A grande deserção: por que motivo as empresas estão a deixar a bolsa?

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Créditos: Charl Folscher (Unsplash)

Pouquíssimas empresas quiseram entrar na bolsa, e um fluxo constante foi saindo, principalmente após serem adquiridas. Nos EUA, começaram a negociar na bolsa uma média de 300 empresas anualmente entre 1980 e 1999. Desde então, apenas 129 entraram por ano. No Reino Unido, o número de novas ofertas públicas iniciais (IPO) diminuiu após a crise financeira e não aumentou significativamente desde então. O dinheiro angariado em IPO britânicas também seguiu uma tendência de queda constante.

No caso das empresas sediadas no Reino Unido, este declínio começou no início da década de 1990. Para as empresas estrangeiras, tem-se visto o mesmo movimento nos últimos dez anos. Mesmo aquelas que entraram na bolsa esperaram mais tempo antes de fazê-lo. A idade média de uma empresa americana no momento da sua IPO passou de oito anos nas duas décadas anteriores a 1999 para 11 anos desde então.

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Como revela Duncan Lamont, responsável de Research Estratégica da Schroders, o efeito líquido de tudo isso é que o mercado de ações agora oferece exposição a uma proporção cada vez menor do universo corporativo. “Por exemplo, menos de 15% das empresas americanas com receitas acima de 100 milhões de dólares negoceiam em bolsa. Os aforradores comuns são em grande parte privados da oportunidade de investir diretamente no resto”, explica.

Custos e problemas aumentam

Na sua opinião, há duas explicações principais. Em primeiro lugar, o custo e o incómodo de ser uma empresa cotada em bolsa aumentaram. De acordo com estudos recentes, a tamanho médio dos relatórios anuais das empresas britânicas aumentou 46% nos últimos cinco anos. No caso das empresas FTSE 100, são agora 147.000 palavras e 237 páginas. Esta tendência tem sido global e tem ocorrido também nos mercados mais leves ao nível da regulação, como o Alternative Investment Market (AIM) em Londres.

“O número médio de palavras nos resultados anuais de uma empresa do AIM é, compreensivelmente, muito inferior, 46.000. Mas o ritmo de aumento neste caso tem sido mais rápido. De facto, a taxa de crescimento foi ainda mais elevada do que entre as grandes empresas: 51% nos últimos cinco anos. A elaboração deste tipo de relatórios exige tempo e dinheiro”, afirma. Na sua opinião, outras questões que vão contra na relação custo-benefício são a perda de controlo, a transparência indesejada ou as perceções sobre a visão de curto prazo.

A alternativa do private equity

Para Lamont, a outra razão importante pela qual as empresas viraram as costas à entrada na bolsa é que existe outra fonte de financiamento mais acessível. Uma que carece de muitos desses inconvenientes percebidos: o private equity.

“O capital de risco cresceu de um mercado de 500-600 milhões de dólares no início dos anos 2000 para mais de 7,5 biliões de dólares em 2022. Com esse crescimento, o setor pode agora financiar empresas numa fase muito mais tardia do seu desenvolvimento do que antes”.

O especialista lembra que, quando a Google (agora Alphabet) entrou na bolsa, em 2004, só tinha angariado 25 milhões de dólares nos mercados privados. “Hoje, os grandes unicórnios podem arrecadar dezenas de biliões de dólares. Os investidores em ações hoje teriam a oportunidade de investir no Google numa fase tão inicial? É improvável”.

Mas as empresas não recorrem apenas ao capital de risco em troca de dinheiro. “Os investidores de capital de risco também têm um profundo conhecimento do setor e adotam uma abordagem muito mais prática para gerar valor. Tanto os investidores como as empresas estão à procura deles”, conclui.