“As empresas líderes nos seus setores na China irão acabar por ser líderes globais em poucos anos”

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jev, Flickr, Creative Commons

“Na última década era possível fazer dinheiro sem ser necessário investir em mercados emergentes. Para quê arriscar, se podem obter o mesmo retorno investido em grandes capitalizações norte-americanas?”, reflete Austin Forey, gestor do JPM Emerging Markets Equity Fund. O especialista visitou a Funds People recentemente, com uma missão muito específica: explicar que as ações, hoje em dia, representam uma oportunidade de investimento.

“As valorizações atuais das ações desenvolvidas são muito elevadas. Vemos retornos mais competitivos nas ações emergentes, face a outros mercados”, continua o gestor da J.P. Morgan AM, que declara: “Nos últimos anos, nunca o contexto tinha sido tão animador para nós como nos dias que correm”. É certo que alerta os investidores que querem aventurar-se em águas emergentes que deverão esperar “que aconteçam grandes correções, que acontecem de vez em quando”. Apesar destas oscilações, o que é importante para o gestor é manter a perspetiva cronológica: “Não é preciso preocupar-se com a volatilidade no curto prazo, o que importa são os retornos no longo prazo”.

O grande passo em frente

Em 2018 celebrou-se o 30º aniversário da criação do índice MSCI Emerging Markets. Forey explica que, em 1988, só haviam 10 países representados no índice, sendo a Malásia o de maior ponderação. A capitalização do indíce subia para 52.000 milhões de dólares, equivalente a 1% das ações globais da época. Atualmente, o índice engloba 24 países e apresenta uma capitalização equivalente a 12% das ações globais.

O gestor destaca que agora o indicador “reflete melhor a realidade económica dos emergentes, com uma maior representatividade da China”. De facto, este considera que este maior protagonismo chinês será a chave para investir no futuro: se agora as ações de classe A (as que cotam em Shangai) representam menos de 1% do índice, Forey calcula que poderão alcançar uma ponderação de 13%-14% para 2025.

O gestor sublinha também, a melhoria da liquidez neste mercado: “Agora há mais liquidez na China do que em todo o universo emergente. É a maior mudança para os investidores em emergentes dos últimos 20 anos”. Forey acrescenta outra observação importante para os investidores, e evidencia o grande passo em frente dado pelo país em termos bolsistas: “Temos de nos habituar à ideia de que as empresas líderes nos seus setores na China irão acabar por ser líderes globais em poucos anos”.

A disrupção que está por vir

“Atualmente o MSCI Emerging Markets tem tanta tecnologia como um índice de ações desenvolvidas”, continua o gestor. Segundo Forey, a história recente dos emergentes “tem mais a ver com a criação de novas oportunidades de investimento em empresas, num mundo que evolui rapidamente”, ao ponto do especialista opinar que “já não podemos ver o Ocidente como a representação do futuro claro para os emergentes”. Refere-se ao famoso fenómeno que os anglo-saxónicos definem como “leapfrogging”: mercados em desenvolvimento que se incorporam diretamente nas últimas inovações, sem passar pelas fases intermédias que os mercados desenvolvidos viveram.

O gestor exemplifica com o desenvolvimento do negócio dos seguros na China: “As seguradoras estão a registar um crescimento mais rápido que o PIB. À medida que a população chinesa vai acumulando bens e riqueza depois de aceder a classes médias ou altas, terão mais disposição para contratar seguros de vida. Atualmente, o gasto per capita em seguros é de 100 euros, que continua a ser um valor muito baixo em comparação com o Reino Unido ou até em relação à Coreia.” A particularidade deste desenvolvimento do negócio dos seguros, segundo o especialista, é que “as seguradoras chinesas não são nada parecidas às ocidentais, pelo uso que fazem da tecnologia: investiram em cibersegurança, desenvolveram software de reconhecimento facial para conhecer o cliente e introduziram o uso de Inteligência Artificial (IA) através de apps; são todos usos tecnológicos que empregam para obter eficiência e nível num país com muita população”.

Este comentário serve para o especialista se focar sobre a tão comentada disrupção tecnológica, mas implementada ao mundo em desenvolvimento: “Estão a acontecer inovações tecnológicas nos emergentes que ainda não conhecemos nos mercados desenvolvidos”, afirma. Exemplifica com a empresa chinesa Tencent, que oferece através de uma mesma aplicação, serviços próprios de uma rede social, mas também de jogos online e de sistemas de pagamento eletrónico. Outro exemplo que o especialista usa é a empresa argentina Mercado Libre, que é líder em vendas retalhistas no sul da América, ao oferecer um serviço que se trata de uma combinação das funcionalidades que empresas como Amazon y Paypal oferecem . “A inovação em emergentes vai mais além da que está a acontecer nos mercados desenvolvidos, e é diferente da que aconteceu em mercados desenvolvidos”, afirma o gestor.

O fundo

O JPM Emerging Markets Equity Fund está qualificado como Blockbuster Funds People. É um produto que se alavanca nas fenomenais capacidades da J.P.Morgan AM em mercados emergentes: conta com 99 profissionais do investimento no terreno, repartidos por nove localizações e que falam 21 línguas diferentes, dos quais 18 analistas se dedicam exclusivamente ao segmento de ações chinesas de classe A. A equipa do fundo mantém cerca de 5.000 reuniões por ano para poder avaliar em profundidade as oportunidades e riscos que as empresas representam do seu conjunto.

A análise ESG tornou-se numa parte fundamental deste processo, com ênfase no G de Bom Governo: “Ao investir em emergentes, é sempre importante pensar na qualidade das equipas de administração, entender quais são as suas motivações, os seus objetivos e a sua tolerância ao risco, assim como identificar aos seus acionistas de referência”, indica Forey. Este acrescenta que também são importantes os riscos sociais e do meio ambiente que as empresas do conjunto possam apresentar, uma vez que a abordagem do fundo se foca em negócios sustentáveis no longo prazo e com modelos de alta qualidade: “Somos investidores a longo prazo e os riscos a longo prazo preocupam-nos, por isso é que ESG é importante para nós”.

O fundo apresenta um horizonte de investimento de muito longo prazo. Atualmente sobrepondera o setor de matérias-primas e aumentou a exposição ao consumo. A China representa a maior sobreponderação por país pela primeira vez para o fundo, que historicamente sobreponderou esta região em carteira.