Victoria Higley (MFS IM): “Acreditamos que uma compreensão quantitativa dos números é muitas vezes mais importante do que os próprios números”

Victoria Higley
Victoria Higley. Créditos: Vítor Duarte

A gestora de portefólio de Ações Institucionais da MFS Investment Management, Victoria Higley, falou à FundsPeople sobre o processo de investimento e de construção da carteira do MFS Meridian Funds Global Intrinsic Value.

Por que faz sentido alocar a títulos de capital próprio com a abordagem do MFS Meridian Funds Global Intrinsic Value neste momento?

É uma alternativa aos tradicionais fundos value. Taxas de juro crescentes, yields mais baixas e maior incerteza quanto aos fluxos de caixa e às margens de lucro: o ambiente para empresas em todo o mundo é cada vez mais difícil. Encontrar valor duradouro é a ordem do dia. No entanto, nas finanças modernas geralmente investir em value é simplesmente investir em empresas com um rácio preço/lucros ou price to book baratos. Acreditamos que esta simplificação excessiva pode levar os investidores a um caminho perigoso. Por quê? Porque significa ignorar a durabilidade dos retornos e ignorar os riscos.

É por isso que a equipa do fundo prefere uma abordagem de valor intrínseco. O valor intrínseco consiste em ter uma compreensão abrangente de como os fluxos de caixa de uma empresa são gerados e utilizar essa compreensão para desenvolver uma conceção duradoura do valor de uma empresa. Ao compreender o que determina o sucesso ou fracasso de uma empresa, conseguimos desenvolver uma noção duradoura, fiável e estável dos seus fluxos de caixa e do seu valor a longo prazo. Isto significa que procuramos empresas com fortes franchises, marcas globais competitivas, modelos de negócio difíceis de reproduzir ou propriedade intelectual diferenciada. 

O que mais diferencia o processo de investimento e de construção da carteira do fundo em relação aos seus pares?

Na base da filosofia de investimento do fundo está a convicção de que nem todas os lucros são criados da mesma maneira. Acreditamos que uma compreensão quantitativa dos números é muitas vezes mais importante do que os próprios números

Investir em vez de especular: acreditamos que a maioria dos participantes no mercado especula sobre informação de curto prazo e reage de forma exagerada ao fluxo de notícias de curto prazo. Nós, por outro lado, avaliamos as oportunidades de investimento no contexto de um horizonte temporal de 10 anos.

Foco nos fluxos de caixa intrínsecos e não nos lucros: acreditamos que a maioria dos investidores define o valor a partir dos ganhos contabilísticos. Nós procuramos obter uma melhor noção do valor através da compreensão da forma como as empresas geram os fluxos de caixa.

Foco no downside risk em vez do upside potential: acreditamos que a maioria dos participantes do mercado dá demasiada importância ao upside potential em relação ao downside risk. O nosso objetivo é evitar ações com um downside risk substancial e apenas investir onde acreditamos que as valorizações mais do que compensam os riscos inerentes. 

Investigação fundamental diferenciada e quadro de avaliação: conhecimento profundo dos principais motores da vantagem competitiva sustentável e avaliação consistente e diferenciada das métricas de avaliação intrínseca. Focamo-nos no valor intrínseco com uma perspetiva de investimento a longo prazo, juntamente com uma abordagem paciente e contrarian, e uma gestão do downside risk.

Quais são as mudanças mais marcantes na carteira durante o último ano e como isso reflete as perspetivas de futuro da gestão?

Nos últimos anos, temos vindo a adicionar à carteira exposição a ativos reais (ouro, agregados, madeira). Apesar da adaptação do portefólio e de algumas alterações no posicionamento ao longo do último ano para aproveitar a novas oportunidades de investimento, mantemo-nos fiéis ao primeiro princípio da nossa abordagem: investir em negócios diferenciados e de elevada qualidade numa perspetiva a 10 anos.

Fizemos algumas mudanças nas participações da nossa carteira e encontramos oportunidades em diferentes áreas do mercado. Reduzimos a nossa exposição a ativos de longa duração, de qualidade e com múltiplos elevados nos setores dos bens básicos e da tecnologia da informação, que são mais suscetíveis ao aumento das taxas de juro e a pressões inflacionistas. De um modo geral, a carteira continua a ponderar ativos de duração mais longa e de elevada qualidade onde estamos confiantes quanto às perspetivas de cada empresa a longo e curto prazo.

Procuramos áreas com exposição a taxas de juro e com baixo risco de crédito/balanço. Por isso, compramos várias ações no setor financeiro. Reconhecemos os riscos dos bancos, mas também reconhecemos que as valorizações são mais baixas, que os rácios de capital foram reconstruídos e que as taxas de juro mais elevadas a longo prazo favorecem a rentabilidade. Fundamentalmente, estamos a ser extremamente seletivos quanto aos tipos de bancos que detemos e aos países em que operam. Idealmente, estamos à procura de bancos de retalho mais simples, com depósitos sticky de boa qualidade, alavancados pelas taxas de juro, em mercados que tenham sido estruturais.

Também continuamos a investigar e a explorar oportunidades para adicionar ao setor da energia, dada a importância do petróleo e do gás na transição energética a longo prazo. Reconhecemos que está em curso um ciclo de capital poderoso e plurianual nos combustíveis fósseis, exacerbando as taxas de declínio normais e, na nossa opinião, uma aversão do mercado em possuí-los.