A boa forma das empresas e negócios norte-americanos é evidenciada por duas gestoras internacionais. Porque se mantém então a política ultra acomodatícia no país?
O início do ano para a economia norte-americana não foi o melhor. O rigoroso inverno deste ano no país praticamente congelou a atividade económica do primeiro trimestre chegando mesmo a provocar uma contração do PIB de 2,9% (anualizado), o que configurou o pior registo desde 2009. Por este motivo, as expectativas em relação aos resultados do segundo trimestre eram grandes.
“Estamos prestes a terminar uma nova temporada de resultados record”, revela Anthony M. Wile, analista da equipa de estratégia global de mercado da J.P. Morgan Asset Management, no último relatório do programa Market Insights editado pela gestora. O especialista considera também que “os resultados do segundo trimestre das empresas que representam 90,7% da capitalização total de mercado do S&P 500 indicam que o EPS (Earnings Per Share) operativo do índice alcançou um máximo histórico de 29,35 dólares, o que faz do segundo trimestre, o quinto trimestre record em termos de EPS operativo dos últimos seis”.
Factores que impulsionam a maior economia do mundo
Também os especialistas da Pioneer Investments reconhecem que a economia norte-americana está a dar sinais de renascimento. Da entidade destacam mesmo o aparecimento de novos contributos para o PIB nacional: o “boom” do gás de xisto e o desenvolvimento de novas tecnologias como a internet das coisas, ou as impressoras 3D, “estão a mudar estruturalmente o contexto e a acrescentar crescimento a longo prazo, apesar de outras dificuldades”.
Na sua análise estratégica correspondente ao mês de agosto, a Pioneer apresenta uma contraposição entre estes novos factores que impulsionam o caminho da economia norte-americana, face à atitude da Reserva Federal. Nas palavras dos especialistas da entidade, a Fed “está a ganhar tempo antes de normalizar por completo a política monetária dos EUA”. Neste caso referem-se à vontade tantas vezes manifestada por Janet Yellen de não subir as taxas até que o mercado laboral se recuperasse por completo, “desafiando, até certo ponto, as diretrizes do Comité de Política Monetária da Fed de final de 2012”, recordam da empresa.
Do que está à espera Janet Yellen?
Da Pioneer a postura é crítica relativamente a este assunto. Dizem que “graças a uma queda acelerada no ano passado, o desemprego alcançou o patamar que deveria ser suficiente para acabar com as políticas ultra acomodatícias e antecipar a elevação das taxas de juro. No entanto, a presidente da Fed argumenta que medidas mais amplas sobre o desemprego, que incluem o desemprego de curta duração e os trabalhadores que apenas encontram emprego a tempo parcial, também deveriam recuperar para níveis pré crise. Isto antes de se falar de uma recuperação genuína e de se estabelecer o caminho para a redução de estímulos”, denunciam.
Lucros das empresas vivem boa fase
Da J.P. Morgan AM avisam que “ainda que a expansão económica norte-americana tenha sido lenta, foi a ideal para os lucros das empresas e para que essas mesmas empresas norte-americanas voltassem à rentabilidade de outrora”. Da entidade norte-americana realçam que o crescimento do lucro por ação – de 11,4% face ao mesmo trimestre de 2013, que também marcou um record - se explica em grande parte por causa da ampliação das margens (5,3%), uma tendência que, na opinião de Anthony M. Wile, se poderá estar a esgotar, depois de terem havido mexidas nos resultados durante vários anos. Ainda assim, para Wile, “não é provável que as margens sofram uma forte contração a curto prazo sem um aumento significativo dos custos laborais unitários que, segundo diversos parâmetros, ainda está longe de acontecer”.