Perspetivas para o mercado acionista: manter-se seletivo num contexto de taxas de juro elevadas

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Jeremiah Buckley. Créditos: Cedida (Janus Henderson Investors)

TRIBUNA de Jeremiah Buckley, gestor de carteiras, da Janus Henderson Investors. Comentário patrocinado pela Janus Henderson Investors.

Apesar dos ganhos do primeiro trimestre, os mercados estiveram voláteis e houve pouca dispersão, com o desempenho do S&P 500® a ser conduzido principalmente pela força de um pequeno grupo de ações de empresas tecnológicas de grande capitalização. A inflação evoluiu de forma mais moderada e o crescimento YoY do Consumer Price Index (CPI) abrandou ligeiramente de 6,4% em janeiro para 6,0% em fevereiro. Embora a Reserva Federal (Fed) tenha continuado a aumentar as taxas, com dois aumentos de 25 pontos base (pb) durante o trimestre, abrandou consideravelmente o ritmo de subidas e parece estar agora a aproximar-se do fim deste ciclo restritivo.

As subidas das taxas causam stress e volatilidade

Recentemente, assistimos ao impacto das políticas mais restritivas da Fed com a falência de dois bancos regionais, na sequência de preocupações relacionadas com o risco de duração em resultado do aumento das taxas de juro. Esta situação provocou um nervosismo acentuado em todo o sistema financeiro, justificando uma reação rápida por parte dos reguladores bancários e resultando num sell-off significativo no setor bancário. Para além das taxas mais elevadas, acreditamos que o aumento da regulamentação financeira, juntamente com condições de crédito mais restritivas poderão eventualmente ter um impacto económico negativo. É também provável que os níveis elevados de volatilidade se mantenham à medida que o efeito das taxas mais elevadas se faz sentir na economia.

Sinais contraditórios, mas sinais de progresso

A participação da mão de obra subiu ligeiramente; no entanto, o mercado de trabalho continua extremamente apertado, promovendo um crescimento salarial acima da média e suportando o fortalecimento do consumo. Embora um nível elevado de consumo seja benéfico para o crescimento económico, o crescimento dos salários, que tem se tem mostrado mais resiliente do que o esperado, tem mantido em alta a pressão sobre a inflação. Dito isto, acreditamos que a melhoria da produtividade da mão-de-obra vai compensar, em certa medida, a inflação salarial persistente.

O nível excessivo de inventários, particularmente nos bens de consumo, que avolumou à medida que as cadeias de abastecimento e os tempos de trânsito melhoraram depois da pandemia, já diminuiu consideravelmente. Os preços das matérias-primas também recuaram de forma generalizada, tendo reduzido o custo de muitos dos principais fatores de produção. A reabertura da China, de outras partes da Ásia e da Europa também será positivo, em especial para as empresas multinacionais com negócios mais globais.

Resultados das empresas em foco

Estes fatores - taxas de juro mais elevadas, inflação persistente, a escassez de mão de obra no mercado de trabalho e problemas nas cadeias de abastecimento – prolongaram-se por mais tempo em 2022 do que muitos esperavam, conferindo pressão sobre os resultados e as expectativas de lucros das empresas em 2022 e 2023. Ao longo de 2022, áreas como as viagens e os procedimentos médicos continuaram a sofrer perturbações durante a recuperação da pandemia. Acreditamos que existem oportunidades nestas e noutras áreas do mercado, à medida que assistimos à normalização do crescimento de resultados das empresas. Os múltiplos das ações parecem estar agora num intervalo razoável em relação às tendências de longo prazo, devido à divulgação de resultados mais modestos e à contração significativa dos múltiplos no ano passado.

Earnings per share (EPS) e price-to-earnings (P/E) do S&P 500

Fonte: Bloomberg, atualizado a 12 de abril de 2023.

Acreditamos que as melhorias recentes podem promover melhores resultados e mais lucros em algumas empresas específicas. Continuamos a observar um forte crescimento do cash-flow das empresas, alinhado com a capacidade de algumas empresas para subirem preços para compensar a inflação. Estes aumentos tendem a consolidar mesmo depois da pressão sobre os custos baixar, e algumas empresas acabam por tirar o devido proveito desta situação. Estamos confiantes de que, à medida que o mercado começa a descontar os lucros para 2024, os preços das ações, suportados historicamente pelo crescimento de longo prazo dos resultados das empresas, irão ajustar-se às expectativas criadas.

Manter-se seletivo

Embora estejamos conscientes dos riscos associados a um contexto de condições financeiras mais restritivas, continuamos construtivos para ações. Numa conjuntura em que as taxas de juro elevadas podem reduzir as expectativas de crescimento económico, acreditamos que é importante focar-nos em empresas que conseguem melhorias de produtividade e executam iniciativas de inovação.

Além disso, acreditamos que o foco em empresas que apresentam níveis de cash-flow consistentes e balanços saudáveis é ainda mais importante nesta altura, uma vez que as empresas com estas qualidades têm o potencial de expandir a sua quota de mercado apesar do abrandamento económico e não têm de contrair dívida num ambiente financeiro mais difícil para financiar o crescimento futuro.