George Gatch (J.P. Morgan AM): “Os ETF vão provocar uma transformação na indústria financeira semelhante à dos fundos nos anos 70” 

George Gatch
George Gatch. Créditos: Cedida (J.P. Morgan AM)

Nas suas mais de três décadas de carreira profissional, George Gatch não se lembra de um momento de maior mudança na indústria da gestão de ativos. “Os ETF vão provocar uma transformação na indústria financeira semelhante à dos fundos de investimento nos anos 70”, prevê o CEO da J.P. Morgan AM.

O investidor está a mudar os seus hábitos de consumo: no ano passado, enquanto o dinheiro saiu de fundos de investimento, entrou em veículos ETF. E, o mais importante, 20% do dinheiro novo em ETF escolheu estratégias de gestão ativa em 2023. “Historicamente, a tendência em ETF tem sido a gestão passiva, mas isso está a mudar”, deteta. Estamos a entrar na Era do Investimento 2.0, como lhe chama.

ETF de gestão ativa: a grande aposta da J.P. Morgan AM

George Gatch falou à imprensa no seu último European Media Summit. No evento do ano passado, o CEO fez uma clara declaração de intenções: a J.P. Morgan AM pode ter chegado tarde à primeira vaga dos ETF, mas foi bastante clara ao afirmar que quer ser a vencedora do potencial dos ETF de gestão ativa. E em 2024, continuam focados no seu plano de crescimento.

No início do ano já contavam com 165.000 milhões de euros em ETF. O objetivo definido por George é alcançar um bilião de euros em ETF em cinco anos. Tendo em conta que no final de 2023 tinham 2,9 milhões de dólares no total, trata-se de um impulso significativo para o seu negócio. E neste crescimento que a gestora americana ambiciona, o principal impulso virá dos ETF de gestão ativa.

“Vamos poder oferecer aos investidores as nossas melhores capacidades e estratégias, mas agora em formato ETF”, conta. E uma das áreas onde vê mais potencial para os ETF ativos é nas obrigações. “Em obrigações, a maioria dos gestores ultrapassa o seu índice de referência, mas os ativos em ETF de obrigações são especialmente indexados”, comenta. Por isso, a J.P. Morgan AM está a fazer esforços significativos para potenciar a sua gama de ETF ativos de obrigações. Para o final de 2024, planeiam ter uma gama de 30 ETF de obrigações.

O investimento mais importante da J.P. Morgan AM

Outra das áreas onde a gestora está a concentrar os seus esforços é a tecnologia. O CEO define-a como o investimento mais importante que a gestora está a fazer a longo prazo. A J.P. Morgan AM investe 500 milhões de dólares por ano em tecnologia, e tem uma equipa de 1.500 engenheiros dedicada unicamente ao desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para o negócio de gestão de ativos.

Para ele, o investimento em tecnologia é uma prioridade por dois motivos. Por um lado, para otimizar os seus processos; por outro, para assegurar que os seus gestores, traders e analistas têm as ferramentas mais avançadas para maximizar o retorno gerado para os seus clientes. A gestora apoiou-se na plataforma da Open AI para criar a sua própria Inteligência Artificial generativa: SpectrumGPT

“Um investidor demora três horas a ler e a processar um relatório ou uma chamada com analistas. Com a quantidade de informação que existe, simplesmente não há horas suficientes por dia para poder processar tudo”, insiste Arezu Moghadam, responsável global de Data Science. Em poucos minutos, o SpectrumGPT é capaz de processar três meses de transcrições e selecionar a informação mais relevante para o gestor e o analista. “É um aumento drástico da produtividade”, insiste a especialista.

O SpectrumGPT também é capaz de usar as décadas de histórico de informação de mercado para fornecer ao gestor uma recomendação personalizada de ideias e oportunidades de investimento. “É como se fosse um Spotify a criar uma playlist personalizada”, explica. “Não queremos apenas antecipar-nos no futuro, mas sim criá-lo”, afirma. O investimento em tecnologia também os está a ajudar a otimizar custos. Em termos numéricos, no ano passado, a J.P. Morgan AM executou 7,6 biliões de dólares em transações. É uma subida de 17% no trading da gestora e, no entanto, os custos foram 11% mais baixos em comparação com o ano anterior.