Lourenço Vieira de Campos (Santander Totta): "A transição ESG é a maior oportunidade que perspetivamos em termos de investimento"

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Lourenço Vieira de Campos. Créditos: Vitor Duarte

O diretor de Private Banking do Santander em Portugal, Lourenço Vieira de Campos, em entrevista à FundsPeople, aponta as crescentes necessidades de diversificação das carteiras e o potencial que configura o investimento na transição ESG.

Como vê o atual contexto de taxas de juro e de mercado impactar o potencial de diversificação dos portefólios tradicionais?

O mundo caminha para um cenário de progressiva normalidade à medida que os indicadores de atividade continuam a melhorar. A eficácia das vacinas foi fundamental nesta recuperação, que começou com grande vigor na indústria transformadora e está agora em transição para o sector dos serviços. A recuperação tem sido muito robusta, o que aliado aos problemas logísticos de distribuição, está a causar uma pressão sem precedentes nas cadeias de abastecimento globais.

Os investidores têm usufruído dos retornos dos ativos de risco nos últimos 18 meses, mas a preocupação com os retornos dos ativos de menor risco mantém-se, com o aumento da inflação e com o abrandamento do ritmo do crescimento. Efetivamente a possibilidade de que o pico da inflação seja menos transitório do que se pensava inicialmente é uma realidade, e neste contexto, consideramos importante a necessidade de se remodelarem as carteiras de investimento, que se diversifiquem para além do mercado de obrigações tradicional e que passem a incluir um componente de gestão mais ativa. A escassez de rendimentos dos títulos cotados está a forçar os investidores a olharem para além das classes de ativos tradicionais e dos mercados cotados/organizados.

Em consequência deste cenário, os investidores estão a incorporar na sua alocação de ativos, classes de ativos menos liquidas, nomeadamente Dívida Privada e Private Equity. Temos assistido a um aumento dos fluxos nestas classes onde as oportunidades e retornos mantém-se a níveis interessantes. 

Que classes de ativos surgem como alternativa de diversificação?

Com valorizações expressivas nos últimos tempos nas classes de ativos tradicionais, correlações elevadas entre as várias classes, rendimentos de obrigações persistentemente baixos e com riscos assimétricos, ao que se deverão enfrentar nos próximos trimestres um ambiente de mudança por parte dos bancos centrais, os investidores têm e devem continuar a recorrer a alternativas.

Uma alternativa, é a implementação e diversificação de parte de uma carteira em mercados privados. Naturalmente, estes mercados requerem maior supervisão, com particular atenção ao perfil de liquidez dos investimentos, aos seus fluxos de caixa e um ritmo de investimento consistente com a estratégia de diversificação. Mas a oferta de alternativos está a crescer, não só em tamanho, mas também em termos de amplitude de estratégias, proporcionando aos investidores muitas opções para otimizarem as carteiras tradicionais. Por exemplo, no âmbito da dívida privada, há muitas subclasses, como empréstimos com garantias privilegiadas, empréstimos diretos, situações especiais, mezanines, bem como muitos subsectores de especialização, incluindo os mais comuns de dívida imobiliária e de infraestruturas, mas também leasing de equipamentos industriais, para citar apenas alguns exemplos.

Esta diversificação permite aos investidores otimizarem e diversificarem as suas carteiras por outras classes de ativos, mas também diversificação geográfica e, em muitos casos, com baixa correlação com os mercados organizados. Por estes fatores, os ativos alternativos têm vindo a ganhar espaço nos últimos anos, à medida que investidores procuram novas formas de obter retorno adequado ao risco assumido.

Como vê evoluir o tema da sustentabilidade e investimento com critérios ESG no vosso trabalho

Os investimentos sustentáveis deixaram de ser uma área de nicho e estão a tornar-se o mainstream. Os ativos em estratégias de investimento sustentável, são um dos segmentos de maior crescimento na indústria de gestão de patrimónios.

Por outro lado, há evidências crescentes de que o desempenho duma empresa em relação a fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) contribui para o sucesso do seu negócio. Os investimentos em ESG estão a ser cada vez mais vistos como uma pré-condição para a criação de valor a longo prazo. E esta procura parece prestes a acelerar, impulsionada por mudanças sociais e demográficas, por uma maior regulamentação e foco governamental, e maior convicção no investimento. Por exemplo, em 2021 entrou em vigor o Sustainable Finance Disclosure Regulation (SFDR) e este ano temos como parte integrante da MiFID II, de passar a incluir na avaliação de adequabilidade dos investidores finais, uma pergunta sobre suas preferências de sustentabilidade.

Para que os objetivos do Acordo Climático de Paris sejam alcançados, nomeadamente o de restringir o aumento das temperaturas médias globais abaixo de 2°C até 2050, implica que substituamos, à escala mundial, a base do tecido produtivo e serviços por tecnologias não poluentes. O risco climático é assim um risco de investimento e a janela cada vez menor para os governos de todo o mundo alcancem as metas de emissões líquidas zero. Significa que os investidores têm de começar já hoje, a adaptar as suas carteiras à nova realidade do amanhã. O papel do sector financeiro nesta transição é fundamental, canalizando o capital dos investidores para as empresas que realizam uma transição sustentável bem sucedida e para as economias mais comprometidas com a mesma.

O Santander tem esta necessidade e preocupação incorporada no seu ADN, procurando diariamente identificar as melhores alternativas que respondam à ampla gama de estratégias ESG, permitindo que os nossos private bankers as incorporem de forma incremental nos portfólios dos investidores e respondam às solicitações dos clientes. Terminaria referindo que a transição ESG, não apenas é verde mas também social. É a maior oportunidade que perspetivamos em termos de investimento e é o tema para a próxima década.