Setor das infraestruturas desmarca-se das quedas

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Créditos: Diego Jimenez (Unsplash)

Sopram ventos favoráveis no setor das infraestruturas. Todas as principais economias desenvolvidas estão a apresentar os seus planos de transição energética e os problemas com as cadeias de abastecimento iniciaram uma onda de desglobalização. Após anos de subinvestimento, o desenvolvimento de infraestruturas tornou-se uma prioridade para os países. “A minha previsão é que o crescimento do setor das infraestruturas seja pelo menos o dobro do PIB global. Já o estamos a ver em nichos como as renováveis, que estão a crescer a uma taxa de 8-10% ao ano”, conta Nick Langley, gestor do Legg Mason Clearbridge Infrastructure Value Fund, da Franklin Templeton.

Parte deste boom é investimento atrasado, mas, na opinião do gestor, o caminho que espera o setor vai muito mais além. Principalmente, porque as políticas institucionais estão a liderar. A Europa, os Estados Unidos, todas as grandes economias estão a dar prioridade ao desenvolvimento de energias renováveis ou a melhorias nas suas redes de eletricidade. E o que é melhor do ponto de vista do investidor: “É que esta é uma tendência que ainda não se concretizou”, afirma Langley.

Por um lado, porque se trata de uma tendência estrutural e, por outro, devido à sua natureza defensiva, o setor das infraestruturas está a distanciar-se das quedas destas semanas. E, pelo menos no contexto atual, o fundo está a cumprir o seu papel de diversificação. O fundo, na sua classe euro, acumula uma rentabilidade de 2,5%. É um contraste acentuado com as quedas que estão a ser registadas no mesmo período os principais índices. O Eurostoxx 50 está perto de -10% e o S&P 500 de -7%.

A relação entre a inflação e as infraestruturas

Mas o investimento em infraestruturas também tem outro lado da moeda. O que Langley chama de inflação climática. Vejamos um exemplo. O sistema de esgotos de Nova Iorque teve de lidar com quase o dobro da capacidade durante o furacão Ida. Isto causou inundações, danos materiais e perdas humanas. “O Estado estima que terá de gastar 100 mil milhões de dólares para renovar o sistema.  Isso terá de vir dos impostos, que serão pagos pelos cidadãos, ou das faturas energéticas, que os cidadãos também pagam”, ressalta Langley.

Por isso, uma das qualidades que prevalecem na carteira do Legg Mason Clearbridge Infrastructure Value Fund é que as empresas têm a capacidade de transferir a inflação para os seus clientes. No caso das utilities, que pesavam quase 40% da carteira no final de fevereiro, esta medida de custos está incorporada nos seus contratos.

O segundo vento favorável para as infraestruturas que mencionámos foi a desglobalização. Isso virá necessariamente de mãos dadas com o investimento em estradas, portos e, sobretudo, transportes ferroviários. “O caminho-de-ferro está a tornar-se a opção mais sustentável para o transporte de bens e mercadorias”, conta o gestor. Assim, outra das grandes apostas do fundo está neste nicho, com nomes como a Pembina Pipeline.

Podemos dizer que estas duas tendências são as pernas sobre as quais o fundo gira amplamente. Até agora, este ano, mantiveram uma aposta equilibrada entre infraestruturas mais puras e utilities, mas agora Langley reconhece que estão mais inclinados para estas últimas. “Estamos preocupados com o facto de o crescimento começar a abrandar a partir do segundo semestre de 2022 e até podemos entrar em recessão em 2023, pelo que estamos a posicionar-nos para oferecer proteção contra possíveis quedas”, explica o gestor.

Filosofia do Legg Mason Clearbridge Infrastructure Value Fund

O Legg Mason Clearbridge Infrastructure Value Fund conta com Rating FundsPeople 2022. O fundo da Franklin Templeton procura oferecer uma rentabilidade de inflação do G7 + 5,5% em horizontes de cinco anos.

Um elemento diferenciatório da estratégia é a sua filosofia herdada da experiência da equipa de gestão em infraestruturas de mercados privados. Ou seja: visão de longo prazo e o foco nas avaliações. O portefólio é construído com uma visão agnóstica do índice de referência. Isto significa que o processo de investimento é mais bottom-up. A análise de retorno também pesa muito no processo, mas ajustada ao risco.

A grande diferença é que as infraestruturas cotadas são um mercado mais vasto. Comparado com os três biliões de dólares que movimentam as infraestruturas privadas, as cotadas são um mercado de sete biliões de dólares. “É um universo mais profundo para procurar oportunidades, há mais opções para diversificar”, conta Langley.