Irá a Vanguard perder ativos na Europa por se retirar da iniciativa Net Zero Asset Managers?

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Créditos: Álvaro Serrano (Unsplash)

O investimento com critérios Ambientais, Sociais e de Governo corporativo (ESG) nos Estados Unidos transformou-se numa guerra partidária. Os democratas estão a favor. Os republicanos estão contra. Tal é o nível de confronto alcançado que as empresas americanas reconhecem à FundsPeople que a sustentabilidade não é abordada nas reuniões que mantêm com os seus clientes. “É contraproducente. Dependendo de com quem se está a conversar, há o risco do cliente se levantar da mesa”, reconhece.

A pressão política que estão a exercer, especialmente os republicanos, teve na semana passada uma importante consequência na indústria de gestão de ativos. A Vanguard saiu da iniciativa Net Zero Asset Managers. “Os republicanos pediram a mais gestoras que seguissem o exemplo da Vanguard e se distanciassem daquilo que eles denominam valores de esquerda baseados no ESG”, recorda Philip Kalus, CEO da Accelerando Associates. A pergunta agora é: como é que esta mudança irá afetar o sucesso da Vanguard na Europa? Perderá ativos? Irá impedi-la de ganhar novos negócios?

Kalus está absolutamente seguro de que a empresa americana terá muitas dificuldades em continuar a ganhar ativos de investidores europeus, particularmente de institucionais. “A pressão virá primeiro por parte dos fundos de pensões europeus. Também por parte de algumas contas com patrimónios muito elevados, sem subestimar a potencial oposição que poderá encontrar por parte de clientes wholesale”, explica o consultor.

A Vanguard perderá negócios? “Provavelmente alguns, mas não a níveis dramáticos, uma vez que a gestora nunca se vendeu e nunca foi vista como especialista em sustentabilidade”. Para Kalus, o importante, a partir de agora, é que a pressão que a Vanguard sofreu irá estender-se a outras grandes empresas de gestão de ativos.

O caso da BlackRock

“Tomemos o exemplo da BlackRock. A gestora enfrenta uma grande pressão e também resgates em estados dos EUA governados por republicanos. Embora a entidade tenha confirmado, na semana passada, que irá continuar como membro da iniciativa Net Zero Asset Managers, a entidade encontra-se cada vez mais pressionada por ambos os extremos do espetro político. Nova Iorque, por exemplo, bem como alguns planos de pensões europeus mencionam que estão preocupados com a (potencial) redução do compromisso da BlackRock com a sustentabilidade devido a este assunto. A BlackRock é um alvo natural, não só devido à sua grande dimensão, mas também devido à honestidade do seu fundador e diretor-executivo, Larry Fink, sobre as alterações climáticas e a sustentabilidade, o que lhe trouxe inimigos”.

Segundo o consultor, o panorama político cada vez mais dividido faz com que os gestores ativos globais enfrentem obstáculos que testam os seus princípios fundamentais, que têm o potencial de redefinir a perceção de liderança ao nível de ESG, distribuição e fluxos de fundos. “Têm que tomar decisões. Não podem agradar a todos”.

Citando Hortense Bioy, diretora de Análise de Sustentabilidade da Morningstar: “Por mais fácil que tenha sido para os estados republicanos boicotar as gestoras de ativos do seu compromisso com as emissões zero, podemos imaginar que será igualmente fácil para alguns investidores retirar os ativos das entidades que renunciem ao seu compromisso nesta matéria”.

Em consequência, Kalus considera que este problema oferece oportunidades a outras gestoras de ativos, em particular, especialistas europeus em ESG e impacto sem nenhuma distribuição nos EUA. “Espera-se uma reorganização séria dos fluxos dos fundos em 2023”, avisa o consultor.