A estratégia da PIMCO nos mercados privados: “Não procuramos competir com os bancos, mas sim trabalhar com eles”

Christian Stracke
Christian Stracke. Créditos: Cedida (PIMCO)

O gigante das obrigações aponta agora para os mercados não cotados. Como já comentávamos no passado mês de outubro, a PIMCO continua a apostar fortemente no seu negócio de ativos privados, particularmente no crédito privado e em áreas talvez mais exóticas das finanças especializadas. Desde empréstimos ao consumo e hipotecas até nichos mais pequenos, como a aviação ou os direitos de autores musicais, é uma evolução natural do seu negócio, como o define Christian Stracke, responsável global de Credit Research e presidente na PIMCO.

Tecnicamente, os ativos privados não são uma nova incursão para a PIMCO. A sua divisão de crédito alternativo e estratégias privadas foi lançada em 2007, mas, nos últimos anos, foi feito um esforço para potenciar esta área, e já conta com mais de 145.000 milhões de dólares em ativos alternativos (no final de setembro de 2023), geridos por mais de 125 profissionais especializados.

Centrados na sua área de expertise

O grosso do seu negócio encontra-se em empréstimos corporativos, mas, segundo conta à FundsPeople, atualmente, estão a potenciar o segmento de empréstimos não corporativos, onde há menos concorrência. Isto é, empréstimos a famílias e consumidores (como empréstimos para a compra de veículos ou para estudantes), bem como financiamentos de construção imobiliária.

O capital de risco não é uma prioridade neste momento, mas observam oportunidades em algumas áreas específicas, como o setor imobiliário e os centros de dados europeus. Em 2020, a PIMCO anunciou ter assumido a liderança e supervisão da Allianz Real Estate, tornando-a numa das maiores e mais diversificadas plataformas imobiliárias comerciais do mundo.

“Trata-se de jogar onde já temos força”, aponta o especialista. Apesar de o segmento de mercados privados ter assistido recentemente à entrada de muitos novos players, a PIMCO sente que tem um valor acrescentado para contribuir. Primeiro, pelo seu histórico. “Há 40 anos que investimos em dívida estruturada cotada, como ABS e MBS, e analisamos os seus subjacentes, pelo que já contamos com a infraestrutura, a tecnologia e os profissionais necessários para fazer uma análise profunda dos empréstimos privados”, explica.

E, em segundo lugar, têm a dimensão necessária. “A escala é uma vantagem neste negócio”, afirma. “Abre-nos mais portas e dá-nos mais facilidade e melhores condições, por exemplo, no financiamento e na retitularização de ativos”, acrescenta.

Uma lacuna a colmatar

A incursão da PIMCO nos mercados privados nasce do desejo de colmatar uma lacuna detetada pela gestora no financiamento do mercado de capitais. “Na última década, o modelo de negócio da banca foi submetido a uma profunda transformação”, conta. “Principalmente nos EUA, mas também na Europa”, acrescenta.

Muito resumidamente, parte do negócio dos bancos tem sido transformar os depósitos dos seus clientes (títulos de curto prazo) em empréstimos (títulos de longo prazo). “É um sistema que funciona… até deixar de o fazer”, recorda o especialista. Março de 2023 foi um lembrete perfeito dos riscos de desequilíbrios de liquidez que ainda podem ocorrer no sistema bancário.

Além disto, isto acontece num momento de menor procura por depósitos por parte dos próprios clientes. Pelo menos nos EUA. “Os aforradores estão a aperceber-se de que os monetários oferecem a mesma facilidade de liquidez, geralmente com maior rentabilidade e sem renunciar a qualidade do ativo subjacente”, conta.

Ambos os fenómenos provocaram uma contração do crédito bancário. “Observamos que há muitos bancos que já não financiam áreas não estratégicas”, afirma. E é precisamente devido a esta lacuna que a PIMCO vê oportunidades de gerar retornos atrativos para os seus clientes.

Parcerias com bancos e bancas privadas

“Mas não procuramos competir com os bancos, mas sim trabalhar com eles”, matiza. Assim, a gestora americana estabeleceu parcerias com entidades financeiras que originam os empréstimos que, depois, vendem à PIMCO para os seus veículos privados e ilíquidos, dirigidos principalmente a investidores institucionais. “Assim, deixa de haver esse desajuste crónico de liquidez”, aponta.

E no contexto de parcerias, a PIMCO também vê com clareza que a sua fórmula para o segmento wealth também se vai basear em acordos com entidades terceiras. “Não temos a nossa própria banca privada, e as bancas privadas não têm as equipas nem as infraestruturas necessárias para cobrir todo o mercado não cotado”, afirma.