Alternativos, imobiliário ou ouro: como diversificar?

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Ramón Carrasco, Nuno Pereira, Paulo Pacheco, Pedro Fernandes. Créditos: Vítor Duarte

O regresso das obrigações a um campo mais favorável para investimento é um facto. Como já discutido num debate em colaboração com a Carmignac, há vários instrumentos que podem servir este ambiente de mercado dentro do campo do rendimento fixo. Mas quais são os caminhos a tomar para que um portefólio seja descorrelacionado entre classes de ativos? Onde procurar um extra de diversificação para adicionar às carteiras, neste contexto?

No mesmo encontro, Ramón Carrasco, responsável pelo Desenvolvimento de Negócio da Carmignac na Península Ibérica, começou por explicar e lembrar que na gestora onde trabalha, a diversificação “é conseguida através de múltiplas classes de ativos tradicionais (tais como ações, obrigações, CLOs, mercado cambial...)”. eEstão também convencidos do potencial de investimento alternativo e, especialmente, em termos de descorrelação das classes de ativos tradicionais. É por isso que a Carmignac também desenvolveu, referiu, um expertise nesta área, nomeadamente através de uma estratégia long-short. De facto, há outros ativos que podem também cumprir a função de diversificação: bens imóveis, commodities... "Estas são também alternativas de diversificação nas quais não estamos a investir", sublinhou.

Desde modo, o responsável da gestora internacional lançou a discussão sobre a utilização desses mesmos ativos. Para Pedro Fernandes, responsável de Investimentos da Heed Capital, existem alguns constrangimentos nessa utilização. “O problema de entrar nalgumas dessas classes de ativos é que se acaba por assumir também outros riscos”, alertou, exemplificando. No caso do imobiliário, recorda, existe o risco de taxa de juro. Referindo-se à classe de alternativos em geral, o profissional acredita que esta é “provavelmente a classe de ativos menos interessante atualmente, porque não é necessário entrar nela para gerar income. Pode simplesmente comprar-se treasuries norte-americanos”, acredita. 

O responsável de investimentos identifica oportunidades, por exemplo, na Ásia, embora excluam do universo a China por ser “muito arriscada”. “Gostamos de comprar coisas que não pareçam caras, essencialmente é isso”, atesta. Relativamente à posição que assumem em moedas, o profissional lembra que o dólar está a subir 16%, com os EUA bem posicionados na atual situação energética, pois “são um grande produtor de energia”. Ainda assim, diz perentoriamente: “Eu não compraria dólar na paridade. Nós não estamos à procura de retornos só por si, estamos sim à procura da melhor relação risco/retorno”, enfatiza.

O ouro, o imobiliário e o dólar

Num prisma oposto, Paulo Pacheco, responsável de Gestão de Ativos, do Banco Português de Gestão, diz-se adepto da classe de alternativos. Especifica, mostrando que os ativos reais são uma opção na casa onde trabalha “já há algum tempo”. Mas não só. Fala de uma “posição em ouro” já antiga - via ETF -, e ainda de estratégias long-short e outras de market neutral. Em termos de divisas, a cobertura não foi uma opção na última década, muito por causa da política monetária estável dos Bancos Centrais. No último ano, isso mudou. “Passámos a investir em dólares americanos, porque fomo-nos apercebendo de que o mercado norte-americano é um mercado mais rápido a reagir. Neste momento, contudo, estamos a reduzir essa mesma posição por causa dos níveis atingidos e, por isso, estamos a investir unhedged ou a fazer apostas longas contra o dólar, porque acreditamos que a estes níveis os outros bancos centrais estão atrás da curva face aos EUA, mas irão certamente tentar apanhar esse mercado”, referiu.

Do lado da Sixty Degrees, Nuno Pereira, responsável de investimentos, acredita que o imobiliário tem sido uma classe de ativos “bastante diversificadora” dentro dos ativos reais, pois existe “um efeito colateral do lado da oferta”. Concretiza: “Esse efeito tem que ver com o custo de construir uma nova casa estar a subir, ou seja, é inflacionário. Além disso, o real estate tem apresentado uma boa resposta nos cash flows gerados”, explica. No entanto, e contrariamente a Paulo Pacheco, a exposição a alternativos ou a ouro não o convence. Na entidade tentam, sim, que o seu cliente esteja diversificado dentro do seu próprio portefólio. “Em Portugal, tipicamente os clientes já têm muito imobiliário no seu património e estão muitas vezes sobrexpostos à Europa. Nesse perspetiva, achamos que não temos de investir em imobiliário, porque eles já o fazem”, entende.

Nesse seguimento, investir em dólares é algo que acrescentará valor a esses mesmos clientes que estão expostos à Europa. “Temos uma posição relevante já há algum tempo em dólares - cerca de 25% atualmente - e estamos, na verdade, à procura de pontos de entrada com valor”, indica. Lembra também que caso algo corra mal na Europa, como a extensão da guerra a outros países, por exemplo, “os clientes vão beneficiar em estar investidos em dólares”.

Ramón Carrasco, complementando o que havia referido inicialmente, disse também que a Carmignac diminuiu recentemente a sua posição em dólares americanos. "Gerimos estratégias bastante dinâmicas e flexíveis, porque na realidade o mercado é muito volátil e move-se muito rapidamente", concluiu.