Brace yourselves, transition is coming!

BlackRock
André Themudo, Bruno Esgalhado, Ewa Jackson, Miguel Stilwell d'Andrade. Créditos: FundsPeople

No passado dia 12 de outubro, a BlackRock realizou, como já é habitual, o seu evento anual em Lisboa. Realizado na Estufa Fria, contou com a presença de vários convidados e oradores. Entre eles, Wei Li, chief investment strategist da BlackRock, que apresentou as perspetivas globais para o mercados no curto prazo, e o professor Filipe Santos, dean da Católica Lisbon School of Business and Economics, que seguiu a mesma abordagem, mas para o mercado português. Seguiram-se dois painéis de discussão. O primeiro sobre a transição energética e o segundo sobre gerir as tendências da indústria para antecipar as necessidades dos clientes.

Focando apenas no primeiro, este foi moderado por André Themudo, head da BlackRock em Portugal e contou com a presença de Bruno Esgalhado, partner e head of Sustainability para a Península Ibérica na McKinsey, Miguel Stilwell d'Andrade, CEO da EDP e Ewa Jackson, head of Sustainable and Transition Client Solutions na BlackRock. Os três profissionais veem com bons olhos o caminho que está a ser feito no que concerne à transição energética e destacam alguns projetos que têm vindo a ser desenvolvidos por cada uma das entidades que representam, conscientes, no entanto, dos desafios que tal caminho exige ao setor financeiro.

O mundo em transição (energética)

“O mundo enfrenta o maior desafio do nosso tempo”, começa por dizer Bruno Esgalhado e acrescenta que esta “é uma revolução global numa escala nunca antes vista”. É assim que o profissional da McKinsey vê o impacto da transição energética a nível mundial. Bruno Esgalhado enfatiza a importância da transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis, destacando que essa mudança será generalizada em todos os setores da economia, incluindo energia, indústria, transportes, agricultura, entre outros. “Verifica-se que o ritmo desta transição vai ser mais agressivo, mais urgente e mais rápido nos setores mais poluentes”, diz. 

Da mesma forma, o CEO da EDP, Miguel Stilwell d'Andrade, acredita que essa transição vai acontecer, mas “não vai ser linear". Vai haver alturas em que se darão dois passos em frente e um passo atrás. E vai exigir uma enorme quantidade de capital”, admite. O profissional explica o que tem sido feito por parte da empresa que gere, relativamente à transição energética. “No que respeita à produção, nós, enquanto empresa, temos vindo a deixar de produzir energia térmica (carvão e gás natural). Há 20 anos, 80% da nossa produção de eletricidade resultava desse tipo de energia. Atualmente, mais de 80% são produzidos a partir de energias renováveis”, explica e sobre perspetivas futuras acrescenta: “Até ao final de 2025, deixaremos de produzir carvão e continuaremos empenhados em executar o nosso plano de forte investimento na transição energética, com um objetivo de investimento de 25 biliões de euros até 2026”. 

Ewa Jackson, head of Sustainable and Transition Client Solutions na BlackRock, vê a transição energética como uma vontade conjunta, revelando que numa recente pesquisa feita pela entidade, se concluiu que “56% dos 200 investidores institucionais em todo o mundo pretendem aumentar a sua alocação a investimentos de transição nos próximos um a três anos”. Ewa Jackson descreve o histórico de investimentos da entidade em energias renováveis, que expandiu a sua atuação para setores que precisam de investimento, de forma a se tornarem mais sustentáveis. “Se pegarmos a agricultura como exemplo, este setor responde por cerca de 14% das emissões de gases com efeito de estufa, globalmente” e desenvolve: “Se olharmos para o desperdício de alimentos orgânicos, muitas vezes os resíduos orgânicos que vão para aterros sanitários não têm acesso ao oxigénio, de modo que não se decompõem nesse aterro”. Consequentemente, a profissional conta que a entidade “investiu numa empresa que desenvolveu uma tecnologia que transforma resíduos orgânicos, agrícolas e alimentares em gás natural limpo, que pode ser usado em outros processos de produção”.

Nós, por cá

Sobre o mercado ibérico, Bruno Esgalhado não tem dúvidas: “A Península Ibérica tem condições para se tornar um centro de transição energética, criando uma vantagem económica distintiva na Europa. “É 20% mais barato produzir energia na Península Ibérica do que na Europa Central, por exemplo. Temos acesso a recursos naturais. Temos boas infraestruturas. Representamos 20% do transporte marítimo global na Europa. Também contamos com governos relativamente favoráveis que têm dado mais importância à transição energética. Isso torna a região extremamente atraente”. O profissional da Mckinsey conta que a consultora está a reunir “os principais intervenientes, investidores e participantes em projetos e temas dedicados a isso”. O objetivo, segundo este, é coordenar esforços e investimentos para acelerar a transição para uma economia mais sustentável. No entanto, não deixa de reconhecer certos desafios que serão determinantes para o sucesso deste empreendimento, como a necessidade de gestão de riscos, a aquisição de talentos e a regulamentação estável e ágil.

Na mesma ótica, o CEO da EDP acredita que existem muitos “projetos empolgantes a serem realizados em Portugal nas energias renováveis, incluindo em áreas como a mobilidade elétrica, que precisa de crescer significativamente, e a geração descentralizada”. Miguel Stilwell d'Andrade refere que “é preciso investir também na modernização e digitalização das redes de distribuição de energia, que são fundamentais para a expansão das energias renováveis, incluindo modelos de investimento em smart grids”. O CEO da EDP destaca, ainda, “a importância de projetos híbridos, que podem combinar energia eólica, solar e hídrica num mesmo ponto de conexão à rede”, como um passo determinante para o futuro da transição energética, dando como exemplo o primeiro projeto híbrido da EDP, desenvolvido de forma inovadora em Portugal, que combina a produção de energia eólica e solar num único local.

A head of Sustainable and Transition Client Solutions da BlackRock vê, igualmente, potencial no mercado ibérico e destaca alguns investimentos que têm vindo a ser feitos. “Em Portugal, estamos a investir em mais centrais de energia solar e estamos muito entusiasmados com as oportunidades que existem no país. Atualmente, temos investimentos em quatro centrais solares na região, que produzem o equivalente às necessidades anuais de eletricidade de mais de 36.500 habitações em Portugal”, refere.