Há muito dinheiro no capital privado? Risco e iliquidez são a mesma coisa? São estes alguns dos temas que explica Eric Deram, fundador da Flexstone Partners, entidade especializada em fornecer soluções em mercados privados.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Eric Deram é o fundador da Flexstone Partners, uma das filiais da Natixis Investment Managers, entidade especializada em fornecer soluções de private equity, real estate, private debt e infraestruturas, cujo volume de ativos chega aos 10 mil milhões de euros. Desses ativos, 67% correspondem a programas criados à medida do cliente.
Eric Deram dedicou toda a sua carreira ao mundo de private equity. Em 2005, fundou a Euro Private Equity que, mais tarde, viria a chamar-se Flexstone Partners e, desde 2013, faz parte da Natixis IM. Esta operação permite-nos ter “o melhor dos dois mundos”, explica Deram, já que “mantemos a abordagem de uma gestora independente, mas com os recursos de uma grande empresa em termos de risco, due diligence e capacidades de distribuição”, acrescenta.
Procura de gestores locais
Outro fator diferenciador fundamental da sua estratégia, segundo Deram, é serem “uma empresa de serviços, não de produtos”. No momento de desenvolver soluções de investimento, centram-se em gestoras locais que investem em empresas domésticas de pequeno e médio tamanho (entre 50 a 500 milhões). “Ajudamos as PME (pequenas e médias empresas) locais a crescer”, explica. Neste sentido, assinala que “há um mercado de investimento muito interessante na Península Ibérica”. É muito difícil encontrar empresas que estejam mais viradas para os serviços do que para os produtos e que continuem a investir no segmento inferior do mercado à escala mundial”, assinala. E que tenham, além disso, alcance global: “Temos escritórios em Nova Iorque, Genebra, Paris e Singapura”.
Com capacidades no segmento de private equity, infraestruturas e dívida privada, as suas últimas soluções têm-se centrado em coinvestimentos e nos mercados secundários. Atualmente, está a lançar um programa de private equity semilíquido evergreen que oferece janelas de liquidez trimestrais. Uma estratégia, como assinalam, diretamente relacionada com o processo de democratização dos mercados privados. E onde a implicação dos “reguladores e dos distintos profissionais da indústria, que devem fazer o maior esforço para assegurarem que todos possam investir nesta classe ativos”, tem muito peso, aponta. “E não é só em benefício dos bancos e dos gestores de fundos, é um benefício para as pessoas que têm necessidade de economizar dinheiro para a sua reforma”.
As dificuldades para aceder a estes mercados vão diminuindo. Neste sentido, a nova regulação do ELTIF (European Long Term Investment Fund) 2.0 supõe um passo importante, facilitando a operação e oferecendo uma certa liquidez aos investidores. “Isto é, claramente, algo muito interessante para os clientes particulares com o objetivo de diversificar e construir um plano de poupança a longo prazo”, explica.
Liquidez vs. Risco
Para Deram, nos mercados privados, “confunde-se risco e iliquidez”. No entanto, o facto de serem ilíquidos não implica necessariamente que sejam mais arriscados”. Dão como exemplo os seus próprios clientes, afirmando que nenhum teve retornos negativos em mercados privados. “Se se trabalhar de forma profissional e construir uma carteira diversificada, é difícil perder dinheiro em capital privado”.
Para além do que estes ativos em matéria de construção de carteira oferecem, há um elemento-chave que sustenta o investimento nos mesmos: “O mundo é privado”, assinala. “Independentemente de para onde se olha (EUA, Alemanha, França, Espanha, etc.), a maior parte das empresas, inclusive as maiores, são privadas. Restringir o acesso dos investidores às empresas cotadas é limitar as opções de investimento, é excluir “a maior parte da economia em todo o mundo”.
Foco nos riscos
Na sua visão da indústria, assinala que o principal risco, a nível global, é “uma comercialização incorreta dos produtos”. Ainda que haja possíveis novas estruturas que forneçam liquidez, “a tese de investimento do subjacente continua a ser ilíquida. Não podem vender estes produtos a clientes com um horizonte temporal de poucos meses ou mesmo de um ou dois anos”, adverte.
Por outro lado, “muitos dizem que há demasiado dinheiro no capital privado. E a minha resposta é que não. Acabámos de começar. A primeira conferência a que fui sobre private equity em meados dos anos 90 chamava-se: Há demasiado dinheiro no capital privado?. A indústria é, provavelmente, 50 vezes maior nos dias de hoje, e, ainda assim, acredito que estamos na superfície do seu potencial”.
Mercados secundários
Até há cerca de dois anos, o mercado era um “mercado de vendedores”, mas nos últimos 18 meses converteu-se num “mercado de compradores”, e continuará a sê-lo durante aproximadamente um ou dois anos. Há uma oportunidade interessante, segundo Deram. “Os investidores podem comprar ativos bastante bons com descontos de 20% sobre o valor líquido dos ativos”.
Vendo o mercado de private equity no seu conjunto, “a valorização baixou um pouco, mas, provavelmente, não o suficiente”. Assinala que há oportunidades, embora mantenham uma abordagem cautelosa, tanto na valorização como no uso da alavancagem. Ainda que o aumento das taxas de juro seja um problema, visto que encarece o financiamento, prefere ver o copo meio cheio por duas razões: a primeira, “porque acredito que os gestores de capital de risco são especialistas em dívida e sabem geri-la”; a segunda, “porque acredito que alcançámos um pico em termos de dívida, pelo que agora há mais visibilidade sobre os negócios”.
O foco na criação de valor deve estar mais no crescimento dos ativos “do que na arbitragem de múltiplos ou na alavancagem”.