Martin Skanberg, gestor de ações europeias da Schroders, afirma que ainda que exista crescimento zero, os lucros podem aumentar entre 10% e 12%.
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O verão foi dececionante no que diz respeito às notícias macro… mas ainda assim “a região pode contar com a abundância de outros potenciais motores para o crescimento dos lucros”. A frase é dita por Martin Skanberg, gestor de ações europeias da Schroders.
No que diz respeito a más notícias, o gestor refere-se obviamente ao medíocre crescimento do PIB da zona euro no segundo trimestre, que obrigou o BCE a um regresso à política agressiva, anunciando na sua reunião de setembro a criação de um programa de compra de ativos e o corte da taxa de juro até aos 0,05%. “Os cépticos podem até mesmo discutir que as últimas medidas anunciadas pelo BCE não serão suficientes para que se assista ao regresso do crescimento sustentável na Europa. Com certeza que existem factores que vão mais além do controlo do BCE – como é o caso da Ucrânia – que pode ter peso sobre a atividade económica”, explica o gestor. No entanto, por outro lado, afirma que “os lucros na Europa têm margem suficiente para serem convergentes com outros desenvolvidos, como por exemplo os EUA, onde os lucros passaram os valores máximos pré-crise”.
Em que se baseia Skanberg para fazer esta afirmação? “É importante ter em conta que o crescimento económico não é de forma alguma a única fonte de crescimento dos lucros das empresas”, recorda o especialista. Enumera também uma série de factores que podem ter impacto nas ações europeias e nos lucros das empresas. O primeiro é o apoio incondicional que o BCE tem vindo a mostrar desde a famosa intervenção de Mario Draghi em julho de 2012, que contribuiu para estreitar os spreads da dívida e, consequentemente, reduzir os custos de financiamento para as empresas da zona euro.
“As yields da dívida de alguns países da zona euro já estavam em mínimos de há vários anos e caíram mais nos últimos tempos. Isto representa uma oportunidade significativa para que as empresas refinanciem a sua dívida e possam pedir dinheiro emprestado a custos menores”, explica o representante da Schroders.
A segunda razão tem a ver com as últimas medidas da autoridade monetária para enfraquecer o euro, o que fez com que a moeda europeia tenha caído abaixo dos 1,3 dólares pela primeira vez desde há mais de um ano. “Uma moeda mais débil proporciona um apoio significativo para os exportadores europeus, muitos dos quais sofreram revisões em baixa dos lucros no ano, convertendo-se a força do euro num obstáculo”, diz o especialista, que acredita que um euro mais barato pode contribuir para uma avalanche de revisões em alta.
Como terceira razão Skanberg refere que na sua opinião “há margen para gerar rendimentos substanciais para os acionistas”. O gestor indica que atualmente há cerca de 600.000 milhões de euros nos balanços das empresas europeias, dos quais “uma parcela significativa pode regresar aos investidores na forma de recompra de ações ou dividendos”. Na verdade assinala que tanto os dividendos como as recompras alcançaram máximos históricos nos EUA, durante o primeiro trimestre do ano, e “há potencial para que as empresas da zona euro sigam o mesmo caminho”.
A recuperação do sector bancário aparece em quarto lugar na lista de Skanberg. Neste sentido, o profissional tem uma série de conceitos chave preparadas para este outono: o início do funcionamento dos TLTROs e a publicação do AQR pelo BCE, e os testes de stress à banca. “A estrutura de TLTRO proporciona um incentivo aos bancos para que emprestem; em primeiro lugar, quanto mais dinheiro emprestem, mais financiamento poderão receber. Em segundo lugar, os bancos que possam refletir o crescimento dos ativos não hipotecários nos seus balanços poderão ter quatro anos para fazer a devolução dos empréstimos, em vez de apenas dois”, resume. Em termos gerais a expetativa do gestor é que “o processo será positivo para o sector, mas também para recuperar a confiança tanto nos mercados de dívida, como nos de ações da zona euro”.
O representante da Schroders também assinala que as medidas do BCE marcam o começo da dessincronização das políticas monetárias dos principais bancos centrais, já que tanto o Banco de Inglaterra como a Reserva Federal estão a escasos meses de começar a subir as taxas de juro. “O resultado deverá traduzir-se numa maior depreciação do euro face ao dólar”, enfatiza.
Skanberg está convencido de que estas cinco razões têm potencial suficiente para que as empresas europeias possam fazer crescer os seus lucros apesar do contexto macro. “Ainda que se assuma um crescimento económico zero na zona euro, achamos que os factores mencionados poderão adicionar entre 10% e 12% aos lucros das empresas”.