Crédito com investment grade dos EUA: a qualidade agora vem com retornos?

Romualdo Trancho. Créditos: Cedida (Allianz GI)

TRIBUNA de Romualdo Trancho, diretor de Desenvolvimento de Negócio para Portugal da AllianzGI. Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors.

Com as yields a subirem materialmente em linha com taxas de juros mais altas, os mercados de alta qualidade, como as obrigações corporativas de investment grade (IG) nos EUA, podem oferecer retornos atrativos. Esta classe de ativos também proporciona uma baixa correlação com outros ativos de risco e alguma proteção face às quedas.

Ao longo de mais de uma década de baixas taxas de juro, equilibrar a proteção principal com a necessidade de gerar rendimento suficiente foi um desafio significativo. Com a subida pronunciada das taxas de juro, os segmentos obrigacionistas de maior classificação e menor risco, como os corporativos de grau de investimento nos EUA, agora oferecem rendimentos totais mais altos, o que significa que os investidores têm menos necessidade de sacrificar a qualidade do crédito em busca de retornos.

Uma alocação em obrigações corporativas de IG nos EUA também apresenta benefícios potenciais de diversificação, uma vez que o mercado tem mais do que o dobro do tamanho do seu equivalente europeu e difere em termos de composição e duração. As empresas de tecnologia, por exemplo, representam 10,1% do mercado dos EUA, contra apenas 3,17% na Europa. O mercado dos Estados Unidos também apresenta uma proporção muito maior de obrigações com prazos mais longos do que o seu congénere europeu, fazendo com que a sua duração média seja de 7,21 anos, contra 4,48 anos na Europa.

Porquê crédito investment grade dos EUA?

Para se qualificar como invesment grade uma empresa emissora deve receber uma classificação de crédito entre Aaa e Baa3 pela Moody's, ou entre AAA e BBB pela Standard & Poor's. A relativa estabilidade financeira destas empresas tem ajudado o segmento corporativo de IG dos EUA a gerar retornos positivos de longo prazo ao longo de múltiplos ciclos de crédito.

A dívida empresarial de IG dos EUA é um dos maiores e mais líquidos mercados do mundo, tendo triplicado de tamanho desde 2007, para se fixar nos 5,9 biliões de dólares em 31 de dezembro de 2022. Adicionalmente, tem hoje, possivelmente, o preço mais atrativo em mais de uma década, com as all-in yields a aumentar drasticamente em linha com os juros. Os ativos de maior qualidade e menor risco, como este tipo de obrigações, podem ajudar os investidores a atingir os seus requisitos de rendimento sem a necessidade de assumirem riscos de crédito excessivos em segmentos obrigacionistas de menor classificação.

Ainda que a amplitude do mercado e os rendimentos disponíveis possam parecer convincentes, estas obrigações possuem características que ajudam os investidores a proteger as suas carteiras das quedas. Em primeiro lugar, tem sido uma classe de ativos relativamente segura ao longo do tempo. Em segundo, tem demonstrado uma baixa correlação historicamente, tanto em relação às ações como aos títulos do Tesouro dos EUA, como ainda a segmentos mais arriscados do mercado obrigacionista, como dívida de emergentes, obrigações high-yield e empréstimos alavancados. Em terceiro, como ilustra o gráfico abaixo, apresenta uma garantia de proteção convincente face a quedas em períodos de pressão significativa nos mercados.

Analisando os retornos de mercado em períodos de crise ao longo dos últimos mais de 20 anos, o mercado corporativo de IG dos EUA superou os empréstimos bancários e ações dos EUA durante o crash dotcom, a crise financeira de 2008, a crise da dívida soberana europeia, a crise energética de 2015, o ciclo de aumento de juros da Reserva Federal dos EUA de 2018 e a pandemia da Covid-19. Talvez ainda mais surpreendente é que, durante estes períodos de crise e recuperação, estas obrigações têm assegurado um resultado melhor do que os títulos do Tesouro dos EUA – e são, tipicamente, um porto seguro durante períodos de volatilidade, quando os investidores procuram preservar o capital.

Com as perspetivas económicas ainda incertas, vemos as características potenciais de diversificação e proteção face a quedas desta classe de ativos como fatores positivos adicionais. Assim, na nossa perspetiva, as obrigações corporativas de IG dos EUA podem oferecer retornos fortes e de longo prazo ajustados ao risco, assim como diversificação nas carteiras de obrigações dos investidores.