Allspring: os mercados subestimam o impacto duradouro de um endurecimento de taxas sem precedentes

Eleições-chave, conflitos em curso e o impacto que o ritmo sem precedentes das subidas das taxas de juro mundiais estão a ter pouco a pouco na economia. Isto para não falar do impacto da Inteligência Artificial na atividade económica e da urgência em conter as alterações climáticas. Em resumo, os riscos potenciais para os investidores em 2024 são numerosos. “Ainda que exista um maior consenso em torno do resultado das eleições que irão decorrer no próximo ano no Reino Unido e na Índia, o voto nos EUA parece cada vez mais incerto, com Biden a perder apoio nas sondagens e Trump possivelmente a acabar, ou na prisão, ou na Casa Branca”, explicam Henrietta Pacquement e Alex Temple, gestores do fundo Allspring EUR Investment Grade Credit.

“Se Trump fosse reeleito, o mercado voltaria a analisar os tweets diários contra a China. Por isso, temos tentado limitar a nossa exposição a setores e emitentes com uma exposição significativa a este país, cuja economia também tem demonstrado sinais de debilidade”, assinalam os dois gestores.

Segundo os dois especialistas, os mercados acreditam que é provável que o ciclo de subidas de taxas termine em outubro. No entanto, os mercados não estão a avaliar adequadamente o impacto duradouro que poderá ter este endurecimento sem precedentes. “Com um crescimento estagnado e uma inflação mais persistente do que o esperado, os responsáveis políticos da zona euro enfrentam um difícil compromisso entre voltar a situar a inflação no objetivo e nas perspetivas de crescimento”, analisam. “No entanto, para o ano que vem, o BCE terá provavelmente de se centrar na redução do balanço, com o risco de o reinvestimento do PEPP (Pan-European Personal Pension Product) terminar antes do atualmente indicado pelo banco central”, acrescentam.

Oportunidades no investment grade europeu

Apesar da incerteza no horizonte, os gestores têm uma visão positiva do segmento de crédito europeu com investment grade, que, com a subida de taxas, oferece agora níveis de risco/rentabilidade que seriam impensáveis há uns anos.

O índice de obrigações corporativas europeias com investment grade (ICE BofA Euro Corporate Index) oferece agora uma yield de 4,3%. Para contextualizar, há que considerar que é superior à yield média do índice europeu de high yield (ICE BofA Euro Non-Financial High Yield Constrained Index) nos últimos 10 anos, que se situa em 4,2%”, assinalam os especialistas.

“Desagregando a yield das empresas com investment grade, obtém-se 1,5% de spread de crédito corporativo e cerca de 2,8% da rentabilidade livre de risco”, acrescentam. “Nestes níveis, os spreads de crédito oferecem um amortecedor contra uma recessão leve, e o rendimento livre de risco deverá atuar como cobertura adicional quando o BCE decidir que venceu a batalha contra a inflação e começar a baixar as taxas, ou se a economia piorar”, afirmam.

Entre os setores nos quais os gestores identificam valor encontram-se os bancos europeus, que estão a beneficiar da subida de taxas e da volatilidade dos mercados. “Como esta classe de ativos não era elegível para os programas de compra de obrigações corporativas (CSPP) do BCE, a mesma deverá obter melhores resultados, já que as empresas não financeiras elegíveis terão de se adaptar ao novo contexto”, explicam.

Também veem valor em emitentes imobiliários selecionados, que conseguiram beneficiar de arrendamentos vinculados à inflação e manter níveis de ocupação muito elevados. “Muitas destas empresas adotaram medidas favoráveis aos credores, como a supressão de dividendos e a captação de capital adicional, e também recorreram ao financiamento bancário em substituição dos mercados de capitais. Em comparação, o índice imobiliário com investment grade rende 5,3%”, afirmam.

A estratégia

O Allspring (Lux) Worldwide EUR Investment Grade, que conta com Rating FundsPeople 2023, é uma estratégia de retorno absoluto exclusivamente a longo prazo, que tem como objetivo maximizar as receitas de investimento ao mesmo tempo que preserva o capital. A rentabilidade superior é impulsionada pela seleção de títulos derivada da análise creditícia fundamental combinada com decisões ativas de alocação top-down dentro de um quadro de risco controlado. O fundo está classificado como Artigo 8.º em virtude da SFDR, e utiliza o quadro de avaliação ESG próprio da Allspring. Além disso, o fundo tem como objetivo um rácio de intensidade de carbono inferior ao do índice de referência.

“Acreditamos que nos distinguimos dos nossos homólogos pelo facto de os gestores e analistas de carteira de Credit Research estarem muito centrados no valor relativo, aplicando essa lente nas decisões que conduzem a oportunidades com alfa repetível ajustado ao risco. Não se trata apenas de eleger o emitente adequado, mas de eleger também o melhor ponto da curva, a divisa de emissão e a posição na estrutura de capital”, afirmam Pacquement e Temple. “A nossa experiência também nos distingue dos nossos concorrentes: somos uma equipa de gestores de carteiras com uma senioridade média de 17 anos na Allspring e 20 anos no setor, abrangendo vários ciclos de mercado. Até à data, temos um histórico de zero incumprimentos e uma grande capacidade de identificar estrelas emergentes e evitar anjos caídos”, explicam.

Atualização da carteira

O difícil cenário de mercado de 2023, que os gestores preveem manter-se no próximo ano, com a subida das taxas das obrigações e a inversão da curva de yields, levou os dois profissionais a centrarem-se em empresas blue-chip de alta qualidade que estejam bem posicionadas para resistir a estes ventos contrários. O fundo começou o ano com uma sobreponderação de mais de 10% a bancos, que foi rodando gradualmente até empresas não financeiras de alta qualidade à medida que os spreads ampliavam e o BCE começava a retirar-se do apoio aos mercados de crédito.

Não veem muito valor na extremidade mais longa da curva, pelo que preferem um posicionamento na parte central da mesma. O fundo tem uma exposição limitada a setores cíclicos que, historicamente, negociam com spreads estreitos, inclusive os setores químico e automóvel.

Ambos estão muito expostos à economia chinesa, que continua a demonstrar sinais de debilidade, com os fabricantes de produtos químicos básicos a sofrerem um efeito de escassez de produto, após ocorrer um excesso de oferta na Era da COVID, assinalam. “O setor automóvel, por sua vez, continua a beneficiar dos altos valores dos carros em segunda mão, e a escassez de oferta, a subida das taxas de juro e a crise do custo de vida deverão ser um vento contrário para o setor”, afirmam. Com o fim de um mercado dominado pelas compras dos bancos centrais, a seleção do crédito é cada vez mais importante, concluem.