Taxas de juro forward da Euribor em alta

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

Na sequência do meu artigo anterior, venho falar desta vez sobre um tema que perdeu relevância nos últimos (demasiados) anos: as teorias explicativas da estrutura temporal das taxas de juro (prémio de inflação, prémio de risco de crédito, prémio de liquidez, habitat preferido e teoria das expetativas) e o seu reflexo na evolução das taxas de juro forward da Euribor (e não só).

Durante anos e quem foi meu aluno sabe bem disso, nas disciplinas de financiamento da empresa no pós graduação de Controlo de Gestão e Finanças Empresariais do ISEG, especialmente em financiamento de curto prazo, quando chegávamos ao capítulo dos instrumentos de cobertura de risco de taxa de juro e dava a matéria referente às taxas de juro forward e aos contratos FRA (Forward Rate Agreement), disse repetidas vezes: quando o mercado monetário voltar à normalidade vivida antes da crise financeira, estes temas vão ganhar novamente grande relevância.

Durante anos, devido à intervenção dos bancos centrais que aumentaram os seus balanços muito significativamente (dizia-se na brincadeira que as impressoras de dinheiro trabalhavam 24 horas), as taxas de juro mantiveram-se em 0% ou mesmo em território negativo.

Esta situação criou maus hábitos, ou seja, demasiado endividamento. Particulares e empresas parece que começaram a achar que o enquadramento de reduzida inflação e de taxas de juro extremamente baixas tinha vindo para ficar a longo prazo. E a verdade é que andamos durante anos mais preocupados com a deflação do que com a inflação.

Mas de repente, surgiram fatores exógenos que não conseguimos controlar. Primeiro a pandemia Covid que entre muitas consequências negativas, veio parar ou fazer arrefecer a economia mundial e afetar o processo de produção e distribuição de bens e serviços.

Quando este processo tentava normalizar-se, aconteceu o início da guerra desencadeada pela Rússia que se tem arrastado e parece não vir a terminar a curto prazo. 

Assistimos a uma crise energética e tendo em atenção o peso e a influência deste setor na economia, a subida dos preços dos produtos energéticos desencadeou um aumento rápido da inflação.

Independentemente da reação tardia dos bancos centrais, pois a inflação já estava a subir antes de fevereiro de 2022, a questão que nos deve preocupar neste momento é até onde as taxas de juro vão subir nos EUA e na Europa e as suas implicações.

E, portanto, uma das melhoras formas de podermos antecipar as expetativas do mercado (uma das teorias explicativas da estrutura temporal das taxas de juro) é olharmos para as taxas de juro forward (a prazo).

Neste momento (24/10), por exemplo, a taxa de juro forward a três e a seis meses da Euribor a 6 meses é de 2,66% e 3,20%. Tal significa que neste momento, a expetativa do mercado é que a Euribor a seis meses esteja daqui a três e a seis meses mais elevada do que o valor atual (spot) que é de 2,11%.  A mesma situação se passa com a Euribor a três e a 12 meses.

O facto de hoje existir uma expetativa de subida da Euribor a seis meses, não quer dizer ou não garante que, daqui a três, a seis ou a 12 meses, este indexante vai estar nesses níveis. Poderá estar mais acima, igual ou mais abaixo. Temos é que monitorizar a sua evolução para perceber quais as expetativas do mercado relativamente à subida das taxas de juro em função da atividade económica e da inflação previstas. E para isso, é determinante olhar para as taxas de juro forward da Euribor.

A inclinação da curva das taxas de juro a m/l prazo também é outro fator importante na análise. Contudo, para as empresas portuguesas e para as famílias, o indexante Euribor é um referencial importante para as operações de financiamento do ciclo de exploração (curto prazo) no caso das empresas e do crédito à habitação no caso das famílias.

Com a subida das taxas de juro e com o previsto arrefecimento económico (que até poderá ser de recessão nos próximos meses), os earnings das empresas poderão ser revistos em baixa nos próximos tempos e o risco do mercado poderá aumentar, como tem acontecido este ano. 

Assim sendo, também teremos de monitorizar a evolução dos spreads de risco de crédito das empresas praticados pelos bancos e exigidos pelos investidores (corporate bonds).

Em conclusão, estas análises que perderam importância nos últimos anos (até final de 2021), voltaram a ter destaque nas finanças pessoais e empresariais.