Chris Iggo (AXA IM): "Há espaço para que os spreads de crédito subam ainda mais se os dados económicos ou as condições de liquidez se deteriorarem durante o verão"

Chris Iggo Axa
Chris Iggo. Créditos: Cedida (Axa IM|)

Nos mercados de crédito, a história é complicada. Os spreads ampliaram-se até níveis que, no passado, desencadearam um período de excedente de rentabilidade das obrigações corporativas em relação às soberanas. Na verdade, o aumento das yields globais parecem atrativas em termos de futuros retornos totais. O índice de obrigações corporativas com investment grade dos EUA rende cerca de 5%, enquanto que os índices de referência equivalentes na Europa rendem 3%. Perante este panorama, a menor volatilidade das taxas de juro e os baixos preços médios das obrigações deverão tornar o crédito mais atrativo no futuro.

No entanto, tal como recordam Chris Iggo, diretor de investimentos Core na AXA Investment Managers e Gilles Moëc, economista chefe da entidade, os spreads não estão nos seus níveis mais amplos. "Em períodos anteriores de recessão económica ou de tensão nos mercados, o spread entre as obrigações corporativas e as governamentais foi maior. Não estamos a sugerir que os spreads se aproximem dos níveis observados durante a crise financeira mundial. Mas, certamente, há espaço para que os spreads de crédito subam ainda mais se os dados económicos ou as condições de liquidez se deteriorarem realmente durante o verão", afirmam.

Visão positiva a médio prazo

Para ambos, a visão a médio prazo é mais positiva em todos os ativos de obrigações. "Inclusive no caso do high yield, no qual se deve esperar um certo aumento das taxas de incumprimento, mas onde estas parecem ser baixas em relação a outros ciclos", sublinham. Segundo os especialistas, o gap entre os cupões existentes e as yields atuais do mercado ampliaram-se. E há que vigiar esse risco de refinanciamento. No entanto, pelo que podem ver, não há um grande muro de refinanciamento por diante. "É provável que as empresas se mostrem mais favoráveis a acumular níveis de liquidez para sustentar a sua cobertura de juros, já que as expetativas sobre o crescimento das receitas e as margens deterioraram-se".

Na sua opinião, yields mais elevadas no crédito sugerem que os rendimentos deverão ser um determinante muito mais importante dos retornos totais das carteiras de obrigações no futuro. "A intervenção dos bancos centrais nos mercados nos últimos anos empurrou as yields para um terreno de queda e os preços das obrigações em subida, pelo que a apreciação de capital tendeu a dominar. Esses dias terminaram, por agora. Na verdade, há que assinalar que para a maioria dos períodos de investimento que não sejam relativamente a curto prazo, os cupões dominam o reetorno dos investidores em obrigações. As yields mais elevadas hoje em dia significam fluxos mais elevados", analisam.

Raios de esperança

É sempre difícil ser construtivo nos mercados quando o panorama macroeconómico e político é tão incerto, como o de hoje. Ainda existem claros riscos de queda, entre os quais se destaca a possibilidade de que se produza uma escalada de conflito na Ucrânia. No entanto, para Iggo e Moëc, se nos detivermos na avaliação do ciclo económico e na forma como a economia mundial continua a reequilibrar-se depois da pandemia, há alguns raios de luz ténues no horizonte.

"Os bancos centrais, com a Fed à cabeça, ligaram o turbo e começaram a atuar. A inflação deverá responder, e com ela haverá um alívio no lado das taxas. Tendo em conta o que caíram os preços das obrigações este ano, os investidores deverão obter alguma recompensa se se centrarem na direção que tomaram as coisas a partir de agora. A recuperação dos preços das obrigações em todo o mercado pode produzir-se, inclusive se as yields e as taxas continuarem a ser mais elevadas do que quando os bancos centrais começaram a falar de forma mais dura. Isso em si mesmo é um requisito para um melhor retorno do crédito e das ações. Chegará, mas as perspetivas a curto prazo continuam a ser difíceis", reconhecem.