco passado são acrescentados fatores de medição de stress com visão para o futuro, como o risco de incumprimento de crédito ou spreads de crédito.

Esta última camada é a que distingue a gama Conservative Equities da Robeco de outras estratégias de low vol/low beta, bem como a utilização de variáveis de retorno (value, momentum, qualidade).

Na opinião de Pim van Vliet, a combinação de ambos os elementos é o que explica a solidez dos resultados da estratégia, que o gestor define como “ações investment grade”. Por exemplo, o Robeco QI Emerging Conservative Equities conta com Rating FundsPeople em 2024 pela boa relação risco/retorno.