Fed volta a suspender aumentos das taxas de juro: as reações das gestoras internacionais

Jerome Powell
Jerome Powell. Créditos: Cedida

A Reserva Federal manteve intocadas as taxas de juro na mais recente reunião, mas não fecha totalmente a porta a futuras subidas caso considere necessário. Foi o resultado aguardado pelo consenso do mercado, que esperava que a Fed se distanciasse do Banco Central Europeu, que na semana passada voltou a subir os juros.

Foi uma pausa sem compromisso futuro. “Powell enfatizou que o Comité está à espera para ser convencido de que a inflação está a cair consistentemente, referindo que precisam de ter a certeza de que estamos numa postura de ajuste adequado”, responde Salman Ahmed, responsável global de Alocação Macro e Estratégica de Ativos da Fidelity International. Isto coincide com a sua opinião de que o foco do Comité passa por insistir em “mais alto por mais tempo”, e corrobora a sua visão de que os obstáculos à mudança continuam a ser muito elevados.

É o cenário central que Tiffany Wilding, economista da PIMCO, também prevê. A política monetária restritiva será mantida por um período prolongado e vai desacelerar a atividade económica ao longo do tempo. “Estamos mais preocupados com a sustentabilidade a curto prazo da recente taxa de crescimento real do PIB de 2%. Embora uma aterragem suave seja certamente possível, ou seja, colocar a inflação de volta na meta sem causar uma recessão, acreditamos que a probabilidade de recessão é a mesma do que atirar uma moeda no ar”.

Novas projeções macroeconómicas

Na reunião de setembro, também atualizaram as suas projeções macroeconómicas que, para Christian Scherrmann, economista da DWS, sugerem que os banqueiros centrais vão continuar a acreditar numa aterragem suave, pois esperam um crescimento robusto e uma menor subida nas taxas de desemprego no futuro. A inflação, por sua vez, convergirá suavemente para a sua meta de 2% em algum momento de 2026.

“O presidente Powell reiterou que sempre acreditou que há um caminho para uma aterragem suave, e que o caminho parece ter-se alargado ultimamente”, interpreta Eric Winograd, economista-chefe da AllianceBernstein. E, na sua opinião, até agora, os novos dados mostraram que a inflação parou de crescer sem que o mercado de trabalho ou a economia enfraquecessem significativamente. A questão colocada por Winograd é se o bom resultado até agora deve ser extrapolado para o futuro. A Fed pode gerar uma convergência da inflação sem dor económica? “Não é impossível, mas o caminho parece-me mais estreito do que para a Fed”, defende.

Acreditar ou não na aterragem suave

Com estas novas projeções, alguns reavaliaram a sua tese para os próximos 12 meses. O aumento do crescimento previsto e a maior rigidez da inflação levaram Keith Wade, economista e estratega chefe da Schroders, a adiar as suas previsões para o primeiro corte de taxas da Fed, de dezembro deste ano para março do próximo. Agora espera que a Reserva Federal mantenha as taxas de juros em 5,50% durante o resto de 2023, antes de as reduzir progressivamente para 3,75%, até final de 2024.

Porque, como bem destaca Christian Scherrmann, o gráfico de pontos ainda aponta para uma nova subida de taxas este ano. E mais importante ainda, para 2024, esse mesmo gráfico aponta para metade do número anterior de cortes: dois cortes de taxas de 25 pontos base. “Isto serve realmente para sublinhar a mensagem de taxas mais elevadas durante mais tempo, o que deverá ser positivo para atingir o objetivo do FOMC de trazer a inflação de volta ao objetivo”, explica Charles Diebel, responsável de Obrigações da MIFL.

Dito isto, as projeções também vieram acompanhadas de um novo aviso de Powell de que a luta contra a inflação ainda não terminou. “As suas previsões não são fixas e o comunicado de imprensa deixa claro que os futuros movimentos irão depender dos dados e não serão pré-determinados”, recorda James McCann, economista-chefe adjunto da abrdn. “Provavelmente, a fasquia para saltar a última subida que esperamos em novembro caso o crescimento ou a inflação abrandem nos próximos meses”.